Trilha

451 102 255
                                    

A iluminação mudava e a visibilidade diminuía à medida que eu andava pela mata. Era difícil admitir, mas eu me perdera. O plano de achar um abrigo era ainda mais atraente, mas o de fugir durante a noite parecia loucura.

Meus membros, adormecidos pela atividade que exigia muito esforço, davam sinais de cãibra. Pior era saber que o castigo da dor me encontraria quando eu parasse de andar.

Olhei para o terreno em declive. Faltava muito para chegar a algum abrigo ou ao topo, mas o cheiro de terra úmida denunciava a existência de água em algum lugar nas proximidades. Isso era bom.

Respirei fundo e continuei minha via crucis.

♠♠♠♠

“Lembre-se de mim, irmão.”

“Lembre-se de mim, irmão.”

A frase se repetia em meus pensamentos como o repicar de um sino irritante.

Ninguém da vila tinha notícias de Nia. Tudo que puderam fazer por mim foi vender uma bússola e me ensinar uma regra universal: siga sempre para o norte. Um guia ofereceu seus serviços, mas eu não estava convencido de que era boa idéia encontrar Nia acompanhado de outra pessoa.

Minha cabeça latejava em uma dor infernal, como se fosse explodir a qualquer momento.

Encostei-me em uma árvore e bebi água.

Onde diabos se metera minha esposa?!

Inconsequente, carregando nosso bebê naquela mata fechada e cheia de perigos. Não bastasse todo o incômodo de me aventurar naquele lugar, ainda era preciso lidar com perguntas sem resposta. E a pior delas era: por que Nia me abandonara? A cereja do bolo, claro, era o conteúdo sem relevância daquele maldito bilhete. Que fora deixado em nossa casa dias antes.

Fui tolo em crer que uma mudança faria nossa vida melhorar.

“Lembre-se de mim, irmão.”

E se minha esposa fugiu para se casar com seu ex melhor amigo? Eles tinham uma conexão forte, afinal.

“Lembre-se de mim, irmão.”

Nia era uma vagabunda, uma maldita vadia que queria a qualquer um, menos a mim.

“Lembre-se de mim, irmão.”

Mas eu iria encontrar aquela vadia arrombada, mesmo que precisasse farejar seu rastro como um animal selvagem.

“Lembre-se de mim, irmão.”

Eu devia ter dopado aquela piranha com mais drogas. Maldito Miguel que não serviu para vigiar uma mulher.

— Espere por mim, my darling. Vou encontrar você, mesmo que seja no inferno.

♠♠♠♠

— Ih rapaz, é uma casa meio isolada no outro lado da ilha...

O homem continuou explicando sobre a casa de Nia e Miguel. Era um morador da vila que encontramos pelo caminho e a quem Nico pediu informações.

O caminho até a ilha não foi demorado. Quando pisei na fofa areia da praia, onde aportamos, senti o coração acelerar. O lugar era lindo, completamente paradisíaco. A areia limpa e branca parecia um lençol de seda estendido pelo litoral. A mata era verde e tinha vegetação variada com vários pontos coloridos. Folhas, flores, frutos e alguns pássaros multicoloridos. O vento fresco vindo do mar combinava perfeitamente com toda a beleza local.

O piloto nos guiou  até a vila. Um local charmoso com poucas casas. A maior parte delas não era grande, e quase todas foram pintadas em cores suaves e harmoniosas.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora