Minha mãe nos esperava no aeroporto. Senti grande alívio quando a vi, abraçada em meu pai. Aquela era a imagem de um casal que me inspirava.
Àquela altura eu tinha me esquecido completamente do pesadelo da madrugada, tudo já se equilibrara entre mim e Miguel.
— Filha! — Minha mãe acenou freneticamente. Eu já estava a pouca distância, então corri os últimos quatro passos.
O calor do abraço de minha mãe fez com que eu me sentisse protegida e especial. Era confortável e apertado.
— Que saudades. — Falou enquanto aspirava meu perfume.
— Mãe, três dias não é tempo para tanta saudade. — Segurei-a pelos ombros e mirei meus olhos nos seus. — Mas foi tempo para a senhora ficar ainda mais bonita.
— Como foi de viagem? — Perguntou como quem não quer saber muito.
Essa pergunta de minha mãe foi como um gatilho, que me fez lembrar toda a experiência tida do começo até o fim da viagem. Eu não contaria a ela os pesadelos horríveis que quase levaram minha sanidade. Principalmente quando Miguel pensara em uma boa saída para meus problemas. Não era necessário aborrecer meus pais.
Pedi bênção para meu pai antes de ele ir ajudar Miguel a pegar nossa bagagem. Minha mãe aproveitou a saída de meu pai e meu marido para fazer perguntas íntimas de cunho erótico. Logicamente fiquei encabulada e mal respondi duas. Ela desatou a rir e não parou, nem quando Miguel e meu pai chegaram com as malas em mãos.
No caminho até o carro conversamos coisas triviais. Informei que compramos algumas lembrancinhas na cidade portuária, para todos. Inclusive para Isac.
Foi quando questionei acerca de meu amigo. Já estávamos próximos ao carro. Um silêncio pesado se instaurou entre nós. Minha mãe olhou para as unhas como se pudesse ler nelas a resposta de minha pergunta. Meu coração começou a acelerar com aquele suspense inesperado. Pensei que Isac estava morto e minha mãe pensava a melhor maneira de me contar.
Foi com alívio que ouvi dela mãe uma resposta positiva. Ainda assim havia algo estranho. Quando disse que o visitaria, ela nada respondeu, apenas balançou a cabeça afirmativamente. Vi meu pai nos olhar de esguelha, algo muito suspeito vindo dele. Talvez fosse minha imaginação também. A lua de mel tinha surtido estranhos efeitos em mim. Confirmei isso quando larguei meu corpo sobre o banco de trás do carro, displicentemente encostada no de Miguel que me abraçava pelos ombros. Era cansaço, quase derrota.
Meu pai perguntou onde gostaríamos de ficar. Em algum dos apartamentos ou nossa nova casa. Escolhemos ir para a casa, talvez uma noite nela trouxesse bons agouros para o casamento.
Dormi o restante do caminho até lá.
Acordei com os leves cutucões que Miguel dava em minhas costelas.
Meu pai não se deu ao trabalho de descer do carro, apenas minha mãe. Miguel pegou as malas e se despediu de minha mãe. O observei virar as costas e seguir o breve caminho até a porta da casa. Fiz um lembrete mental, precisávamos de um muro ali.
— Sabe Nia — minha mãe, parada de frente para mim, chamou minha atenção —, acho que é bom eu ficar alguns dias com vocês. Para ajudar nas mudanças e na organização.
— Mas mãe, nós somos recém casados. — Olhei para o chão, constrangida por precisar sugerir que minha mãe não era bem vinda durante algum tempo.
— Eu sei, e vocês têm a vida toda pela frente, não precisa se preocupar com as transas perdidas. — Ela sorriu brevemente.
— Mãe! — Uma dose de sutileza seria bem vinda.
— Nia... Por favor. Logo você volta ao trabalho e eu quero ajudar. — Minha mãe suspirou enquanto olhava no fundo de meus olhos. Eu não seria capaz de dizer não.
— Tudo bem, mãe, mas a partir de amanhã. — Que tivéssemos ao menos uma noite para nós.
— Sim, amanhã chego antes do café da manhã. — Ela me deu um abraço esmagador e entrou no carro antes que eu pudesse reagir. Foram embora sem se despedir.
Olhei para nossa casa. Luzes acesas.
Nossa casa... Poucos meses antes eu não poderia imaginar que em breve estaria casada. E ali estava eu, olhando para meu novo lar.
Enfiei as mãos nos bolsos traseiros da calça e andei devagar até a entrada de minha nova vida.
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A Rosa do Assassino [Concluído]
Mystery / ThrillerNia vivia sua tranquila vida como jornalista local de uma cidade pacata, mas seu grande sonho era escrever sobre um importante caso, um que arrebatasse a cidade, que causasse frisson e pânico. A jornalista desejava ascender às custas do caos que ape...