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Senti-me menos ameaçado quando ouvi a voz de Lianmar, mas ainda não estava seguro. O que ela fazia ali no apartamento de Nico? Será que meu anfitrião havia feito um convite?

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Indiquei os sofás da sala para que as visitas se acomodassem. Eu já tinha perdido a fome que sentia e decidi que era melhor vestir uma camisa. Assuntos sérios pedem postura formal.

Isac ainda não tinha saído da cozinha quando voltei do quarto. Olhei para ele em um relance e percebi que ele não se movia. Presumi que ainda sentia medo de toda aquela situação. Um ponto positivo afinal, ele não era tão tolo quanto pareceu antes.

Sobre sair de minha cozinha, talvez ele precisasse ouvir o que discutiríamos a seguir para que ficasse menos apreensivo. Assim esperei, pois precisaríamos dele.

Sentei-me em uma poltrona e olhei para Soares. Bonito, vestido com terno risca de giz. O tecido era escuro e fazia um excelente casamento entre seu corpo esbelto e a postura elegante. Um pouco ameaçadora naquele momento.

— Vocês devem estar se perguntando por que os chamei aqui. — Cruzei as pernas jogando a direita sobre a esquerda e apoiei o cotovelo no braço da poltrona. — Bem, estou atrasado para o trabalho e preciso inventar uma desculpa para meu chefe. Espero que me ajudem.

Adamastor se mexeu com desconforto. Todos entenderam a piada de mau gosto, menos Soares. Ele não conhecia Isac, então não sabia que aquele que estava de costas sentado na minha cozinha era ele.

— Não temos tempo para brincadeiras, Nico. Se não se importa, pretendo visitar Isac que por sua culpa está preso. — Soares se levantou do sofá e pegou a maleta que estava no chão.

— Excelente, então veio ao lugar certo. — Acenei para a cozinha e todos olharam. A expressão no rosto de Soares indicava que ele ainda estava confuso. — Aquele é seu cliente.

O advogado me fitou como se eu o empalasse.

— Como?! — Perguntou nitidamente surpreso.
Eu entendia a reação. Qualquer pessoa ficaria surpresa diante daquela situação.

— Nem eu entendo. Sei que ele bateu na minha porta esta madrugada. Estava péssimo e fedia muito. Tomei a liberdade de fazer um vídeo, depois mostro. Ele desmaiou, sabe. Então tomei outra liberdade, a de dar banho e colocar uma roupa limpa naquele ser. — Descruzei as pernas e passei meus olhos pelas expressões de todos que estavam na sala. Surpresa. Era o que eu via.

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Ouvi Nico dizer que o cliente do homem estava na casa. Só podia ser eu. Fiquei ainda mais confuso do que já estava de antemão. Decidi me virar e encarar as visitas. Nico estava contava como me encontrou. A platéia assistiu em silêncio após a fala do detetive. Eu podia imaginar o choque de receber aquelas informações.

Adamastor e Lianmar estavam de costas para mim, Nico e o outro homem, de perfil. O tal Soares era o único em pé e segurava uma maleta.

Então Lianmar se virou e os olhos turquesa me encararam. Ela me analisou com o olhar. Gesto seguido de um sorriso fraco. Adamastor se virou também e ficou surpreso. Talvez ele não cresse que eu estava ali. O outro, Soares, me encarou de maneira neutra. Nico apenas sorriu enquanto fitava a parede.

Lianmar se levantou e veio em minha direção. Mais próximo, percebi que seus olhos estavam um pouco inchados e vermelhos, o que indicava que ela havia chorado. Adamastor a seguiu. A distância não era grande, foi questão de segundos até que ela estivesse em minha frente e colocasse a mão em meu rosto. Fiquei sem reação.

— Olha você, o que te fizeram? — Falou com carinho e preocupação. Sinal de que se importava comigo.

Por algum motivo desconexo me lembrei do jantar que fizeram para Miguel e não me convidaram. Ergui minha mão até a dela. Eu sentia as dores dos abusos físicos que tinha sofrido. Talvez a fome não tivesse me deixado sentir antes, ou quem sabe o choque fosse o grande responsável por tal proeza.

Acariciei os dedos macios de Lianmar, cuja pele já começava a enrugar.

— Estou bem. — Encarei o chão.

— Não, você não está bem. — Seu braço pendeu junto ao corpo. Levantei o olhar para seu rosto e ela franziu o cenho. — Você está horrível e precisa esclarecer muitas coisas, Isac. Você tinha uma arma e seguia a Nia. Sabe o quanto isso é doentio?

Fiquei surpreso que ela soubesse da feia verdade. Não era algo que me envergonhasse por completo, mas também não me orgulhava daquilo. Ver Lianmar dizer aquilo em voz alta me fez perceber que era ainda pior do que eu pensava. Realmente soava doentio. Pior, eu precisaria explicar tudo. Ela sabia apenas meias verdades, coisas que outras pessoas contaram.

— Eu não me orgulho de nada, mas também não me envergonho. — Admiti.

— Então se explique rapaz, porque seu comportamento obsessivo me deixou decepcionado. — Adamastor expressou bem sua decepção, era de cortar o coração.

— Excelente, conte tudo. — O homem da maleta, que não me fora apresentado, se aproximou. Chegou a minha frente e ofereceu a mão para que eu a apertasse. Foi exatamente que fiz. — Sou seu advogado, pode me chamar de Soares.

— Sou Isac — Me apresentei. Era algo idiota visto que ele já deveria saber quem eu era.

— Você deve me contar tudo o que aconteceu para que eu possa defendê-lo. — Soares soltou minha mão.

— Então vamos nos sentar, porque é uma longa história. — E terrível também.

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A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora