A Rosa do Assassino [Concluído]

Despedida

— Quanto tempo até chegar lá? — Perguntei a Nico, que exibia um olho inchado.

— Duas horas. — Respondeu. — Ou mais, dependendo das condições.

Ele estava realmente furioso. Seria mentira minha se eu dissesse que não estava feliz com as últimas distrações. Por mais absurdas que fossem. Ricardo tinha me ligado três vezes, mas não tive coragem de atender. Se eu fizesse isso, todos os sentimentos represados transbordariam. Medo, raiva, insegurança e aquela voz na minha cabeça dizendo que nós não conseguiríamos.

— Isac — Nico me chamou enquanto olhava o próprio celular —, as condições climáticas estão realmente muito ruins. Eu não sei se vamos conseguir. — Falou com sinceridade, talvez tentando me preparar para o pior.

Respirei fundo.

— Nós conseguiremos, mesmo que você precise espancar metade do país daqui até lá. — Falei. Se eu repetisse essa mentira, talvez me mantivesse calmo e confiante.

Nico riu.

— Eu disse que era o inferno. Jogaram o caso no meu colo e saíram correndo. — Suspirou e olhou para o céu lá fora. — São uns cretinos.

— O que você vai fazer quando tudo isso terminar? — Meu coração deu um salto. Imagens de Nia esfaqueada e cercada de rosas preencheram minha mente. Fechei os olhos com força e sacudi a cabeça para me livrar daquelas imagens.

— Encontrar um namorado. — Respondeu. — Preciso de um namorado, estou farto de viver para o trabalho. E você? O que vai fazer?

Pensei por um instante em minhas opções. Eu não tinha família e não era possível obrigar Nia a me amar. Nem eu queria isso. Apesar dos momentos de obsessão que me levaram para a prisão, eu não era um animal irracional que obrigaria uma mulher a aceitar minha presença.

— Trabalhar e viajar, eu acho. — Respondi.

— Já pensou em ser investigador? — Nico me olhou com firmeza, enfatizando a seriedade de sua sugestão.

— Meus antecedentes criminais não favorecem.

— Não se preocupe com os antecedentes. — Falou enquanto se recostava e fechava os olhos.

Nosso assunto terminou aí. Odiei. Ter tempo para pensar não era bom.

♠♠♠♠

— Antes de deixar o Miguel voltar, quero dizer que estou muito feliz. Todo meu plano perfeito surtiu o efeito desejado, mesmo com os imprevistos. — Juan gargalhou. — Ah, my princess! Você está grávida de nós. De mim e dele. Você o ama, mas sente asco de mim. — Ele a encarou e deu um sorriso cínico. — Mas você vai ser obrigada a suportar gerar um filho meu, ou, vai abortar um filho dele. Não importa o que aconteça comigo, meu legado vai prosseguir. Sempre que você olhar para o nosso bebê, você vai se lembrar de mim.

“Com sorte, nosso filho será como eu e meu irmão. Você nunca vai estar segura. Nunca vai poder amar totalmente esse filho que carrega em seu ventre. Você vai levantar todas as noites com medo de ele ser inteligente como eu. E se você rejeitá-lo cometerá uma injustiça, assim como se rejeitar o Miguel.”

“Não existe sacrifício que te salve dessa situação. Você será atormentada por toda a vida. Esse é o preço que você irá pagar por ter rejeitado meu amor. Eu dei a você tudo que uma mulher poderia desejar e eu poderia dar mais, porque meu pai me deu muito dinheiro. Sou o filho favorito.”

“Isso me lembra de contar a você que: Miguel pensa que ganhou todo o dinheiro que têm através da venda de livros, mas isso não é verdade. Quer dizer... Ele realmente vendeu muito, porém, não a ponto de ser multimilionário. Meu pai transferia uma pequena quantia todo mês. Já eu, tenho outra conta na casa dos milhões. Miguel não sabe. Tão correto, tão honesto... É uma pena.”

“Como eu dizia, você está marcada por toda a vida. I love you.”

♠♠♠♠

Tinha sido a pior noite de toda a minha vida. Eu me sentia cansada, humilhada e completamente apavorada com o futuro.  Juan cuspia a verdade na minha cara. Não tinha como amar Miguel sem me lembrar da presença constante da maldita sombra que era sua outra personalidade.

E nosso bebê, tão amado, era fruto do meu maior sonho e do meu pior pesadelo. O homem que me violou e o que cuidava de mim. Eu nem poderia me defender. Se continuasse dopada, eu só poderia assistir tudo.

Tudo estava perdido. Era o fim.

Se eu contasse a verdade sobre Miguel, ele seria preso ou internado, e nosso filho cresceria sem o pai. No entanto, se eu nunca revelasse, precisaria dividir minha vida com a pessoa que mais me causava asco em todo o mundo.

Eu nunca estaria segura. Juan acabou com minha vida, com todos os meus sonhos. Maldita fosse minha ambição por ter desejado um caso fora do meu controle.

— Acho que vou tirar uma folga e deixar meu irmãozinho cuidar de você.

Nos minutos seguintes Juan cuidou de arrumar todo o quarto, talvez o restante da casa, devolvendo tudo a seu devido lugar. O dia já amanhecia, mas a chuva caía como se o céu desabasse sobre a Terra. Por fim, Juan me deitou na cama e me cobriu. Depois beijou minha boca, me deixando com ânsia de vômito.

Ele se deitou ao meu lado. Arrumou-se na cama e dormiu.

Observei enquanto o corpo dele abandonava a tensão e mudava os meios de se portar. Postura, respiração... Tudo mudou.

Algum tempo mais tarde, Miguel acordou.