O Pedido

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Eu estava no centro de um grande alvo de madeira que ficava na área dos fundos da casa dos pais da mulher que eu pediria em casamento naquela noite, isso se eu saísse vivo, claro. Na verdade seria muito divertido. Era perceptível como Isac estava contente em ver Adamastor atirar facas em mim. Segundo Nia, eu não precisava me preocupar, mas não era necessário que ela me tranquilizasse. Eu não me preocupava.

Adamastor resolveu usar seu novo jogo de facas. Como elas nunca haviam sido testadas, o jogo ficaria mais emocionante.

Quando ele atirou a primeira na lateral de minha cabeça, Isac abriu um sorriso tão grande que seria capaz de iluminar toda a cidade. Ricardo vibrava tamanha excitação. Nia pousara uma mão sobre a boca, cenho franzido, preocupada.

O pai dela arremessou a segunda faca entre minhas pernas. Era claramente uma forma de intimidar, um homem fraco já teria gritado ou desmaiado.

Então Adamastor entregou uma faca para Isac. Eu não tinha noção de como era sua pontaria, mas a paixão por Nia poderia turvar-lhe a visão de maneira proposital fazendo com que me acertasse em alguma parte vital.

Ele jogou a primeira na lateral de minha cabeça, muito mais próxima que a de Adamastor. A segunda foi abaixo da axila em alinhamento com o coração e a terceira encostou-se a minha calça, bem no meio de minhas pernas.

— Muito bem garoto, você está cada dia melhor. — Adamastor parabenizou Isac. Era óbvio que gostava dele.

— Posso tentar? — Perguntei.

— Naturalmente, mas sem pessoas no alvo. — Meu sogro respondeu.

Havia no alvo o desenho de um boneco. Era uma orientação da posição na qual a pessoa deveria ficar. Eu poderia fazer aquilo com toda a tranquilidade, então fiz o mais rápido que podia.
Atirei a primeira no coração, a segunda na cabeça, a terceira na genitália, a quarta e a quinta nos joelhos.

Todos ficaram admirados, Adamastor até me aplaudiu.

— Bela pontaria! — Elogiou enquanto apertava minha mão.

— Obrigado, na verdade eu gostava de jogar dardos quando era criança. — Tentei sorrir o mais amigavelmente que conseguia.

— Muito bom, uma boa mira pode te salvar em momentos cruciais.

— Meu herói! — Nia comemorou enquanto enlaçava meu pescoço em um abraço apertado.

Abracei-a e ergui seu peso do chão para em seguida girá-la no ar.

Isac estava mudo e soturno. Era compreensível, afinal ele havia perdido uma de suas maiores vantagens, mesmo assim eu não gostaria que ele se sentisse mal.
No entanto, existem situações na vida nas quais não podemos exercer nossa solidariedade, mesmo que seja nossa extrema vontade. Ele estava no lugar errado, no dia errado, e a consequência disso seria ver-me pedir Nia em casamento. Eu não gostaria de apenas namorá-la, seria algo demorado e um pouco vazio, além do fato de eu não querer perder aquela mulher.

O restante do dia correu muito bem, meu futuro sogro passou horas me mostrando sua coleção de facas, contando a história delas e de como aprendeu a atirá-las. Minha parte favorita era a dos pretendentes de Nia que não resistiram à prova de fogo.

Eu dormiria no quarto de Ricardo. Eu gostava do irmão de Petúnia e não via problema na proximidade, mas me perguntei qual era a lógica deles levando em consideração que eu e Nia já estávamos praticamente morando juntos. Eu até mesmo já conhecia alguns hábitos dela quando estava tranquila, como sempre colocar o feijão por debaixo do arroz e antes de dormir beber água sempre da mesma jarra.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora