Meia noite. Isac e Nico estavam prontos para sair do apartamento.
Ambos nervosos, porque aquela chance seria a única. Cada qual tinha seus próprios demônios para administrar.
Nico ficou em dúvida se daria ou não uma arma para Isac. Resolveu que não era boa idéia. Se ela fosse usada, ele precisaria explicar o que um fugitivo fazia com uma arma que devia estar sob sua tutela.
Ambos tinham se esforçado muito para elaborar um plano que fosse pelo menos um pouco coerente. Juntaram o conhecimento que tinham acerca da estrutura do prédio e montaram um mapa aproximado do que seria a clínica e suas acomodações.
A apreensão de Isac crescia enquanto Nico trancava a porta de seu apartamento.
O jovem usava roupas emprestadas que ajudavam a esconder sua identidade, todas muito largas graças à sua magreza. O moletom não lhe caía nada bem, estava estranho, parecia suspeito, principalmente por causa do boné, mas não tinha plano melhor, então apenas aceitou.
Quando entraram no elevador, quase não ousou levantar a cabeça por alguns segundos para analisar seu reflexo. Estava estranho, feio. Uma barba rala começava a tomar o rosto.
Segundo Nico, os funcionários o confundiriam com um amante ou algum rolo encontrado na noite. Isac riu internamente. Seria preciso descer ao fundo do poço para ter um amante naquele estado.
Pouco mais cedo, Lianmar ligou para Nico e contou da chegada de Nia. Estava tudo bem com ela. A mãe falou sobre outros detalhes que Isac preferiu não ouvir. Preferiu se trancar no quarto e abafar a dor que sentira ao descobrir que Nia estava bem com Miguel. Na verdade se sentiu profundamente egoísta por isso, e sabia que realmente o era. Querer que Nia fosse infeliz no casamento apenas por gostar dela era puro egoísmo.
Um casal entrou no elevador e Isac se encolheu mais no canto. Se pudesse, teria enfiado a face no peito para que ninguém pudesse reconhecê-lo. Quando o elevador finalmente chegou ao térreo, Nico se sentiu aliviado. Só precisavam andar até o carro e estariam um pouco mais seguros.
O detetive deu alguns passos observando o ambiente. Tudo estava tranquilo. Aproveitou e acelerou o caminhar. Isac o seguia de perto, como uma sombra. Nico pensou em desistir, tudo aquilo era loucura, ainda estava em tempo, mas não foi capaz de dar meia volta e quebrar o acordo que fizeram.
O caminho até o carro estava deserto, e quando finalmente chegaram, Nico soltou um resmungo de alívio.
Isac como uma sombra ligeira, se esgueirou até o lado do passageiro e entrou antes mesmo que Nico pudesse ficar atônito com tamanha velocidade.
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Em outro canto da cidade, Nia e Miguel estavam tranquilos em um momento íntimo do qual apenas os casais mais apaixonados podem desfrutar. Era uma cena pós sexo quase etérea. Nia, nua e satisfeita, descansava sua cabeça sobre o peito de Miguel, que, de olhos fechados, pensava em como era sortudo por tê-la.
Imaginou como seriam seus filhos e netos, e todas as histórias que contariam para eles.
Levantou o braço deslizando as pontas dos dedos pelas costas nuas, pele macia de Nia. Afagou seu cabelo sedoso e sorriu ainda de olhos fechados. Queria decorar as sensações que ela lhe causava.
Sentiu quando a respiração de sua amada ficou mais suave sobre seu peito. Ela tinha dormido.
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Nico parou no semáforo a meio caminho da clínica. Estava cada vez mais nervoso. Não conseguia mais controlar a respiração. Os dedos tamborilavam no volante. Mentalmente amaldiçoou Isac por ser tão calado e imóvel. Sentia que o cúmplice estava tão nervoso quanto ele, mas se mantinha concentrado em qualquer coisa que não era a rua.
O sinal abriu e Nico ia acelerar o carro quando uma mão bateu em seu vidro. Ambos os homens se sobressaltaram. O que poderia ser? O detetive olhou no retrovisor e seu coração quase saiu pela boca. Se Deus existia, ele o estava amaldiçoando por suas atitudes. O rosto do delegado apareceu quase colado ao vidro.
Nico abriu a janela e deu um cumprimento rápido e seco. Isac se encolheu mais no banco, na esperança de que não fosse notado.
— Desce aí, fanfarrão. Vamos tomar uma. — O homem estava completamente bêbado.
— Não — Nico simulou uma tosse —, ainda não me sinto bem.
— E quem é o rapaz no banco do passageiro? — O delegado apontou com o queixo.
— Um amigo. — O detetive tentou embromar.
O delegado enfiou a mão pela janela para cumprimentar Isac. Quase morto de ansiedade, o rapaz apertou a mão do delegado e falou “boa noite” com a voz mais disfarçada que conseguiu emitir. Satisfeito, o homem da lei tirou seu braço de dentro do veículo.
— Não pode beber, mas pode trepar, hein safado!? — O delegado deu uma tapinha no ombro de Nico. — Aproveita, amanhã quero você na delegacia.
— Sim. — Nico respondeu enquanto o homem se afastava até um boteco próximo. — Essa foi por pouco.
Acelerou o carro e se afastou dali o mais rápido que pôde.
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A Rosa do Assassino [Concluído]
Mystery / ThrillerNia vivia sua tranquila vida como jornalista local de uma cidade pacata, mas seu grande sonho era escrever sobre um importante caso, um que arrebatasse a cidade, que causasse frisson e pânico. A jornalista desejava ascender às custas do caos que ape...