Bye Bye, My Girl.

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A noite com Miguel foi agradável, como sempre era. Todo o tempo que eu passava com ele.

Descobrimos no navio a existência de uma pequena sala de projeção onde exibiam filmes clássicos para os tripulantes. Naquela noite o filme exibido foi “E o Vento Levou”. Se não fosse por outro casal e uma moça solitária, estaríamos a sós. O lugar era aconchegante, as poltronas, feitas de um material muito macio, eram largas e confortáveis. O local não tinha mais que vinte lugares. As paredes eram negras e a única iluminação vinha da tela. Recostei-me no ombro de Miguel, que estava absorto na trama.

Lembrei-me da última vez na qual fomos ao cinema. Foi quando encontramos aquele cadáver horrível. Senti uma súbita vontade de chorar. Parecia que algo estava errado desde quando tudo começou a ficar bem, era um paradoxo ridículo. E eu ainda não sabia os motivos do assassino para me perseguir, talvez ele quisesse ganhar notoriedade na mídia.

Imaginei como seria meu futuro ao lado de Miguel. Como seriam nossos filhos? Será que ele lançaria mais algum livro de sucesso? Viajaríamos para lugares exóticos? Sim, faríamos isso. E as próximas viagens seriam melhores, porque o problema de Isac estaria resolvido.

 Quando o filme terminou, voltamos para o quarto e nos preparamos para ir à um lual no convés. Improvisei uma roupa para a ocasião e Miguel optou por ir trajado apenas com bermuda de surfista. Um deus de beleza.

Tentei me divertir. Bebi, ri das piadas de algumas pessoas, dancei com  Miguel e sem ele, aparentemente estava tudo bem, mas não era verdade. Algo, nos confins de minha consciência, avisava que eu precisava me preocupar.

Quando voltamos para o quarto e Miguel foi ao banheiro se preparar para dormir, me deitei em posição fetal e chorei.

Era difícil porque eu não sabia o motivo de tamanha tristeza da minha parte. Quando Miguel saiu do banho acabou por me ver em prantos. Não fui capaz de esconder. Ele colocou minha cabeça sobre seu colo e me confortou.

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Eu não fazia a menor idéia das horas, nem do tempo, mas presumi que era madrugada, pois o silêncio do dia fora substituído por aqueles gritos horríveis que ouvi na noite anterior.

Senti medo.

Minha cela estava com a luz desligada, e seu interior, muito escuro. Não consegui dormir, me incomodava uma sensação estranha de estar sob vigia constante.

Ouvi as travas de minha porta sendo abertas. Uma luz vinda do corredor entrou na cela em forma de feixe. A fresta entre a porta e o batente se abriu mais e um homem surgiu. Usava máscara negra, e meus olhos, habituados ao escuro, não conseguiram  identificá-lo.

Eu estava sentado em um canto da cela, abraçado aos meus joelhos. Ele ligou uma lanterna e jogou a luz sobre meu rosto. Levantei a mão e tapei os olhos que ficaram instantaneamente cegos.

Quando desobstruí minha visão, tudo o que vi foi o desenho da dor. O homem, sem explicação alguma, esmurrou meu rosto. Surpreso e desprevenido, meu corpo foi lançado deitado ao chão. Tentei me levantar, mas o homem chutou minha barriga. Perdi todas as forças, ele me chutou outra vez.

Depois saiu como entrou, ligeiro e mudo.

Sem dignidade alguma, me rendi ao chão e chorei.

♠♠♠♠

Acordei na sala de projeção do navio. Tudo estava tomado pela penumbra. Ninguém por perto. Tentei me levantar, mas estava amarrada. Tentei gritar, no entanto a mordaça impediu.

Entrei em pânico, minha respiração ficou urgente, uma lágrima correu pelo lado direito de meu rosto. Ouvi um som estranho, olhei para os lados, mas nada vi. Algo começou a ser projetado na tela. Era uma mulher de lingerie amarela e provocante. Estava em um ambiente a meia luz.

Havia um homem vendado e sentado em uma cadeira.

A mulher se aproximou dele e iniciou uma série de movimentos sensuais. Em um deles ela arrancou a venda que cobria os olhos dele.

Meu peito queimou quando quis gritar, entretanto não consegui.

Era Miguel sentado na cadeira, mas não aquele Miguel que eu amava, era o outro. Ele sorriu de maneira sádica e a mulher continuou sua dança sensual. Pôs-se de costas para ele de forma que vi perfeitamente os seios desnudos.

A mulher congelou o movimento em uma expressão de pânico. Lágrimas saíram de seus olhos. Ela virou as costas para a câmera, uma faca estava cravada nelas. Miguel gargalhou, se levantou da cadeira, segurou o pescoço da mulher e começou a estrangular enquanto olhava para a câmera.

— Feliz despedida de solteira, my girl. — Ele olhou novamente para a mulher e a empurrou de costas de modo que ela caiu com seu peso sobre a faca.

O vídeo acabou. Chorei e tentei desesperadamente me desamarrar, não consegui.

As luzes foram acesas e Miguel apareceu ao meu lado. Segurava um lenço e sorria daquele jeito medonho.

— Bye bye, lovely. — Sorriu forma assustadora e colocou o lenço sobre meu nariz.

Fiquei tonta e desmaiei.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora