Acordei com os primeiros raios do sol nascente entrando pelo vidro de uma janela. A cama de solteiro era macia e as paredes pintadas de cor cinza escuro. Confuso, me sentei na cama e tentei lembrar meus últimos segundos acordado. Olhei para a porta fechada, sim, eu batia na porta de Nico quando desmaiei.
Minhas roupas não eram as mesmas que eu vestia no dia anterior e meu corpo estava limpo. O que significava que ele havia me banhado e vestido outras roupas em mim. Isso, de certa maneira, me fazia sentir mais digno e acolhido.
Havia um par de pantufas ao lado da cama, tinham formato de porquinha cor rosa com manchinhas vermelhas nas bochechas. Era uma graça, mas um pouco deslocadas do meu gosto habitual. Ainda assim as calcei.
Levantei-me e arrumei a cama. Certifiquei-me de alinhar bem o edredom marrom com padrões quadriculados. Olhei pela janela e reconheci o padrão das casas, a minha própria não era longe dali.
Abri a porta e senti o aroma de café que inundava o ar. Segui para a esquerda, pois à direita havia apenas outras duas portas. Uma fechada, que com certeza era do quarto de Nico. E a outra, pouco aberta, deixava entrever a pia do banheiro.
Deparei-me com uma sala bem mobiliada e confortável, um pouco escura para os padrões de decoração comuns e em uma parede havia uma tela com a figura de um homem atraente. Segui até encontrar a cozinha. Não era grande, mas era confortável.
Nico estava de costas e terminava de coar o café. Diferente de mim, que usava camiseta branca e bermuda solta com um cordão na cintura, o detetive estava sem camiseta e com uma calça de tecido fluido.
Ele se virou com a garrafa térmica em mãos e deu um sobressalto. Não tinha percebido minha presença. Por alguns instantes seus olhos me avaliaram de cima à baixo e se detiveram nas pantufas.- Você deveria usar sempre. - Nico apontou para elas com o indicador.
Senti-me um pouco constrangido. E em seguida fiquei com medo, por motivos muito óbvios. De súbito tomei consciência de que havia fugido da maldita clínica psiquiátrica e talvez Nico já tivesse acionado aquela gente horrível para me levar preso outra vez. Senti mais pânico.
- Bom dia. - Minha voz ainda estava fraca.
Nico acenou para a cadeira que logo à minha frente. Havia uma mesa com quatro cadeiras bem no centro do cômodo. Puxei a cadeira e me sentei. Ele organizou a mesa com o café da manhã, nada muito elegante, mas com mais comida do que eu havia engolido nos últimos dias. Os pães ainda estavam mornos e com o cheiro de quando saem do forno.
- Coma, você está péssimo. - Nico se sentou também e iniciou um exrcício de passar requeijão cremoso nas duas metades de um pão partido ao meio.
- Obrigado. - Peguei um pão e faca para imitar seus gestos, mas não fui tão lento quanto ele.
Sentir o cheiro dos pães fez com que meu apetite se abrisse como um abismo.
No dia anterior eu não comera refeição alguma, portanto, comi como um selvagem mesmo com risco de vomitar tudo. Servi café em uma xícara e tomei o conteúdo em dois goles. Dois pães desapareceram de minhas mãos em questão de segundos, seguidos de um enorme pedaço de bolo.
Apesar da deselegância, Nico sequer olhou para mim. Ele apenas seguia lentamente com seu desjejum. Isso fez com que me sentisse um pouco melhor, mas ainda havia o medo de ser preso. Comecei a calcular maneiras de fugir caso alguém viesse, porém eu estava em um apartamento e a única saída era a porta da frente.
Eu não tinha muita certeza do motivo que me trouxera ali, além do instinto, claro. Era o lugar mais perigoso para estar e mesmo assim fui para a casa do detetive que me prendeu.
Meu coração quase saltou pela boca quando ouvi o interfone. Nico se levantou e atendeu, depois deu permissão para que alguém subisse ao apartamento.
Olhei para a porta. Teria tempo de fugir?
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Isac estava uma graça com aquele par de pantufas e parecia um anjo vestido em camiseta branca. Um anjo magro, desnutrido de rosto encovado. Ele nada perguntou, mas eu precisei banhá-lo antes de deitá-lo na cama. Pensei que ele poderia me odiar por aquilo, mas aparentemente não tinha preconceitos. Ou talvez tivesse, mas os guardasse bem. Sempre apostei na primeira opção.
Quando terminei de coar o café, me virei e deparei com sua expressão séria. Não esperava que ele estivesse ali. Achei melhor não conversar muito, não antes de ele comer, seu corpo estava quase que apenas pele e ossos - pude ver quando o despi. Fazia dó apenas de olhar. Havia inúmeras marcas de agressão em vários tons de roxo e em diferentes tamanhos. Lianmar poderia estar certa, aquele garoto foi agredido. Seria hipocrisia dizer que acreditei assim que vi as marcas. Não. Cheguei à conclusão quando vi uma no centro das costas. Seria impossível que ele fizesse aquilo consigo, principalmente preso em uma cela.
Tive também a consciência de que um interno com tendências de automutilação precisaria usar camisa de força e, aparentemente, Isac não usava. Ao menos não na foto. Se fora agredido, talvez aquele lugar fosse um inferno na terra, mas era difícil acreditar nisso, afinal Schukrut tinha muito renome, talvez seus funcionários fizessem sem que ele soubesse.
Era preciso descobrir como Isac fugiu da clínica e seus motivos, assim como precisava saber se era tudo real, afinal eu tinha um fugitivo em minhas mãos e ele cometera crimes reais como porte ilegal de arma de fogo. Isso ainda o condenaria a algum tempo de prisão.
Apesar de ser detetive, meu coração era um pouco "flexível", então de todas as saídas que eu tinha, entre entregar Isac ou escondê-lo, me decidi pelo segundo caminho. Não apenas isto. Aliaria-me à Lianmar para descobrir o que havia acontecido com o rapaz. Ela era esperta e soube que havia algo errado antes mesmo que eu pudesse supor. E Soares poderia conseguir um habeas corpus, era um advogado habilidoso.
Por tais motivos eu a chamara ao meu apartamento. Evitei falar os motivos, telefone não era algo confiável. Foi ela que fez meu interfone tocar àquela hora da manhã. Percebi que Isac ficou arredio quando me levantei e atendi, todavia ele não tinha saída outra que não fosse esperar. Eu não entendia seus motivos para estar em minha casa. De todos os lugares era o mais arriscado.
Poucos minutos depois Lianmar estava à minha porta e não sozinha. Juntos estavam o marido e Soares.
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Vi de relance o cabelo cacheado e por algum motivo eu sabia que era Isac. Descobriria o que ele fazia ali.
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Oi gente, usei aquele aplicativo da moda para fazer algo aproximado à aparência do Isac - quando estava saudável -, saiu um adolescente não muito parecido com ele. Haha
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A Rosa do Assassino [Concluído]
Mystery / ThrillerNia vivia sua tranquila vida como jornalista local de uma cidade pacata, mas seu grande sonho era escrever sobre um importante caso, um que arrebatasse a cidade, que causasse frisson e pânico. A jornalista desejava ascender às custas do caos que ape...