Dia seguinte

971 122 1.7K
                                    

Alguém bateu na janela do meu carro e eu quase enfartei.

— Senhorita Petúnia, precisamos conversar. — Era Nico.

Foi um alívio ver um rosto conhecido, ainda assim eu sabia que estava em uma tremenda enrascada.

Coloquei os papéis no banco do passageiro e desci do carro.

— Sim, detetive. Posso ajudar? — Fiz minha expressão mais inocente.

— Pode. O quê você estava lendo? — Ambas as suas mãos seguravam as extremidades da cintura e levava no rosto a impaciência.

— Era uma receita de bolo. — Menti. — Fica excelente com café recém coado. Falando em café, sabia que o café mais caro do mundo é colhido nas fezes de um animal? Ele sofre fermen...

— Petúnia, não é uma brincadeira. — Cortou minha fala, nitidamente furioso. — Repito: o que a senhorita estava lendo?

Não consegui responder, apenas abaixei os olhos para o chão e me resignei.

Não havia escapatória, sabia que um dia meu esquema seria descoberto, mas pensei que o policial seria pego, não eu. E o que Nico fazia ali? Ele não trabalhava? E aquela multidão de pessoas que estava na delegacia pronta para o colhimento de testemunho?

— Pensei que estivesse no trabalho. — Falei baixo enquanto fazia bico.

Sim, isso era ridículo, eu agi de maneira infantil.

— E eu estou. Caso a senhorita não saiba, detetives investigam e é isso que estou fazendo aqui: investigando. — Nico apontava o indicador direito para o chão enquanto explicava como se eu não soubesse qual era sua função.

Não havia como remediar a situação, então peguei os papéis com os relatórios e entreguei a ele.

— Você poderia ir presa por isso. — Nico avisou.

Achei melhor não responder. Estava estupidamente furioso e eu era um pouco esperta para não desafiá-lo nessa situação.

— Quais eram seus objetivos  com essas informações?

— Escrever uma matéria. — Menti.

— Já conversamos sobre isso.

— Eu sei.

Foi assim que terminamos a conversa. Nico partiu com os relatórios, após me avisar que eu seria presa se fosse pega novamente naquele tipo de situação.

Eu devia beijar o chão que ele pisava. Tive consciência do quanto ele foi generoso por não me prender sob acusação de obstruir a justiça, afinal, quando eu divulgava informações acabava atrapalhando a investigação.

Então algo estranho aconteceu, sim, mais estranho que o comum. Uma mulher negra com o rosto tapado por uma máscara passou correndo por Nico e roubou os relatórios de sua mão. Ele correu atrás dela e eu os perdi de vista.

Como jornalista era mais que minha obrigação segui-los e escrever uma matéria sobre aquilo, mas como ser humano que acabou de ser repreendido por comprar documentos oficiais, era melhor que eu não me metesse.

♠♠♠♠

A mulher corria rápida, mas meu condicionamento físico sempre fora excelente. Eu corria muito mesmo usando salto quinze centímetros, imagine usando coturnos. Consegui alcançá-la em determinada parte do trajeto.
Lancei-me contra ela e a derrubei na calçada. Apliquei um golpe que imobilizou seu corpo. Revistei-a e encontrei apenas um par de binóculos e um documento CPF.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora