Epílogo

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*20 anos depois.*

Desci do carro e me vi refletido em uma vitrine próxima.

O traje formal completamente alinhado, sutilmente destacava minha boa forma. Meus cabelos negros com corte médio estavam penteados para trás, presos por algum tipo de cosmético que os seguraria no lugar até que a cerimônia terminasse. O contraste do preto do cabelo com a pele clara me tornava atraente. Sorri para o vidro e o reflexo devolveu a gentileza.

Galguei os degraus até a porta da igreja bem a tempo de vê-la chegar.

Assisti-a descer do carro, esplêndida, em um vestido de noiva que deixava os ombros à mostra. A renda que enfeitava o colo tinha o pé bordado com pequenas pedras brilhantes. No cabelo, um arranjo de petúnias enfeitava o penteado e segurava o véu no lugar.

Meu coração se encheu de orgulho, eu amava aquela mulher. Amava mais que todos e tudo. Ela era minha vida.

Não fiz questão de segurar o largo sorriso que insistia em enfeitar meu rosto. Como se tivesse sido atraída pela minha alegria, ela me olhou diretamente e sorriu.

Percebi que ela teria dificuldade para subir os degraus com todo aquele tecido à sua volta. Então desci as escadas e lhe dei o braço para que ela se firmasse.

Quando estava próximo a ela, parecia que era muito baixa, mas eu que era um homem alto.

— Está pronta? — Perguntei com a voz um pouco emocionada.

— Sim. Nunca estive tão pronta. — Eu conhecia bem aquele tom resoluto de quem lutou contra o mundo para estar ali.

Guiei-a pelas escadas até a porta da igreja.

Ela respirou fundo. Ergueu o buquê de colombianas vermelhas até a altura adequada, e fez um sinal para que eu prosseguisse.

Como não me movi; o incentivo veio em forma de palavras.

— Podemos ir, Miguel.

Abri a porta da igreja, e uma centena de convidados se levantou para nos ver entrar ao som de Eu sei que vou te Amar do Tom Jobim, música que escolhi pessoalmente.

“... Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
“O que esta tua ausência me causou...”

♠♠♠♠

Meu coração quase saiu pela boca. Ali estávamos, assistindo a noiva entrar ao som de Tom Jobim, música que Miguel escolheu pessoalmente.

Tínhamos sua bênção. E eu era grato por isso.

Miguel Djéfano Archangelo Tunísio Alves. O filho de Nia e Miguel, mas que eu considerava meu próprio filho.

Cada passo de Nia rumo ao altar me fazia lembrar o passado.

Depois de salvar Nia das garras de Juan, fomos obrigados a mantê-la na caverna. Por sorte ela ainda tinha algumas roupas para vestir.

Nico se embrenhou na mata para buscar socorro, enquanto eu fiquei junto a ela, para consolar e dar apoio. Petúnia estava extremamente frágil e chorava pelo bebê que até alguns minutos antes eu nem sonhava que poderia existir.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora