— Mais de cem pessoas? Não posso acreditar nisso. — O delegado falava ao telefone enquanto analisava uma mancha marrom que surgira na parede. — Como ele conseguiu sumir com tanta gente sem que alguém percebesse?
A pessoa no outro lado começou a responder, mas ele não conseguiu manter a atenção nos detalhes porque a secretária bateu na porta com uma urgência incomum, o que o obrigou a pedir desculpas e desligar.
— Entre. — Autorizou.
— Delegado, perdoe-me o incômodo, mas é urgente. — A mulher parecia um pouco trêmula. O que acontecia?
— O que pode ser tão urgente? — Resmungou.
— Irei chamá-lo. — Fechou a porta e saiu.
Chamar quem? Nem conseguiu perguntar antes que ela saísse. Seria o prefeito?
Não demorou até que dois representantes da Polícia Federal entrassem em sua sala. O primeiro era um homem já grisalho de aparência parruda, o segundo, um esguio jovem louro de lábios rosados demais. Ambos usavam o mesmo uniforme: camiseta, jeans e óculos modelo aviador. Se a Polícia Federal se dignou a deslocar até ali, é porque o assunto era terrivelmente sério.
— Bom dia, em que posso ajudá-los? — Perguntou o delegado que já sentia um calafrio de antecipação.
— Bom dia, delegado. — Disse o homem grisalho. — Serei direto: Três cadáveres em um navio.
O delegado olhou atônito para as lentes escuras dos óculos do homem que estava parado na frente de sua mesa.
— Se quer saber, não matei essas pessoas. — Disse com sarcasmo. — Nem temos praia por aqui.
O grisalho bufou.— Se já terminou com a fanfarronice, vamos conversar como adultos. — Era arrogante. Sujeito que não lhe descia pela garganta. Nem seu nome disse. — Ajax vai lhe mostrar algumas fotografias. Posso me sentar?
O delegado sentiu uma vontade imensa de gargalhar quando um rapaz louro se aproximou e colocou um envelope sobre sua mesa. Que mãe chamaria o filho de Ajax? Era um nome ridículo.— Claro. — Indicou a cadeira em frente a sua mesa.
— Então, delegado, existe uma semelhança entre os crimes do navio e alguns ocorridos aqui nos últimos tempos. — Limpou a garganta. — Muitas informações importantes foram divulgadas em um jornal local — era nítido o desprezo em sua voz, estava chamando-o de incompetente —, de modo que quase todos têm conhecimento do caso.
O delegado nem se deu ao trabalho de responder. Pegou o envelope sobre a mesa e o abriu. Quanto mais rápido despachasse aqueles encostos, mais rápido poderia lidar com o caso de Schukrut.
Fotografias de cadáveres. Na terceira que olhou, o delegado entendeu o que aquele homem arrogante queria dizer. Havia rosas colombianas junto aos mortos.
Aquilo significava mais dor de cabeça.
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— Nia, tem certeza que precisa levar essa coisa?
Miguel apontava para o quadro na parede onde eu tinha colocado minha matéria “premiada”. Ainda não me conformava pela injustiça que sofri. Olhar para aquele jornal emoldurado fazia com que me lembrasse do fracasso que foi a noite de premiação, mas também era uma prova de minha competência como jornalista.
— Sim. Vamos levar. — Respondi antes de enrugar a pele de minha testa. Não adiantava tentar debater comigo.
Aproveitei que minha mãe estava em casa e fomos para meu antigo apartamento pegar o que ficou por lá. Já tínhamos embalado quase tudo, logo o caminhão de mudanças chegaria. A tarefa de mudar minhas coisas era gratificante. Entrar em meu antigo apartamento me fez lembrar a mulher resoluta que eu era antes do fracasso que eu chamava de lua de mel.
E a árdua tarefa me distraiu dos acontecimentos daquela manhã.
Quando embalei um vaso, olhei para Miguel próximo à parede. De bermuda jeans e camiseta preta, sua aparência impecável e ao mesmo tempo um pecado. Senti uma enorme vontade de beijá-lo.Deixei o vaso no chão e o empurrei contra a parede, foi tão forte que fez a moldura do jornal cair no piso e se quebrar.
Miguel olhou a bagunça de uma forma estranha, sua expressão ficou séria.
Fiquei desconfortável e segui seu olhar até ver o que estava lá. Entre cacos de vidro e jornal... Uma colombiana amarela.
Minhas pernas fraquejaram.
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A Rosa do Assassino [Concluído]
Mystery / ThrillerNia vivia sua tranquila vida como jornalista local de uma cidade pacata, mas seu grande sonho era escrever sobre um importante caso, um que arrebatasse a cidade, que causasse frisson e pânico. A jornalista desejava ascender às custas do caos que ape...