Helicóptero

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- Aqui! - Gritou um rapaz magricela. Seus óculos grandes demais para o rosto se deslocavam atraídos pela gravidade.

Nico, furioso igual a um tigre, e rápido como um leopardo, atravessou a sala em dois passos e fitou a tela do computador. Deu um pequeno suspiro de alívio, mas a expressão ainda estava tensa assim como o resto do corpo.

- Muito bem, garoto! - Afagou o ombro rapaz. - Imprima essas informações para mim. Agora!

O garoto imprimiu e Nico pegou a folha de papel como se quisesse assassiná-la.

- Agradeço a colaboração. - Falou enquanto saía da sala.
Mal viramos as costas e ouvi meia dúzia de pessoas respirando aliviadas depois da confusão que Nico causou. Por sorte, um dos responsáveis pela companhia aérea era também dono do navio no qual haviam ocorrido os assassinatos brutais que precisavam ser solucionados.

Segui Nico de perto enquanto sentia sua aura de irritação e ouvia seus resmungos.

- Para onde iremos? - Perguntei em um tom cauteloso.

- Para o outro lado do país. - Respondeu irritado.

- Eu quis dizer, para onde iremos agora...

Nico se virou e me lançou um olhar que faria até o demônio estremecer. Por um momento pensei que todas as luzes do corredor iriam explodir e todos os vidros se quebrariam.

- Para o inferno! - Seu tom me fez acreditar que realmente iríamos para o inferno. O canto direito do nariz se contraía em espasmos, tamanha a sua raiva.

- O que faremos no inferno, Nico? - Eu estava inspirado e destemido.

- Vamos conseguir um helicóptero.

Sem dizer mais, Nico marchou para o estacionamento.

♠♠♠♠

- Como você pode perceber, sou um homem de sorte. - Juan continuava a narração sobre suas façanhas macabras. - Acho que o universo retribuiu meu empenho em te fazer feliz. - Riu para o vidro da janela enquanto contemplava o reflexo de Nia sobre a cama. - E o final daquela noite foi esplêndido! Você, assustada, correndo pela casa fugindo de mim e de minha faca e depois desmaiou. Pobre coitada. Peguei você no colo e levei para o banheiro. E você pensou que tudo tinha sido um sonho!

"Eu até deixei minha marca naquele quadro com o jornal. Um toque de mestre. Sabe onde a faca e a rosa estavam? Dentro da fantasia! Aproveitei-me um pouco dos talentos de meu irmão."

"Miguel, esperto e apaixonado que era, pediu para você apresentar a família. Juro que se estivesse fora do corpo dele, eu o abraçaria. Ele estava tão perdido por você que queria se casar. Eu não poderia achar mais conveniente. Miguel te paparicou muito e te ofereceu o céu para que você caminhasse sobre ele. Não o condeno por isso, afinal eu mesmo sou devoto de sua religião querida Nia."

"Porém tivemos um pequeno inconveniente... Minha amada mãezinha soube dos assassinatos. Ela ligou para meu pai, mas ele ignorou. Então ela foi para a cidade atrás de respostas. Sabe, ela encontrou a estufa do porão, e esperou eu aparecer para me dissuadir do meu plano perfeito de conquista. Aquela mulher me deu nos nervos! vi-me obrigado a assassiná-la! Meu pai ajudou a colocar o corpo no seu carro, mais uma vez ninguém observou um veículo da clínica. Quanto às chaves... tirei o molde de todas as suas chaves enquanto estive em seu apartamento. Tudo aquilo acontecia e Miguel com você, feliz e saltitante."

"Hum... Você conheceu mamãe da melhor forma. Calada ela era uma poetisa. Não conte para Miguel o que eu fiz."

Colocou um indicador na frente dos lábios.

♠♠♠♠

- Preciso de um helicóptero! - Nico gritava com um homem da Polícia Federal.

- Nós não podemos ir nessa direção, tem uma tempestade horrível lá, talvez dure mais que um dia. - O homem bufou. Seu rosto era uma carranca.

- Não importa. Vocês queriam que o caso fosse resolvido e jogaram essa bomba em cima de mim, agora o mínimo que podem fazer é me emprestar a bosta de um helicóptero! - Nico grudou no colarinho do homem de maneira ameaçadora.

- Você vai ser demitido! - Ele se debateu na tentativa de se soltar.

- De toda maneira eu seria demitido. A vida de outras pessoas está em risco, eu preciso de um helicóptero! - Nico acertou um soco no homem que caiu atordoado.

- Eu já falei que não é possível ir para lá! - Ele se levantou e tirou uma arma do coldre. Em seguida apontou ela para a cabeça de Nico. Irritado, peguei minha própria arma e mirei no homem.

- Então nos leve o mais próximo que der e terminamos o trajeto em um carro!

- Maldito detetive! - O homem brandiu a arma de maneira ameaçadora e eu dei um passo à frente.

- COM QUEM EU PRECISO FALAR PARA CONSEGUIR A MERDA DE UM HELICÓPTERO?! - Nico rugiu.

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- Comecei a dopar você naquela noite. A que eu fugi para regar meu lindo jardim. Depois da morte de minha mãe. E você me seguiu com aquele imbecil que chamava de amigo. Você tem um adorável hábito de beber água antes de dormir, isso veio a calhar, coloquei calmante na água e voilà! Eu não precisava mais me preocupar.

"Com a situação da minha mãe, percebi que precisava queimar arquivos. Apagar os rastros. E foi exatamente o que eu fiz. Chamei sua atenção para Naila. Observei de longe enquanto aquela tola roubava os relatórios das mãos do Nico. Você e o detetive acreditaram no teatro, como antecipei que fariam. Depois foi só matar ela, o funcionário dela e aquele policial estúpido que te vendia informações. Sim, matei todos que tiveram algum contato comigo."

Juan pegou um aparelho de celular que estava sobre uma mesinha e conferiu as horas.

- Já é quase manhã. Você prefere que eu conte o resto ou que eu deixe Miguel acordar? - Perguntou enquanto arrancava a bateria do celular.

♠♠♠♠

O céu já mudava de cor quando o helicóptero decolou. Nico lutou com cinco pessoas antes de conseguir uma permissão. Ele tinha razão, era o inferno. Pelo menos para ele.

Precisaríamos parar em uma cidade a cem quilômetros de distância do litoral, o resto do trecho seria percorrido de carro e havia mais complicações. Se a tempestade não parasse, seria impossível chegar de barco, e cada minuto era fundamental.

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- Já que você insiste, fico mais um pouco. - Juan riu e se sentou na cama. - Preciso expressar minha gratidão por aquele idiota do Isac ter enlouquecido. Graças a ele, todo o resto correu às mil maravilhas. Nós viajamos, eu e você fizemos amor e ele ficou preso. Aliás, sobre a viagem... Meu pai é sócio do dono daquele cruzeiro. Sim, ele tem negócios escusos... Você gostou de assistir a morte da empregadinha? Foi linda. Ela estava muito satisfeita com meu pau. A cantora e seu número de strip quase me levaram à loucura. Gostosa. Não mais que você, não precisa sentir ciúmes. O único detestável era aquele atorzinho. Uma confissão Nia: nunca pensei que seria muito mais fácil matar em um navio. Ninguém notou o sumiço da cantora, afinal eu deixava bilhetinhos como se ela estivesse aborrecida. Isso veio a calhar, usei o quarto dela como depósito. Nem vou contar a você a obra de arte que fiz naquela cama.

"Uma pena que o Isac tenha complicado a vida do meu pai. Uma grande pena. Porém papai já sabia o que aconteceria caso fosse descoberto."

O homem andou pelo quarto, montou sobre as pernas de Nia, pegou suas mãos e olhou no fundo de seus olhos.

- Desculpa pelo que fiz com sua mãe, my darling. - Ele beijou os nós dos dedos de Nia. - Ela sofreu muito antes de morrer. Foi muito triste. Ela me olhava como se pedisse misericórdia. Isso não teria acontecido se ela não tivesse me pego com a boca na botija. Sorry darling. Foi necessário. E sabe o que é mais fantástico? Eu pude fazer um jardim nela. Viva a arte contemporânea!

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora