Prólogo

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O clima estava completamente gélido naquela tarde. Como toda época típica de inverno. O frio dos Estados Unidos não era um frio comum. Era um frio cortante que trazia consigo vento e neve. E Scott Daniels odiava aquele tempo.

Não tinha roupas o suficiente para lidar com ele. Não era um garoto de oito anos normal. Não era como os outros garotos de oito anos da escola. Scott agora os olhava partir, com seus pais que os buscavam na porta da escola. Eles entrariam no carro dos pais e iriam para suas casas quentes e aconchegantes. Suas mães os fariam chocolate quente e os garotos jogariam video game, comeriam guloseimas e mais tarde suas mães os aconchegariam em suas camas.

Scott os invejava.

Pois assim que chegasse em casa ele não receberia nada disso. Pelo contrário. A única coisa que receberia seriam mais marcas de surras e hematomas. Era o que colecionava ultimamente. Scott estava sentado no banco frio de cimento do parquinho ao lado da escola. Havia saído dela há um bom tempo. Ele sempre fazia isso, pois não queria ir para casa. Odiava sua casa. Ou quase casa. Morava em um trailer que já estava caindo aos pedaços. Mas se contentava com o lar. Era o único que tinha.

Vestia uma blusa fina de lã. Os outros garotos tiravam sarro pois Scott não tinha roupas de marca e ao menos um tênis para calçar. Seus pequenos dedos estavam roxos por causa do frio. Assim como seus lábios e o resto de seu corpo.

Scott não ligava.

Preferia ficar no frio do que ir para casa. Pois sabia que iria apanhar. De novo.

Apanhava sem razão. Sem motivo. Era apenas por culpa do pai bêbado e drogado que apanhava. Scott o odiava. Odiava ainda mais a mãe que protegia o pai. Que fazia tudo para ele. Menos para Scott.

O garoto se levantou e começou a andar pela calçada. Já fora avisado que se demorasse para chegar em casa apanharia dobrado. Nunca entendeu o porquê da regra, seus pais não se importavam com ele, então porque a ordem de chegar cedo em casa? Para satisfazer o desejo do pai em fazê-lo sofrer? Só podia ser. Era a única conclusão plausível que Scott encontrava.

Caminhou de cabeça baixa, tentando se conformar e perguntar a Deus porquê designara aquela vida à ele. Scott simplesmente não entendia.

A barriga roncou pela quinta vez naquele dia. Já faziam dois dias que não entrava nada pela sua boca, a não ser água. Scott parou e segurou a barriga, a sentindo doer. Voltou a caminhar. Mas antes que desse o segundo passo, foi bombardeado por ovos. Alguns garotos que estavam dentro do carro atiraram. Scott se virou para encará-los.

- Tá olhando o que seu pobretão? Olha só as roupas desse moleque! -riram.

- Você é nojento, Scott! Por quê não morre pobretão? - o carro partiu e os garotos foram embora.

Scott queria morrer. Desejava aquilo. E as cicatrizes em seus punhos deixavam isso bem claro. Mas então se lembrava de que iria crescer e que mudaria de vida. Tudo iria ser diferente. Ele buscaria a sua felicidade, mesmo que ela ainda estivesse longe.

Chegou na frente do trailer velho e respirou fundo antes de entrar. Já ouvia um barulho de copo ser quebrado e sabia que o inferno iria começar. Scott entrou e viu a mãe na beirada do fogão. Ela resmungava. Os olhos do garoto logo buscaram o pai. O medo já o consumia.

Logo, o pai apareceu, estava saindo do banheiro, e ao olhar para o lado seus olhos encontravam o garoto. Eles brilharam. O pai levou o dedo ao pulso e deu duas batidas.

- Está atrasado.

Scott não respondeu. Continuou estático.

- Me ouviu Scott? Você está atrasado!

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