O caminho estava realmente muito escuro. Nico tentaria chegar aos fundos do interior da clínica para fotografar o que chamamos de “sala do abate”, mas antes ele passaria na sala de Schukrut e pegaria a pasta de Miguel.Teria uma única chance de executar cada parte do plano, levando em consideração que pelo caminho haveria capangas e esse tipo de pessoa não era conhecido por sua inteligência ou seu tato ao lidar com intrometidos.
Ele se separara de Isac havia alguns minutos. O jovem encontraria Djéfani e a levaria para o carro. Era melhor assim, Nico poderia enganar os capangas de Schukrut, mas se vissem Isac, ele seria automaticamente capturado e o detetive não poderia argumentar para que fosse solto.
Essa parte do plano fora esquematizada por Nico e ia além de não colocar Isac contra os capangas, também tinha considerado que o corpo do companheiro ainda estava fraco, e que ele mesmo não reconheceria Djéfani se a visse.
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Encontrava-me no escritório de Schukrut. Tudo estava escuro e silencioso e eu tinha muita sorte por não topar com algum funcionário da clínica. Já era a terceira vez que eu olhava a fileira indicada por Isac, mas a pasta de Miguel não estava lá.
Minuciosamente chequei as demais fileiras.
Como antes, não encontrei a pasta de Miguel. Decidi pegar uma pasta aleatória e a abri. Havia algumas fotografias perturbadoras e um relatório bastante amplo. Sem tempo para ler, enfiei a pasta entre a calça e o abdome. Repeti o gesto com a última pasta da fileira próxima ao chão.
Chequei mais uma vez o local indicado por Isac. Nada. Não estava lá.
Olhei para o relógio. Eu tinha mais vinte minutos. Lancei a luz da lanterna sobre a escrivaninha: nenhum sinal da pasta. Fiz algo mais ousado: calcei luvas de látex que estavam no bolso de meu moletom e abri as gavetas, vagarosamente, uma por uma, até que tivesse revistado todas. A maldita pasta não estava em nenhuma delas.
Também não a achei na lixeira, por isso usei meu último recurso e apalpei por debaixo do tampo da escrivaninha. Havia algo fixado lá, ajoelhei no chão e iluminei o local que antes meus dedos haviam tocado.
Lá estava a pasta com o nome de Miguel meio apagado, afixada com fita adesiva.
Coloquei a lanterna na boca e retirei a pasta do local. Fiz com ela o mesmo que havia feito com as demais e depois fechei o zíper do moletom. Estava um pouco estufado, mas passaria despercebido caso alguém me encontrasse, pelo menos no escuro.
Olhei para o relógio. Eu tinha mais quinze minutos.
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Assim que me separei de Nico fui procurar por Djéfani. Ao contrário de meu companheiro, que podia andar sem máscara por ser detetive, eu precisava usar a minha porque era um fugitivo. Se eu tivesse sorte talvez fosse confundido com os demais internos, do tipo com alguma crise delirante.
A lanterna estava no bolso do moletom. Havia luzes fracas nos quartos, graças à velas que foram colocadas sobre criados mudos para que os funcionários da enfermagem vigiassem os “pacientes”.
Procurei por Djéfani em todos os quartos que apareciam pelo corredor. Eu passava rápido na frente de cada porta e tentava abafar meus passos o máximo que conseguia. Meu comportamento era semelhante ao de um camundongo arteiro que não quisesse ser pego por roubar comida. Eu tinha toda a cautela para não ser visto, sequer chamava o nome dela, não queria os olhos dos enfermeiros voltados para mim.
Quando perdia as esperanças, eu a encontrei. Sozinha em um dos últimos quartos. Reconheci o cabelo espalhado sobre o travesseiro.
Entrei no cômodo e chamei seu nome em um tom baixo e calmo. Ela não reagiu. Tirei a máscara para que ficasse mais fácil me ouvir e reconhecer. Cheguei mais perto e repeti o processo de chamar pelo nome, ela apenas gemeu.
Voltei à porta e a fechei, eu precisaria falar mais alto e a porta abafaria a minha voz.
Aproximei-me novamente de Djéfani e chamei seu nome, minha voz estava em uma altura normal. Novamente ela apenas gemeu.
Havia algo errado.
Peguei a vela sobre o criado mudo e iluminei seu rosto vermelho e muito suado. Encostei a mão na testa da mulher, apenas para constatar que ela ardia em febre.
— Djéfani, sou eu, Isac. — Falei em seu ouvido, mesmo assim a reação não foi diferente de antes.
Eu precisaria carregá-la. Não poderia perder mais tempo. Olhei no relógio, eu tinha mais dez minutos. Tirei o cobertor que a cobria. Cobri sua boca com uma das mãos para abafar o grito de surpresa. Aproximei a vela para ter certeza do que via e fiquei completamente horrorizado.
Djéfani estava completamente ensanguentada.
Fiei rosto dela outra vez e concluí que não tinha tempo para analisar a situação com delicadeza.
Voltei a coberta para sobre o corpo de Djéfani.
Em movimentos velozes abri a porta do quarto.
Peguei Djéfani no colo e saí.
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A Rosa do Assassino [Concluído]
Mystery / ThrillerNia vivia sua tranquila vida como jornalista local de uma cidade pacata, mas seu grande sonho era escrever sobre um importante caso, um que arrebatasse a cidade, que causasse frisson e pânico. A jornalista desejava ascender às custas do caos que ape...