Não consegui segurar as lágrimas. Quão cruel era aquele homem tão prestigiado? Como pude ser tão idiota em acreditar na fachada que ele construiu para si?
Encerrei o vídeo e mirei os olhos em Djéfani. Ela estava em silêncio, respiração pesada e olhos fechados. Só Deus saberia quais lembranças ruins foram revividas por sua mente.
— Nico... — Djéfani chamou em um sussurro sofrido e agudo. — Onde está Isac?
— Na sala de espera. — Respondi.
— Gostaria de ver ele. — Pediu como se fosse a última coisa que faria em vida.
— Acho que não é uma boa idéia. — E não era.
— Por fav...— Ela parou antes de terminar a frase. Com muito esforço deslizou sua mão direita e colocou sobre a barriga. Senti agonia por ver aqueles tubos conectados à sua mão tão frágil e ossuda.
Djéfani soltou um gemido de dor. Levantei-me, peguei sua mão e a ergui com toda a delicadeza que consegui ter. Havia uma pequena mancha de sangue no cobertor.
Coloquei seu braço ao lado do corpo e ergui o cobertor.
Ela estava sangrando, outra vez.
— Meu Deus, você está sangrando! — Falei apavorado.
— Isac. — Ela chamou.
— Vou chamar a enfermeira. — Informei já andando rumo à porta.
— Isac. — Foi sua resposta.
Terminei de alcançar a porta e gritei sem parar pelo auxílio de uma enfermeira. Demorou até que alguma aparecesse.
E quando ela viu Djéfani sangrar... Não foi exatamente tranquilo. Em um piscar de olhos havia uma equipe no quarto, tentavam estancar o sangramento. E Djéfani gritava por Isac.
Que se danasse minha carreira.
♠♠♠♠
Nico entrou como um raio na sala de visitas. Não falou, apenas pegou minha mão e me puxou hospital adentro.
Meu coração acelerou. Algo grave estava acontecendo. Tentei arrancar alguma palavra de Nico, mas ele não falava. Já fora uma agonia esperar por notícias.
Era horrível me lembrar de Djéfani naquele estado. Eu odiava Schukrut e se algo pior ocorresse a Djéfani, eu caçaria a cabeça daquele maldito. Caçaria a cabeça dele até no inferno.
Nico me empurrou dentro de um quarto lotado de enfermeiras. Uma delas tentou me segurar, mas não deixei. Djéfani gritava meu nome, como se o mundo fosse acabar.
Peguei sua mão. Ela estava ensopada de sangue. Outra enfermeira tentou me tirar de lá, mas Nico a segurou.
— Isac, eu preciso dizer. — Sua fala foi interrompida por uma tosse feia e seca. Ela estava pálida, lábios ressecados, cabelos desgrenhados e havia sangue, muito sangue. — Isac, obrigada. Obrigada por se importar. Obrigada por voltar.
— Djéfani, não precisa agrade... — Tive a fala interrompida.
— Isac. Eu amo você. É a única pessoa que já amei e sou...
Ela fechou os olhos e respirou pesadamente. O quarto estava um caos, enfermeiras gritavam e tentavam me empurrar ou me puxar, mas eu não deixaria Djéfani. Eu não a deixaria antes de ouvir tudo que ela quisesse me dizer.
Uma mulher começou a gritar pela segurança, completamente histérica. Nico tentou conversar com ela, mas não conseguiu, ela gritou ainda mais alto.
— Eu não sei se é amor, mas acredito que seja. Sou grata. — Uma lágrima solitária abandonou a olheira escura do olho esquerdo. — E Isac... — ela deu outra longa pausa. Uma enfermeira me puxava desesperadamente. Nico cercava os seguranças que estavam na porta. — Quero uma lápide branca, com roseiras.
Djéfani sorriu.
Foi seu último sorriso porque seu coração parou de bater.
Para mim, naquele momento, tudo ficou silencioso.
Eu via o movimento caótico das pessoas a minha volta. Eu sentia as mãos que me tocavam, mas era como se eu estivesse em uma dimensão particular, assistindo enquanto tudo acontecia.
A enfermeira finalmente conseguiu me tirar de perto de Djéfani. Soltei a mão da mulher a quem eu devia minha vida e ela caiu pesadamente ao lado da cama.
Tentaram reanimá-la, mas a vida já tinha abandonado seu corpo.
Um dos seguranças me puxou para fora do quarto e me jogou no corredor. Nico estava lá, já de pé. Estendeu-me a mão e me ajudou a levantar.
Abraçou-me.
Eu estava chorando. Sim, eu não tinha me dado conta, mas eu estava chorando. Meu peito doía como se uma estaca estivesse fincada em meu coração.
Meus pensamentos atordoados.
“Eu vou caçar a cabeça dele.”
— Nico, me perdoa. — Avisei enquanto saía de seu abraço.
— Pelo que? — Perguntou atordoado.
Desferi um forte soco em seu rosto. Ele caiu. Roubei a chave do carro e corri.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Rosa do Assassino [Concluído]
Mystery / ThrillerNia vivia sua tranquila vida como jornalista local de uma cidade pacata, mas seu grande sonho era escrever sobre um importante caso, um que arrebatasse a cidade, que causasse frisson e pânico. A jornalista desejava ascender às custas do caos que ape...