Preocupação

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Nia estava com medo, muito medo.

Faltava pouco para descermos no porto.

Sempre agradeci por todas as noites de sono pesado e abençoado, no entanto, naquele dia, foi preciso rever minha postura diante deste fato. Nia estava assustada e eu não tinha idéia do motivo. Nem mesmo sabia se ela tinha gritado durante o pesadelo e tudo aquilo me deixou frustrado. Senti-me de mãos atadas, sem poder ajudar de imediato.

Sabe como é ver a pessoa que você ama com medo de você? Com tanto medo que se encolhe em um canto de banheiro e abraça os próprios joelhos? Eu sei. Não consegui parar de pensar naquele momento. Algo estava muito errado com ela, talvez precisasse de um psicólogo.

Em outro dia, furtiva, Nia revistava uma mala vazia. Não compreendi o motivo. É o mal de ter uma mulher misteriosa. Finjo que não sei que ela estava á procura de William. Os vi juntos outro dia, em uma sala de café da manhã, uma funcionária do navio me passou a informação mais recente. Petúnia nunca me pareceu o tipo de mulher que trai, talvez quisesse apenas se despedir ou algo do tipo.

Nossas malas já estavam no convés. Nia vestiu uma roupa que realçava suas formas voluptuosas. Cabelo quase solto, não fosse por um bonito chapéu de palha clara com um lenço azul amarrado no entorno, muito elegante, fazia um bom conjunto com os óculos escuros com os quais ela tentara disfarçar a tristeza do olhar cansado. As lentes refletiam o mar. A boca, pintada com batom rosa claro, pronunciava respostas automáticas.

Abracei-a e beijei o topo de sua cabeça. Queria muito saber o que a afligia tanto. O porquê de aquele pesadelo ser tão terrível.
Ela havia esquecido até mesmo de Isac.

Não tínhamos notícias dele, mas eu esperava que não nos causasse problemas. Era um bom sujeito, mas eu não estava disposto a me separar de minha esposa. Não. Ela era minha.

— Veja, é o porto. — Apontei em direção às casas multicoloridas de aparência antiga que enfeitavam a rua do porto. Havia alguns comércios, mas a distância não permitia identificar a especialidade de cada um.

— Lindo. — Respondeu sem entusiasmo.

— Meu amor, é nosso último dia de viagem, logo você poderá ver sua família e quem você quiser. Talvez isso te ajude. — Não quis citar Isac diretamente, mas ela poderia vê-lo se quisesse, obviamente.

— Eu sei. — Sussurrou com o rosto colado em minha roupa.

— Não se preocupe, vai ficar bem, podemos fazer sessões de terapia com um psicólogo. — Oferecer diretamente era o melhor que eu podia fazer por ela.

— Como preferir, talvez funcione. — Ela não acreditava no que dizia. O tom de sua voz não me enganava.

Nia contemplou o porto e me abraçou mais forte.

— Eles têm um restaurante no qual comemos vendados, podemos ir lá? — Ela tirou os óculos e concentrou seu olhar em meu rosto.

— Claro, se isso te alegrar. Temos tempo antes do voo. — Sim, isso a alegrava, pois ela sorriu. Não da maneira enérgica de sempre, mas era melhor que a expressão anterior.

— Você é o melhor marido. — Ela ficou na ponta dos pés e me beijou.

— E sou todo seu. — Passei o dedo na pele macia de sua bochecha.

— Que sortuda sou. — Sorriu novamente.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora