Beco sem saída

490 89 319
                                    

Faltava pouco tempo.

Segui o mapa que Isac fizera. Todas as portas da ala dos quartos comuns estavam abertas, exceto uma, no final do corredor. Os quartos estavam iluminados pela luz de velas. A verdade é que eu gostaria de ter investigado mais minuciosamente, mas não tinha tempo suficiente.

As pastas que eu tinha guardado junto à pele incomodavam a cada passo que dava, mas eu não podia tirar elas de dentro da roupa. Por que não levei uma mochila?

Quando cheguei à porta que separava os quartos comuns das celas trancadas, mudei completamente a postura. Deixei os ombros mais tensos e a coluna mais ereta, em uma maneira de impor respeito sem me encrencar muito.

Ninguém estava de guarda na porta. Girei a maçaneta e adentrei o cubículo que separava os dois corredores.

Ninguém presente.

Abri a porta seguinte. Adentrei e um corredor que estava mais escuro e sombrio que o anterior. Nenhuma luz de vela, nem mesmo das estrelas no céu lá fora. Lancei o feixe da lanterna em toda a extensão do corredor. Vazio.

Andei a passos leves e silenciosos procurando a antiga cela de Isac. Esperava que estivesse desocupada para eu procurar o tal papel escondido no vão entre o chão e a parede. Aquilo não fazia parte do plano, mas seria rápido.

Eu não tinha idéia de qual era a cela já que não estivera por lá, mas presumi que era a única com a porta aberta. Mal entrei no local e o odor já castigava meu olfato. Iluminei o chão apenas para confirmar que estava sujo. Aproximei-me da parede oposta à porta e vi sangue seco em alguns lugares. Peguei meu celular e tirei uma foto.

Depois iluminei o local onde presumi que ficava a saída de água na qual Isac havia colocado o papel com as informações sobre Miguel. Se havia um vão, ele não era visível. Ajoelhei-me para tentar enxergar melhor. O fedor de urina desmaiaria qualquer pessoa mais sensível.
Foi quando ouvi o som de vozes.

Por instinto, desliguei a lanterna e prendi a respiração. “Acho que vi uma luz aqui”, um homem disse. “Aposto que não, é impossível”, outro homem respondeu. Com todo cuidado liguei o gravador do celular e colei o microfone à parede. Não que eu tivesse medo, mas queria ouvir o que eles tinham a dizer quando não tinham consciência de que um detetive sondava tão perto.

“Rápido, precisamos levar esse antes que o gerador comece a funcionar.” Ouvi sons de uma porta sendo aberta e movimentação estranha. Alguém tentava dizer algo, mas sua voz estava abafada. “Não adianta resmungar, louquinho. É seu fim.”, alguém sentenciou. “Tudo pela ciência.”, uma voz, que soava alegre, determinou. “Seja bonzinho e Schukrut será rápido”, o homem soltou uma gargalhada maldosa. “Colabore, pois ele não está de bom humor já que o cliente de ontem fugiu”, esse tinha fala de alguém esperto.

Mais sons abafados.

“Vamos.”

“Espera, deixa eu olhar aqui.”

Dei-me conta de que ele olharia dentro da cela na qual eu estava. Encolhi-me o máximo que podia no canto do cômodo, precisava de um milagre para que o homem não me achasse. Meu coração quase saltou pela boca.

“Vamos logo. O chefe está de péssimo humor.”

Salvei-me por pouco.

Os homens se afastaram. Esgueirei-me até a porta e vi que eles usavam lanternas enquanto conduziam uma maca com rodinhas.

Esperei que passassem pela porta e os segui. Liguei a lanterna e coloquei alguns dedos na frente para ofuscar um pouco da luz.

A porta era maciça. Colei o ouvido a ela. Nenhum som vinha do outro lado. Olhei pela milimétrica fresta entre a porta e o chão. Não vi iluminação. Girei a maçaneta bem devagar e desliguei a lanterna quando vi que havia um vidro na porta seguinte. Uma fraca iluminação deixava o vidro amarelado. Andei a passos largos até a outra porta e colei o ouvido nela. Não era possível ouvir.

A fraca iluminação desapareceu. Seria possível que houvesse outra porta? Olhei pelo espaço debaixo da porta, como tinha feito antes. Nenhum sinal de luz ou de movimento. Enchi-me de coragem e a abri.

Nada aconteceu.

Liguei minha lanterna e tapei novamente para que apenas um nicho de luz me servisse. Iluminei todo o cômodo.

Nada. Absolutamente nada. Nenhuma porta ou janelas.

Nada.

Ridículo. Dois homens grandes e uma maca passaram por ali e foram para algum lugar, eu vira com meus próprios olhos.

Tirei a mão da lanterna e usei toda a sua luz, mas encontrei nada. Eu tinha certeza. Andei até a parede que estava na outra extremidade, colei os ouvidos a ela: Nenhum barulho.

Com a câmera do celular fotografei o cômodo e o anterior. Era possível que houvesse uma passagem secreta? A única explicação plausível.

Tudo que eu podia fazer era retornar. Foi o que fiz. E enquanto fotografava o corredor das celas, algo repentino aconteceu. Todas as luzes se acenderam de uma só vez, me tonteando com tanta luminosidade.

Comecei a ouvir gritos tenebrosos. Liguei o gravador do celular, gravei alguns segundos dos gritos e depois corri.

Precisava sair dali, o mais rápido possível.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora