Nia em alguns momentos chorava, em outros se acalmava e ficava olhando para o nada. Não conversou muito desde o ocorrido na clínica. Eu sabia que era uma situação difícil, então preferi a deixar absorver e sintetizar um pouco das informações.
Meu coração estava triste em ver que ela era a recém casada mais triste do mundo. Nia não sorria mais. Parecia um robô durante o restante da festa, onde ela apenas fingiu que sentia alguma alegria. Eu sabia disso e me doía profundamente. Eu sabia também que convidar Isac para o casamento não era uma boa idéia. Todos conheciam os sentimentos dele por ela, quem não tinha certeza, ao menos suspeitava.
Confesso que ouvi-lo gritar que a amava fez acender uma chama em mim. Algo que eu não sentia com frequência. Por mais compreensivo que eu fosse, Nia era minha e eu não a deixaria escapar pelos vãos de meus dedos. Possessão. Ciúmes. Era isso que eu sentia, e eu tinha razão. Ou não? Pelo menos achei que tinha.
Nosso voo até o litoral foi rápido. Cerca de uma hora. O cruzeiro duraria três dias. Esperava conseguir fazê-la feliz naqueles dias. Eu me dedicaria a essa missão.
Consumar o casamento também era importante.
Até então, eu e Nia não tínhamos transado nenhuma vez. O que era um milagre, considerando a atração forte que existia entre nós.
Ela andou pelo aeroporto como um híbrido de robô e zumbi. Cara de morta e gestos automáticos. Segui-a enquanto carregava nossas malas até o táxi que nos levou ao porto. Quando chegamos lá, seu comportamento ainda não tinha mudado.
— Não é lindo? — Contemplei a imensidão do mar que brilhava sob a luz solar.
— O quê? — Ela olhava para o próprio reflexo no visor do celular.
— O mar, Nia. — Como se fosse uma tarefa terrivelmente dispendiosa, ela levantou a cabeça e olhou para o mar.
— Maravilhoso. — Seu tom indicava que não era isso que ela pensava.
Ela não tinha achado maravilhoso, apenas disse aquilo porque não queria me decepcionar.
Eu precisava ser um bom estrategista, e bastante ardiloso, se quisesse os pensamentos de Nia voltados para mim, mas acima de tudo, se a quisesse feliz.
— Por que não liga para seus pais e pede que cuidem do caso? — Perguntei, ainda olhando para o mar.
Perdi-me no mar. Essa é minha última lembrança daquele contemplo.
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— Você acha que eu deveria? — Pela primeira vez, estive realmente presente na conversa.
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— Acho. Talvez eles possam ajudar. — Era uma grande mentira, eu gostaria que ele ficasse trancafiado ao menos dois meses. Pude suportar seu comportamento, mas dizer que amava Nia era demais, e ver que sua ausência a abalava, me deixava um pouco irritado.
Ela jogou os braços em meu pescoço, me enlaçou em um abraço apertado e depois me beijou.
— Você é o melhor esposo do mundo! — Estava empolgada.
Um ponto para mim. Eu conseguira pelo menos uma faísca de sua alegria costumeira. Ela discou o número da mãe e se afastou, não ouvi bem o que ela dizia, mas vi que gesticulava energicamente. Pouco tempo depois voltou com o semblante carregado.
— Não temos dinheiro para arcar com as despesas. — Confessou.
— Mas eu tenho, diga à sua mãe que disponho do quanto for preciso. — “Desde que não ultrapasse dez mil reais, seria muita folga”. Pensei.
Eu também não era obrigado a bancar ele.
— Minha mãe disse que já havia procurado um bom advogado e ele pediu seis mil reais. Quase de graça em relação aos honorários costumeiros. — Nia olhou em meus olhos pela primeira vez depois de horas.
— Tudo bem. — Consenti.
Ela sorriu e se agarrou em meu braço, provavelmente eu teria minha tão sonhada noite de núpcias. Não, eu e Nia ainda não havíamos transado e eu ansiava por aquele momento. Ah... Como eu ansiava... Impossível quantificar.
O cruzeiro era luxuoso, como esses que só vemos por fotos ou vídeos. Havia piscina, buffet, restaurante, shows ao vivo, atividades ao ar livre e outras coisas emocionantes e eletrizantes. E, claro, nossa cabine. Confortável quarto para casal, com uma cama macia e grande. Era possível ver o mar dali mesmo, Nia ficou encantada.
A viagem do cruzeiro durava mais que três dias, mas iríamos aportar em uma das paradas e voltar para casa. Fora combinado assim.
Eu e Nia olhamos o folheto de atividades e escolhemos o que faríamos. Levando em consideração que muitas aconteciam simultaneamente, não foi fácil escolher, mas ela achou que jantar no restaurante ao som de música ao vivo seria romântico. Não discordei, era importante que ela estivesse bem. Era importante que relaxasse.
Que fosse feita a vontade da rainha de meu coração.
Arrumamos-nos para a noite. Coloquei camisa e calça social e ela pôs um vestido verde que realçava o tom dos olhos. Ela estava linda, sempre estava. E também mais tranquila.
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A Rosa do Assassino [Concluído]
Mystery / ThrillerNia vivia sua tranquila vida como jornalista local de uma cidade pacata, mas seu grande sonho era escrever sobre um importante caso, um que arrebatasse a cidade, que causasse frisson e pânico. A jornalista desejava ascender às custas do caos que ape...