Glória

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Minha fantasia era inspirada no personagem principal de Fantasma da Ópera. Não era por estar ali a trabalho que não podia brilhar naquele salão. Minha missão naquele baile era observar o comportamento de um casal muito peculiar, a jornalista Nia e seu quase namorado Miguel. Da mesa onde estava sentado era possível ver ambos flutuando sob a luz azul da pista. A fantasia dela era algo com penas negras, talvez um urubu. Ele era um príncipe, não o homem, a fantasia era de príncipe.

Dali também era possível observar o movimento dos garçons e a cozinha que ficava estrategicamente posicionada em um canto discreto do salão. A porta do local foi escondida por um biombo enfeitado com matérias que fizeram sucesso durante os últimos meses. Lá estava o caso do assassinato no cinema, bem no centro de tudo.

Algo sobre jornalistas que eu não suportava era sua intromissão e sua incrível capacidade de atrapalhar o trabalho da polícia, e algo que eu admirava era a forma discreta e quase irrastreável de conseguir informações que a polícia tentava esconder. Ah, pequenos e traiçoeiros vermes.

Como detetive, meu nome nunca aparecia quando os casos eram resolvidos e minha foto jamais era divulgada. Eu preferia assim, facilitava meu trabalho. Além disso eu sabia como ser bem discreto quando era necessário, ou seja, a maior parte do tempo.

Com um e setenta e sete de altura, físico definido por horas de musculação, pele negra e cabeça livre de cabelos, eu poderia me passar por qualquer profissional comum, de pedreiro à executivo, tudo dependia apenas da roupa e do comportamento. Aprendi essa arte principalmente com as Drag-Queens, minhas amigas sabiam se maquiar de todas as formas e se comportar de várias maneiras distintas.

Ser homossexual assumido era quase um pedido de exclusão da corporação, mas eu resistia firmemente. Nenhuma piada fora capaz de me derrubar, nem comportamento excludente ou qualquer outra coisa. Construí minha carreira a base de muita perseverança. Minha família me apoiava, eu tinha raízes firmes e não me preocupava muito afinal tinha doutorado e especialização, tentar me derrubar era tarefa para idiotas ou gigantes. Eu não conhecia gigantes.

Percebi dois garçons discutindo discretamente junto à  parede. Agucei a audição. Aparentemente um freezer fora trancado com cadeado, ninguém encontrava as chaves e o chef colocava todos malucos com suas ameaças de arrombar com um pé de cabra já que os ingredientes do jantar estavam em boa parte guardados lá dentro.

Depois que os garçons seguiram com a realização de suas funções, percebi um casal jovem que acabara de adentrar o salão. O rapaz era magro com cabelos revoltos e a menina era jovem com cabelos louros. Sentaram-se à  mesa destinada a Nia, então possivelmente aqueles seriam Isac e Lia, vestidos como pierrô e arlequina.

Miguel e Nia que ainda estavam na pista de dança voltaram para a mesa quando o DJ começou a tocar a tocar Lady Gaga.

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Ela estava divina, sua fantasia era de Cisne Negro. A vi assim que entrei naquele salão.

Escolhi pierrô porque sou um palhaço da vida.

Minha acompanhante, Lia, era uma moça franzina e adorável. Tinha cabelos louros de fios finos e olhos castanhos. Ela escolheu se vestir de arlequina.

Eu me divertia com as piadas maldosas que ela fazia sobre as vestes e o comportamento dos demais convidados, ela até que tinha razão sobre o mal gosto de um senhor que se vestiu de baiacu. Imaginei o trabalho que a costureira teve para elaborar aquela aberração.

— Miguel, este é Isac. — Nia, posicionada a minha frente, acenou em minha direção. — E Isac este é Miguel.

Apertei a mão do homem.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora