Grávida?

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O menininho sorria para o espelho enquanto a mãe penteava seu cabelo. Os olhos negros brilhavam com uma malícia imprópria para sua idade. “Onde ele está?”, a voz de um homem foi ouvida, mas sua figura não apareceu na cena. Pelo reflexo, era possível ver que a mulher se virou assustada, e ergueu o pente como se fosse uma arma. “Você não vai levar ele!”. O menino sorriu para o espelho de maneira desafiadora, depois tirou um alfinete do bolso e espetou na perna da mãe que, desavisada, gritou de dor.

O garoto sorriu novamente e disse uma frase antes de correr para os braços do homem misterioso: “Lembre-se de mim, irmão.”

Miguel acordou apavorado e muito suado. Jamais, em toda a sua vida, maltratara a mãe, mas tinha se reconhecido no sonho. Reconheceu também o ritual da mãe, que sempre penteava seus cabelos daquela maneira, mas a não era real. Era uma alucinação maldosa.

Atordoado, Miguel levantou da cama e andou até a janela, que abriu sem fazer barulho porque não queria atrapalhar o sono de Nia. Sua primeira noite de sono tranquilo depois de muitos dias atribulados.

Um pouco mais calmo, inspirou o ar que vinha do mar, cuja localização não era muito distante dali. Depois passou a mão pelos cabelos ensebados pelo suor excessivo. Varreu o quarto com os olhos até encontrar o celular, andou até ele e o pegou para olhar o horário. Seis da manhã. Sentia-se cansado, mas não conseguiria dormir outra vez.

O melhor seria se entregar a um banho revigorante enquanto Nia não acordava.

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— Tudo bem. Repita o motivo de eu estar acordado às seis e meia da manhã. — Falei para Nico, que estava encostado na porta de meu quarto. Com os braços cruzados na frente do tórax e um sorriso indolente.

— Você está acordado nesse horário porque a prefeitura é extremamente lenta quando se trata de questões burocráticas, assim como todo órgão público. — Ele repetiu pacientemente sua fala anterior, dita enquanto ele me sacudia de maneira nada gentil. Nico já estava arrumado. Vestia camiseta preta, jeans e tênis.

— Pelo menos faça um café decente. — Reclamei enquanto me levantava da cama. — Quando prendermos esse assassino, juro que irei hibernar. Já faz meses que não tenho uma boa noite de sono.

— Você devia ter dormido em vez de seguir a Senhorita Petúnia. — Foi um golpe baixo, mas inteligente. Olhei para ele com os olhos semicerrados e ele riu. — Você tem dez minutos para se arrumar.

— Meia hora. — Falei enquanto procurava meus chinelos.

— Você não precisa de tudo isso para vestir três pedaços de pano e um par de sapatos. — Nico já estava no corredor.

— Você nem parece gay. Eu preciso pentear o cabelo. — Reclamei enquanto ele me fulminava com o olhar.

— Primeiro: Abandone os estereótipos; Segundo: Não ouse questionar mais uma vez o fato de eu ser gay; Terceiro: Se apresse. — Quando terminou sua fala, sumiu de meu campo de visão.

Vinte minutos depois eu estava pronto.

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— Bom dia. — Cumprimentei Nia enquanto a observava acordar. Alguns raios de sol entraram pela janela aberta e iluminaram seu rosto.

Eu estava sentado em uma cadeira ao lado da cama enquanto refletia sobre o sonho daquela manhã. Já me acalmara o bastante para fingir que não tivera uma péssima noite de sono. Sentia-me demasiado cansado para alguém que dormiu relativamente cedo.

Fui tomado por uma estranha alegria quando o olhar de Nia passeou pela extensão de meu tórax. Após o banho eu não tinha me dado ao trabalho de vestir uma camiseta. Esse gesto não foi proposital, mesmo assim a reação de Nia me trouxe felicidade. Seu olhar era um pequeno sinal de consciência e de melhora.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora