O Cisne Negro e a Lua Azul

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Segunda-feira foi meu dia de glória no jornal. Minha matéria ficou absolutamente perfeita e a fotografia foi a cereja do bolo.  A informação de que a polícia trabalhava com a possibilidade de haver um assassino em série agindo na cidade tinha me caído como uma luva, era tudo que eu precisava.

Para mim era mais que óbvio que era um assassino do tipo, e ele aparentemente não matava mulheres, o que causou muito estranhamento. Geralmente as mulheres e as crianças eram os alvos favoritos dos assassinos em  série, por serem mais fracas. Havia também o fato de que ele não abusava sexualmente das vítimas.

No que se referia às vítimas, havia muitas diferenças físicas, mas os investigadores contavam com semelhança na maneira como foram mortos e o “brinde” deixado pelo assassino ou assassina.

Mas no geral, o que realmente me intrigava era o fato de o cadáver estar sempre fresco, como se a pessoa tivesse sido morta pouco tempo antes de ser encontrada. No entanto, não havia testemunhas que relatassem ter ouvido gritos. E não parava por aí. Como os cadáveres chegavam ao lugar sem que ninguém visse? No cinema, como era possível? Havia uma fila na entrada e todos os funcionários circulando pelo recinto, além disso, o shopping tinha câmeras e nenhuma flagrou a entrada do jovem, nem vivo, nem morto.
Claro que coloquei minhas observações no jornal. Afortunadamente aquela edição vendeu o triplo de exemplares em relação à  quantidade vendida no sábado. Desta vez ganhei mais que um adicional, para minha alegria o aumento no meu salário foi permanente.

Aquela foi sem dúvidas a melhor semana da minha vida até então. Fui tratada como uma estrela e desfrutei de cada segundo.

No sábado seguinte teríamos um anual e tradicional baile à fantasia. Nesse evento sempre anunciavam o funcionário destaque e lhe rendiam altas homenagens. Sim, senti que aquele era meu momento.

Naturalmente precisaria de duas coisas para comparecer ao baile. Uma bela fantasia e um bom acompanhante. Todo ano eu ia com Isac, mas naquele ano resolvi ir Miguel. Não o tinha escolhido apenas por sua beleza estonteante que causaria inveja em todas as mulheres, não, eu o escolhi porque estávamos nos conhecendo melhor e  eu descobrira que gostava muito dele, sendo assim, pensei que seria uma boa oportunidade de apresentá-lo para  meus colegas e meu ambiente de trabalho.

Tinha decidido como proceder.

Liguei para Isac e informei que naquele baile não poderíamos ir juntos. Implorei que não ficasse chateado e o convenci a ir com outra acompanhante.  Quando terminei a conversa com Isac desliguei a chamada e respirei fundo, em seguida liguei para Miguel que me atendeu com sua voz grave e macia.

Ele trabalhava em um novo romance, algo sobre assassinatos. Depois de falar sobre trivialidades tomei coragem e convidei-o para o baile. Para minha surpresa e alegria ele concordou com a idéia.

— Qual será sua fantasia? — Questionou o homem de voz macia que falava do outro lado da linha.

— Ainda estou pensando. — Respondi  — E a sua? Tem alguma idéia?

— Acho que irei como príncipe, afinal você é uma princesa. — Gracejou.

Foi ridículo, mesmo assim ri, daquela forma idiota que as pessoas apaixonadas riem. Não que eu estivesse apaixonada, aquela reação foi causada pela gentileza dele. Eu apreciava profundamente aquele comportamento.

— Você é um bobo... — A adolescente de treze anos que vivia em mim resolveu emergir.

— Ora, não sou um bobo, sou um cativo da senhorita. — Seu tom era brincalhão.

— Está preso? — Perguntei com voz inocente e olhei para o teto.

— A você. — Ele riu.

— Por quanto tempo? — Perguntei sem intenção de obter uma resposta, porque eu sabia que aquela pergunta não era tão inocente assim.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora