Plano de fuga

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Era tudo ou nada.

Meu corpo ainda estava fraco, mas uma verdade sobre a vida é que não importa o quão cansado você esteja; se houver esperança, haverá resistência. E eu ainda lutaria para viver. Eles quiseram matar a mim, mas tive a sorte de ser salvo. Além de tudo Djéfani dependia de mim para viver também. Eu prometi.

Dirigi devagar pelo estacionamento. O local era assustador durante a noite, havia árvores grandes nos dois lados da pequena pista que terminava em frente a um grande portão com cabine de vigia ao lado.

Aumentei a luz dos faróis para garantir que não me vissem ao longe e me preparei psicologicamente para efetivamente fugir. Pensei em Nia, como estaria? Um arrepio percorreu meu corpo como um aviso da intuição, como se Nia tivesse pedido socorro ou algo do tipo. Precisava descobrir mais sobre aquele estúpido marido dela e era necessário ter aliados, mas antes cumpriria minha promessa.

— Pensa Isac. — Falei para mim mesmo enquanto olhei de relance para o retrovisor.

Avistei o capanga loiro no local onde o carro estava antes. Péssimo. Meu coração acelerou mais, eu morreria se continuasse. Parei em frente ao portão. Um funcionário gordinho e careca o abriu devagar enquanto olhava para o carro. A luz do farol atrapalhava sua vista.
Para minha surpresa outro funcionário apareceu ao lado de minha janela na intenção de verificar quem eu era. O motivo de eu não tê-lo visto antes de me surpreender foi que ele passou por detrás do carro, e eu prestava atenção apenas no que estava à minha frente. O homem arregalou os olhos.

Olhei para o portão, já estava aberto o suficiente para que eu passasse com o automóvel. O segurança ao meu lado gritou para o outro do portão ao mesmo tempo em que acelerei. Passei pelo vão estreito em uma velocidade estupidamente alta e saí em uma ruela apertada demais. Não tinha a menor noção de onde iria.

Virei para a direita, para o outro lado estaria na contramão e não podia chamar atenção ao desobedecer a leis básicas do trânsito, ainda correr o risco de bater o carro e morrer. Segui por várias ruas enquanto observava as placas das casas.

Acabei por desembocar em outro bairro desconhecido, porém com ruas um pouco mais largas. A lógica era: quanto mais larga a rua, mais próximo do centro. Eu precisava chegar ao centro.

Continuei dirigindo com o carro um pouco mais acelerado do que as normas de trânsito permitiam naquele local. Para onde iria? Para a casa de Lianmar? Para minha própria casa?

Finalmente cheguei a um bairro que eu conhecia bem. Situei-me em uma rodovia que cortava a cidade. Ela estava quase vazia. Vantagem da madrugada. Acelerei o carro ainda mais enquanto planejava para onde ir.

Quando cheguei próximo ao centro, estacionei o carro, tranquei e joguei a chave em um bueiro. Corri por entre casas, estabelecimentos comerciais e prédios. As poucas pessoas que estavam na rua paravam para me observar e isso era ruim, eu estaria encrencado se me pegassem.

Cheguei à frente do prédio, único lugar onde eu poderia ir. Pulei a grade rumo à entrada dos funcionários e me esgueirei pelos corredores. Achei um local no qual ficavam os utensílios e os materiais para faxina. Peguei um rodo, um balde e andei até achar a recepção. Colei as costas na parede e observei a elegante sala à minha frente. Tinha uma moça lá. Em minhas condições, com as roupas naquele estado e o fedor do corpo, não seria possível nem mesmo seduzir, mas precisava descobrir o número do apartamento.

Minha salvação veio em forma de escaninhos para correspondência. Vi o número em um deles. Abandonei balde, rodo e andei até o elevador de serviço que ficava próximo dali. Tudo certo estava vazio, apertei o botão do andar e subi. Quando relaxei um pouco da tensão, senti o quanto meu corpo estava fraco e cansado, mas eu precisava persistir um pouco mais.

A porta do elevador se abriu.
Corri pelo corredor enquanto olhava o número nas portas. Encontrei o número que eu procurava no final do corredor. Bati forte na porta, ninguém respondeu. Bati mais forte.

E desmaiei.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora