Capítulo XXXXXXVI | Gun

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[Não revisado]

//AR•MA//de fogo 1 Instrumento que serve para atacar ou defender 2 que utiliza a força de um explosivo para o disparo.

C A P Í T U L O   XXXXXXVI

Um dos piores sentimentos era o medo, e ele era tudo o que eu não queria lhe transmitir. Eu me lembrava da primeira vez que havia visto ele em seu olhar, e mesmo sem saber o que eu senti, eu ainda tentei reverter isso. Mas nesse dia, porém, não conseguia pensar nos seus sentimentos, apenas no fracasso, nos problemas que não conseguia conter. Nós perigos que estava deixando a volta de você.

E eu tinha que resolver isso primeiro.

“ Torna-te aquilo que és.” Friedrich Nietzsche

Dois dias se passaram.

Dois dias em casa depois de um encontro com Harry, onde dizia que não podia ver-me e que eu deveria ficar em casa, pois as ruas estavam perigosas. Imaginei que Harry havia visto William por aí ou que estava a serviço e não queria mesmo que eu andasse por aí.

Minhas noites não foram tão tranquilas quanto nos últimos dias ao lado de Harry. Sem ele, acabei pensando demais e os sonhos na madrugada fria não foram os melhores. As luzes tiveram que ser acesas novamente, como antes, e tive que esperar minha mente acalmar para voltar a dormir.

Sonhei com Elizabeth Hemingway, minha mãe. Sonhei com a noite fria em que acordei no meio da escuridão ouvindo os gemidos dolorosos de uma de suas noites sofridas presa naquela cama. Suas dores pareciam chocar minhas costas, como uma grande rocha que eu carregava e nada podia fazer. Não havia medicamentos para suas dores. Ela tinha que esperar e ver seu sofrimento fazia-me sofrer junto. Lembro-me da sua última noite, onde as dores pareciam afunda-la e por longas horas ela teve de sofrer, mas minutos antes de ir, fez-me deitar ao seu lado em sua cama, fez-me ler um trecho de Hemingway até fechar seus olhos e descansar. E dessa vez, ela realmente descansou, sem mais dores, sem mais sofrimentos. Meu pai não estava lá, e embora nunca realmente esteve presente em nossas vidas, ela o amou até no fim dessa noite. No outro dia foi meu pai que não acreditou que ela havia ido-se.

Se meus sonhos fossem com seus últimos minutos enquanto respirava levemente ao meu lado na cama, com o livro sobre minha barriga e a voz calma a ler para ela, não seria um pesadelo, seria uma lembrança boa para reviver, uma vez que ela havia partido com descanso. Aquele foi um momento calmo, único, onde ela adormeceu ao meu lado para ir embora sem dor alguma.

Quando os pensamentos vêem átona, não consigo esvaziar minha cabeça e por isso minhas madrugadas assim se passavam com pesadelos de uma das noites mais sofridas dela. A escuridão era completa quando ela sofria e eu nada podia fazer, apenas chorar escondida por vê-la sofrer tanto, isso tudo aos meus nove anos. Lembro-me de esconder no armário ao ouvir seu sofrimento no outro cômodo, tapando meus ouvidos, fechando meus olhos, sentando-me ao chão. A enfermeira a ajudava em casa e meu pai estava sempre fora. Tudo o que eu consegui com isso foi o medo de ouvi-la sofrer naquela escuridão. Quando eu acordava com esses pesadelos, acender a luz e deixar acesa era uma maneira de não me sentir sozinha no pequeno armário com o peso do sofrimento de suas dores em minhas costas.

Ontem dormi com a luz acesa e isso ajudou um pouco.

Eu empilho os livros de Thomas de coloco dentro das caixas, enquanto Lizie dobra alguma das roupas do mais velho para colocar nas malas. Estávamos na casa do meu único amigo, ajudando-o a arrumar suas coisas para a mudança. Ele iria mandar hoje a tarde algumas coisas e partiria amanhã de manhã. Só de pensar que ele iria amanhã me senti um pouco triste, mas manti a felicidade que também sentia ao mesmo tempo ele.

The Butterfly Effect | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora