Lisy
A cafeteria estava cheia, o cheiro de café fresco se misturava ao leve aroma de canela que sempre pairava no ar. As vozes dos clientes formavam um zumbido distante, irrelevante.
O café tinha um cheiro familiar, mas o gosto era estranho. Talvez porque eu não sentisse mais o mesmo prazer em coisas banais. A dor muda o paladar, muda a forma como vemos o mundo, como respiramos.
Eu estava ali, sentada em frente a Michael, um rosto que um dia me foi tão íntimo, mas que agora parecia apenas um borrão do passado. Ele ainda era bonito, do jeito que eu lembrava. Mas era como olhar para uma fotografia antiga - algo que um dia teve significado, mas que agora não carregava mais nenhuma emoção dentro de mim.
Mas estava ali, sentada à mesa do canto, com os dedos envolvendo uma xícara quente.
Ele pigarreou, mexendo no próprio café sem beber.
- Você está diferente - ele disse.
- Talvez eu esteja. Mas você continua a mesma coisa - respondi, sem emoção.
Ele sorriu de leve, um sorriso meio perdido.
- Na verdade, acho que mudei um pouco.
Cruzei os braços e esperei.
Michael suspirou, mexendo distraidamente no café à sua frente.
- Ashley me contou que nesse tempo em que você ficou um fora... Você estava em um relacionamento.
Meu corpo enrijeceu por um instante. Eu sabia que Ashley diria algo assim para provocar Michael.
- Sim - murmurei, sem querer me aprofundar.
Ele assentiu, desviando o olhar para a janela por um momento.
- Você está aqui, agora... Por acaso não deu certo?
Uma pergunta tão simples, mas que carregava todo o peso do meu coração.
- Não - foi tudo o que consegui dizer.
Michael passou a mão pela nuca e soltou um riso curto, como se tentasse encontrar humor na situação, mas falhando miseravelmente.
- Sabe, eu esperava te encontrar diferente... mas não assim.
- Assim como? - perguntei, erguendo uma sobrancelha.
Ele me olhou nos olhos, como se tentasse decifrar algo dentro de mim.
- Como se... tudo em você pertencesse a outra pessoa.
O ar pareceu pesar dentro dos meus pulmões.
- Você sempre foi intensa, Lisy. Sempre se entregou demais. Mas há algo diferente...
Eu desviei meu olhar.
- Você o ama, não ama?
Foi direto ao ponto.
Minha garganta secou, e minha resposta veio sem hesitação:
- Amo.
Michael desviou o olhar e assentiu, como se já soubesse antes mesmo de perguntar.
- Qual é a diferença? - Ele se inclinou um pouco para frente, os olhos fixos em mim. - Entre o que você sentia por mim e o que sente por ele?
Soltei um riso baixo, sem alegria, mexendo no café à minha frente.
- Com você, eu sofri, chorei e segui em frente.

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UM PONTO DE PARTIDA
RomantikaTragédia e perda deixaram Heloyse à deriva, presa em um vazio onde a dor é sua única companhia. Em busca de um escape, ela se lança ao desconhecido-não para se encontrar, mas para esquecer, nem que seja por um instante. Sua jornada a leva a terras v...