Pós Cerimônia

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Mãos firmes e fortes seguraram meus ombros. Era Miguel, que assistira em silêncio todo o ocorrido.

— Você está bem? — Eu não podia vê-lo. Sua boca estava próxima ao meu ouvido.

Não, eu não estava bem. Nada estava bem. Meu maior amigo na vida foi preso, e, eu não sabia como reagir. Tudo que eu sentia era um tremendo vazio. E vontade de chorar. Era preciso me controlar, ser firme e terminar o casamento. Bloquear mentalmente a imagem de Isac, para que eu não perdesse minhas forças.

Virei-me para Miguel e olhei em seus olhos.

— Sim, estou bem.
Se ele fosse um pouco esperto saberia a verdade.

Não achava aquilo justo e minha maior vontade era correr para a clínica psiquiátrica e libertar Isac daquele engano. Porque era um engano.

— É melhor apressar o restante da comemoração. — Miguel era esperto.

Voltamos para o salão e fomos recebidos por uma  turba curiosa. Desculpei-me e disse que um bêbado tentou invadir a comemoração, mas o detetive. Nico o tinha levado para a delegacia, afinal, como padrinho, ele não poderia deixar aquilo acontecer.

A multidão se desfez, mas minha mãe, perspicaz, jamais acreditaria em uma história tão mal contada. Por isso ela olhou fundo nos meus olhos como quem inquire. Senti-me compelida a dizer a verdade.

— Isac foi preso. Levado para uma clínica psiquiátrica. — Confessei.

Tentei não pensar demais naquilo para não chorar.

— Como assim?! — Estava boquiaberta. — Não havia nada errado com aquele garoto até duas semanas atrás.

— Eu sei mamãe. Só que ele mesmo confessou estar me seguindo e ter porte ilegal de arma de fogo. Mãe... Não quero conversar sobre isso. Precisamos terminar os ritos. — Fui firme em minha colocação. Não haveria brechas para lamúrias. Não naquele momento. Minha mãe apenas assentiu com a cabeça.

Procurei o DJ e pedi que ele colocasse a valsa. O homem obedeceu de pronto.

Apesar de eu executar todas as ações com perfeição, estava inegavelmente distraída. Só conseguia pensar em Isac e no acontecido. Muitas vezes Miguel precisou solicitar minha atenção para curtos diálogos. Quando cortamos o bolo, tentei parecer feliz, sorri com o máximo de falsidade que eu conseguia. Meu marido me apoiava em todos os atos e decisões.

Assim que me vi livre das tradições, pedi que Miguel reunisse minha família e os padrinhos que ainda estavam presentes. Contei-lhes brevemente o que havia acontecido e pedi que terminassem a festa por mim. Eu iria até a clínica psiquiátrica e tentaria conversar com Isac para entender o que havia ocorrido.
Foi perda de tempo.

Quando cheguei à clínica havia dois policiais de guarda na porta. Não impediram nossa entrada, então presumi que estivessem ali para que ninguém saísse. No balcão da  recepção, perguntamos por Isac, mas a recepcionista disse que apenas alguém com grau de parentesco poderia vê-lo.

Fiquei desesperada. Óbvio. Isac não tinha pai ou mãe, nem mesmo irmãos. Era só, quem o ajudaria? Gritei com a moça e exigi permissão para visitá-lo, mas ela não cedeu. Nico, que ouviu o escândalo, surgiu por uma porta lateral. Aproximou-se com cautela, pegou minhas mãos e olhou em meus olhos.

— Petúnia, ninguém poderá vê-lo agora. Principalmente você. Sugiro que vá para sua lua de mel e tente vir aqui quando retornar. — Seus olhos transmitiam a preocupação que ele parecia sentir.

— Nico, ele não fez nada! Só queria me proteger. — Chorei.
O vazio se transformava em dor e sofrimento.

— Eu sei, querida. Eu sei. — Nico me abraçou, pois não tinha mais o que dizer. — Veja... Você ainda está vestida de noiva. Precisa se trocar e pegar o vôo.

— Não vou conseguir. — Meu choro já tinha evoluído para o grau do soluço, eu não conseguia mais parar.

Minhas pernas fraquejaram e quase não suportavam o peso de meu corpo.

— Sim, você vai. E quando voltar estará tudo bem. — Ele mentia e eu sabia. Se Isac ficasse ali, seria seriamente dopado. Se saísse, seria preso, pois como Nico disse, ele era suspeito de assassinato.

— De qual assassinato ele é suspeito? — Perguntei, mas Nico balançou a cabeça negativamente. Não queria dizer.

— Nia, é melhor deixar isso... — Miguel tentou me dissuadir.

— Não, eu quero saber. Se ele não disser, não iremos para nossa lua de mel. — Eu não iria, estava decidida a saber.

— Nia... — Nico ia dar alguma desculpa, mas eu o interrompi.

— Diga, Nico. Ou monto uma barraca na porta deste pulgueiro. — Fiz um gesto largo para mostrar a clínica.

— Suspeito que ele seja o serial killer. — Suspirou.

— Mas ela morreu. — Sim, eu até mesmo tinha feito uma matéria sobre aquilo.

— Ela era apenas uma comparsa. E não posso dizer mais que isso. — Nico me deixou olhando para o tempo.

— Vamos, Nia. Você prometeu. — Miguel me arrastou para fora da clínica.

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Queridos leitores, alguns recadinhos.
1. Deste ponto em diante a narrativa tende a ficar mais violenta. Teremos alguns assuntos que podem ser gatilhos, tais como, violência clínica, por exemplo. Já os deixo cientes.
2. Vamos entrar na segunda parte da história, uma espécie de segundo arco.
3. Se quiser: comente, vote e compartilhe.
Agradeço a todos vocês que lêem, comentam, votam e compartilham. Cada um de vocês é um floco de neve brilhante e especial.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora