Apelido carinhoso

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As ruas do porto - com exceção da que ficava à beira mar - eram compostas por pequenos paralelepípedos de pedra. Escolhi o sapato certo para andar pelo local.

Tudo era muito charmoso com sobrados e casas da época do Brasil Colonial. Muito bem conservados e multicolores. Havia algo de nostálgico pelo ar, misturado a cheiro de comidas típicas e temperos de aroma encorpado. O restaurante que escolhi para ir não ficava longe do porto, mas a quantidade de bagagem era muito grande para carregarmos conosco. Encontramos uma pousada para guardar a bagagem antes de continuarmos a aventura de exploração.

Lugares turísticos sempre cobram o olho da cara por qualquer serviço. Para guardar a bagagem foi preciso alugar um quarto, o mais barato não ficou menos que trezentos reais. O preço era tão salgado que por um instante considerei pagar os pedintes para cuidar de nossos pertences, mas não era algo seguro e Miguel disse que não havia problema, afinal era nossa lua de mel e não dava para perder tempo.

Aproveitamos e pedimos informação para achar o restaurante. Ganhamos um mapa turístico.

Foi uma experiência divertida, mas senti um pouco de medo quando meus olhos foram vendados. Uma junção de sensações como desproteção, insegurança e perigo, apertou meu coração. No entanto acabei por relaxar ao ouvir a voz de Miguel comentar sobre a experiência. Eu me sentia segura com Miguel.

Entre os pensamentos sobre segurança me lembrei de Isac. Como estaria? Minha mãe não deu mais notícias, nem mesmo dela. Eu poderia ligar e perguntar como estavam, mas era desnecessário. No dia seguinte eu os veria. O que poderia acontecer de um dia para outro?

Quando tiramos a venda, vi que um raio de sol, vindo de uma clarabóia no teto, batia diretamente em Miguel e fazia meu marido parecer um anjo. Seus cabelos negros cintilavam e as íris negras brilhavam ao olhar para mim.

Ele pegou minhas mãos que estavam pousadas sobre a mesa e as beijou.

— Eu te amo tanto que morreria por você. — As palavras foram como flechas perfurando meu coração.

Era uma bela declaração, mas me senti desconfortável. Doía-me no íntimo pensar em perder Miguel. Eu o amava, com a completude do meu ser. Corpo e alma.

Tudo que eu queria era parar de ter pesadelos com aquele demônio que tomava a forma de meu marido para me fazer maldades, Miguel estava certo, eu precisava de um psicólogo. Tudo mudaria depois de uma boa terapia. Talvez eu ainda tivesse medo de me relacionar porque já tinha sido estuprada e podia ser esse o motivo daqueles sonhos terríveis.

Flashes da noite do estupro começaram a surgir. Como sempre, balancei a cabeça e afastei as imagens.

Retribuí o olhar de Miguel um pouco tarde demais. Ele já tinha notado que havia algo errado, ainda assim tentei disfarçar.

— E eu te amo tanto que me casei com você. — Declarei.

Miguel riu em um tom grave e divertido.

Como eu era sortuda. Havia encontrado o amor de minha vida em um bar qualquer e ele era tudo o que uma mulher poderia sonhar. Inteligente e lindo de perder o fôlego. Não era rico, mas não é com isso que sonhamos. As mulheres que desejam viver um grande amor, ao contrário do que a maioria dos homens pensa, não se importam com condições financeiras, na verdade elas desejam um sentimento arrebatador, de tirar o fôlego e o chão.

A Rosa do Assassino [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora