— Sente-se detetive, precisamos conversar. — Lianmar indicou a cadeira do outro lado da mesa. — Como está?
— Como poderia estar? — Perguntei.
Com péssimo humor, claro. Nenhuma das câmeras da agência mostrou invasão noturna, mas a foto e o vídeo não sumiram por acaso. Havia como pedir uma cópia para a empresa de segurança, mas com toda a burocracia, levaria no mínimo dois dias para conseguir.
— Deixe que te apresente ao Soares. — Um homem negro, de black power e roupa social estava parado ao meu lado. Eu o conhecia, o melhor advogado da cidade.
— Fui ao banheiro, Nico. Como vai? — Ele estendeu a mão em um cumprimento.
— Como manda a tradição, Alexandre. Seguindo um rastro difícil. — Resmunguei.
Alexandre Soares tinha seus quarenta anos, mas não parecia. Era um homem adorável, em todos os sentidos, menos no sexo. Confesso que gostava de seu estilo selvagem. Era o melhor advogado da cidade e eu o admirava por isso, mas muitos não, principalmente o promotor.
Analisei a situação, se Alexandre estava ali é porque eu teria problemas.— É muito bom que já se conheçam, assim terei menos trabalho. — Lianmar tomou um gole de chá. — Sou uma mulher simples detetive, mas graças a Deus eu sou bem esperta e uma ótima juíza de caráter.
Lianmar lançava seu olhar como se fosse me perfurar. Os olhos iguais aos de Nia. Ela não estava contente e sua aura de raiva me emudeceu. Era preciso ser sábio e não começar uma intriga a troco de nada.
— Então, por que estou aqui? — Fiz sinal para o garçom.
— Porque Isac está sendo tratado como um rato de esgoto. — Me fuzilou com os olhos.
— Impossível. Aquela clínica é excelente. — E era, nunca vi melhor. A estrutura era invejável e o psiquiatra muito renomado.
— É mesmo? — Lianmar ergueu uma sobrancelha e pegou sua bolsa no encosto da cadeira, tirou um celular dela e mexeu nele por alguns segundos. — Veja. — ela chegou o celular tão próximo do meu rosto que fez valer a existência da expressão "esfregar na cara".
Peguei o celular.
Era uma foto de Isac, e ele estava pior que quando chegou. Seus olhos estavam mais fundos e o corpo jogado em um canto.
— Ótimas acomodações. Não acha? — Se Lianmar tivesse uma faca ela teria me matado. — Meu filho está em uma cela fechada, sem móvel algum, mais magro e destruído que quando foi preso. Sabia que bateram nele? Ele mal aguentou me abraçar.
Ainda bem que pessoas não tinham super poderes, ou eu estaria separado pelo meio. Graças ao ataque de uma senhora enfurecida.
— Não pode ser verdade, Isac já estava péssimo quando chegou lá. — Sim, eu estava descrente. E eu tinha motivos para tal.
— Acha que sou cega? É isso? Você é um idiota! — Corajosa. Nia tinha de onde herdar a audácia. — Me reservo ao silêncio, é melhor deixar o advogado falar ou provavelmente vou enfiar essa xícara na sua fuça. — Seu tom era calmo, mas ameaçador. Eu poderia prendê-la, mas era melhor não fazer aquilo.
— Você não deveria passar dos limites, afinal, invadiu uma clínica psiquiátrica e eu poderia prendê-la. — Apesar de não desejar um confronto, era necessário ter firmeza.
— Invadi? Onde estão as provas? Soares, calúnia é crime, não é mesmo?! — A mulher me encarou e me fez perceber que Nia era parecida com a mãe em muitos aspectos.
— Evidente que é crime, Lianmar. — Ele sorriu para a mulher. — Se eu fosse você ficaria mais calmo, Nico. — Me repreendeu.
— Me dê motivos. — Desafiei.
— Primeiro devo ressaltar que pedi cópias das fotos do casamento de Nia. Pude ver que Isac estava melhor de saúde naquele dia. Se sua alimentação fosse adequada, ele estaria mais corado e saudável agora do que antes. Segundo, ele está sendo tratado de forma incorreta. Posso dizer até mesmo que, de forma ilegal. A cela nesse formato deveria ser de uso para pessoas perigosas para, e elas geralmente usam camisa de força. — O garçom chegou e Alexandre parou seu pequeno discurso. O jovem de avental se dirigiu a mim e apenas apontei o item no cardápio. Ele sacudiu a cabeça em um sinal de entendimento. Quando o garçom se retirou, Soares continuou. — Eles não vêem nele uma ameaça. Um amigo meu trabalha na empresa de segurança que faz a manutenção das câmeras. Soube em primeira mão que a cela de Isac tem uma, mas ela não grava à noite porque a luz é desligada.
— Não pode ser verdade, o que você quer sugerir? — Suspirei, não podia ser verdade. Ele queria dizer que Isac sofria maus tratos. — Não acredito.
— Então temos um problema aqui. Você vai soltar o garoto, Nico. Se você não quiser um processo nas tuas costas, porque eu já abri um contra a clínica. Acho bom considerar bem seus próximos passos, principalmente se gosta de sua carreira de detetive. — Alexandre pegou uma pasta que estava no chão e abriu. Tirou alguns papéis e me entregou. Realmente, ele já iniciara os trâmites. O maldito era um lobo.
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A Rosa do Assassino [Concluído]
Mystery / ThrillerNia vivia sua tranquila vida como jornalista local de uma cidade pacata, mas seu grande sonho era escrever sobre um importante caso, um que arrebatasse a cidade, que causasse frisson e pânico. A jornalista desejava ascender às custas do caos que ape...