Hospital

531 87 325
                                    

Lentamente Juan se esgueirou pelo corredor da nova casa de Miguel até chegar ao cômodo onde desejava estar. Pegou o celular de Miguel, que estava sobre a mesa da cozinha, e saiu da casa, tomando todo cuidado para não fazer barulho ao fechar a porta. Precisava ligar para seu ajudante e perguntar algo importante.

Quando já estava do lado de fora, praticamente na calçada da rua que passava na frente da casa, amaldiçoou em voz baixa por aquele lugar não ter um muro. Algum vizinho poderia vê-lo e contar para Nia e Miguel.

Soltou um bufo de impaciência e ligou para seu contato. O telefone do outro lado chamou até cair na caixa postal. Juan não desistiu, ligou novamente. Do outro lado da linha uma voz irritada pronunciou um “alô” que mais parecia um punhal afiado.

— Quero saber como estão minhas rosas. —  Foi direto. Assim julgara mais apropriado.

— Estou com problemas e você quer saber daquela porcaria de estufa?! — O homem estava realmente irritado.

— Sim, quero. Você sabe como é caro cuidar daquelas rosas. — O tom de Juan era calmo e estudado.

— Estão ótimas, se duvida veja com seus próprios olhos. Falando em olhos, como foi de viagem?

Juan pensou que era gentil da parte do homem ter se lembrado da viagem, uma pena que seu interesse fosse puramente “científico”.

— Foi excelente. Quais são seus problemas? — Ele não tinha interesse no que o homem tinha para dizer, então se sentiu ótimo quando o outro não desatou a contar todos os seus dias.

— Tenho uma notícia e uma pergunta. Primeiro a notícia: aquele garoto, Isac, de alguma forma ele escapou da clínica. —  Parou por alguns instantes para gritar ordens a alguém. — A pergunta é: o que faz acordado tão cedo?

— Não consegui me controlar, sei que ainda faltam duas horas para o sono de Miguel ficar profundo, não se preocupe, não farei nada que fuja ao nosso controle. — Quando terminou a frase, riu de uma maneira cruel e debochada.

Tinha um plano e em breve o executaria. Nia precisava pagar mais por ser uma vadia que mesmo casada despertava os sentimentos de outros homens.

— Tente não meter os pés pelas mãos. — A voz do outro lado avisou.

O homem do outro lado da linha desligou. Juan olhou para a tela com uma expressão divertida, aproveitou e verificou as horas. Faltava cerca de uma hora para que Miguel adormecesse profundamente. Enquanto isso não acontecia, se ocupou de fazer alguns arranjos para a diversão da noite.

♠♠♠♠

Nico levou Djéfani para um hospital que ficava do outro lado da cidade. Os problemas começaram quando deu entrada na emergência. Pediram-lhe algum documento da moça, mas ela não tinha. Sua única saída  foi ameaçar dizendo que era da polícia e que não seriam perdoados caso ela morresse por culpa da negligência da equipe. A ameaça surtiu efeito imediato, para a sorte dele, de Isac e de Djéfani.

Isac não aguentou a agonia de esperar no carro, então colocou a touca do moletom e procurou por Nico que estava na sala de espera. Tentou ser discreto e não chamar muita atenção. Sentou a quatro cadeiras de distância do detetive e sinalizou de forma quase indetectável para que não se comunicassem diretamente. De onde estava poderia ouvir as notícias, não seria preciso que Nico se comprometesse.

Isac estava tão agoniado que decorou cada centímetro da sala de espera. Cinco fileiras com cinco cadeiras cada, todas feitas em metal e plástico azul escuro. Piso de mármore acinzentado, como o balcão de recepção que era dividido por um grande vidro, como os caixas de uma agência “lotérica”. As paredes foram brancas algum dia, mas se tornaram encardidas com marcas de mãos de vários tamanhos e tons. Uma samambaia de folhas tristes e amareladas enfeitava um canto de parede, talvez a pobre planta não visse água há dias.

Havia um relógio em uma das paredes. Isac pôde acompanhar seus ponteiros que se moviam calmamente durante uma hora, vinte minutos e cinquenta segundos antes que um enfermeiro aparecesse e gritasse o nome de Djéfani.

Nico atendeu ao chamado. As notícias não eram boas. O médico ficara estupefato com a quantidade de sangue que ela tinha perdido. A mulher precisava de uma transfusão grande e isso não significava que ela viveria. Além daquilo, sua barriga tinha sido retalhada com uma navalha e as costas foram chicoteadas. O enfermeiro tinha uma expressão de espanto estampada no rosto. O último comentário foi que nunca tinha visto pessoalmente alguém que fora vítima de tamanha crueldade.

Quando ele partiu, de volta para suas obrigações, Nico saiu do hospital. Isac esperou alguns minutos e depois o seguiu.
Ambos se encontraram no carro de Nico.

O detetive olhava para frente através do vidro. Expressão séria com os olhos fixos na rua. Isac fechou a porta e ficou mudo por alguns instantes. Em sua mente, organizava a melhor forma de dizer tudo o que pensava sem descontar a raiva em Nico.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora