Heloyse
Quando acordei, já havia escurecido.
Levantei-me com o corpo tão dolorido, como se tivesse levado uma surra. Fui até o banheiro lavar o rosto. Na verdade, me arrastei até lá. No espelho, eu vi alguém totalmente derrotada. Era eu ali, sozinha, mais uma vez.
Lavei meu rosto e fui até o meu quarto. Meu interior doía tanto, como se tivessem arrancado meu coração. Eu precisava reagir. Só não sabia como.
Então, tirei a primeira roupa que avistei no meu armário. Isso nada mais era do que uma calça jeans, uma camisa branca qualquer e uma jaqueta qualquer. Calcei uns sapatos e peguei as chaves da caminhonete.
Na cidade, as ruas estavam movimentadas. Procurei um lugar para estacionar. Parei no Duran's Club, um bar balada que ficava próximo ao restaurante do Johnson. O bar estava lotado e me sentei próximo ao balcão.
Naquela noite, eu esqueceria tudo, pelo menos uma vez. Naquela noite, eu não me importaria com nada.
O barman se aproximou e fiquei em dúvida entre um Kamikase e o Wild Turkey . Fiquei com a segunda opção.
Alguns rapazes estavam sentados a uma mesa, olhando pra mim. Um deles sorriu e levantou seu copo, me saudando. Eu fiz o mesmo e virei todo o meu uísque, fazendo cara de poucos amigos. Algumas garotas chegaram e se juntaram com o grupo de rapazes.
E lá estava eu, sozinha.
Pedi outra dose ao barman.
— As coisas não estão bem? — me perguntou o barman, preenchendo meu copo com uma nova dose de uísque.
— Nunca estão bem. Se tratando de mim, nada está bem.
— Bom, creio que encher a cara, não resolve muito as coisas.
— E quem disse a você que eu vim encher a cara?
— Ninguém! Trabalho nisso há anos. Conheço pessoas como você. Chegam sozinhas, pedem uísque, repetem a dose, ficam com o olhar perdido em algum ponto deste bar e algumas horas depois, estão chorando e desabafando.
— Bem, meu caro senhor — eu disse balançando meu copo vazio de uísque —, garanto que não sou essas pessoas. Agora, encha meu copo e deixe-me em paz. E saiba que eu jamais desabafo com estranhos.
Meia hora depois, eu estava desabafando com os olhos marejados, contando a Ralf, o barman, como eu me sentia quando alguém me rejeitava.
— Não, Lisy, você não é incapaz. Esses caras sim, são incapazes de fazer uma mulher tão linda como você, feliz.
— Eles parecem me querer e depois, eles vão embora. Eles não me querem — eu enxuguei meus olhos — O Michael parecia me amar. Fingiu por nove anos. E o Will? Durante esses meses, dá pra contar nos dedos quando nos vimos, nos beijamos. E quando a gente se beija, é estranho. É como se meu coração parasse e o dele também. Parece que eu mexo tanto com ele, que ele não sabe lidar com a situação. E então, eu acabo achando que esse cara está apaixonado por mim, mas aí, ele se vai, deixando bem claro que eu sou um erro na vida dele.
— Sabe o que eu acho? Que você deveria mostrar a ele o que ele está perdendo.
— Como? Fazendo ciúmes?
— Talvez!
— Com quem? Com você?
— Não, minha querida. Eu não faria isso nem que me pagassem. Tenho alergia às mulheres.
— Uh, você é gay?
— É claro! — ele disse, colocando a mão na cintura.
— Bem, agora eu vejo.
Ele revirou os olhos eu dei risada.
À meia-noite, Ralf se despediu de mim, desejando-me boa sorte. Eu tinha dado um tempo na bebida durante a hora em que conversamos, mesmo assim, sentia-me um pouco tonta.
As pessoas estavam todas eufóricas, dançando. Alguns com os drinks nas mãos, outros dançando e cantando junto com a música.
Olhei para o outro barman e pedi uma dose de qualquer outra coisa que tivesse álcool. O barman olhou para minha cara com o cenho franzido e me serviu uma dose de daiquiri. Daiquiri e uísque definitivamente não seria uma boa mistura.
O daiquiri desceu pela minha garganta e eu senti uma leve tontura. Eu não me importei.
Desci do banco onde eu estava. Por um minuto, pensei que eu cairia estatelada no chão. Minhas pernas estavam como gelatina, minha cabeça deu uma rápida rodada e eu, mal sentia meu corpo.
Caminhei até onde as pessoas estavam dançando e comecei a dançar também. Nunca fui boa nisso.
Eu fechei meus olhos e fiquei fazendo alguma coisa parecida com uma dança até sentir mãos envolvendo minha cintura. Quando abri meus olhos e me virei, Johnson me olhava com um sorriso.
— Johnson? Oi! — dei-lhe um abraço, demonstrando o quanto eu estava feliz por ver alguém que eu conhecia, ali.
— Hey, garota! — ele disse me soltando do abraço. — O que você está fazendo aqui? Com quem você veio?
— Com ninguém. Eu estava entediada e resolvi dar uma volta.
Tínhamos que falar um perto do ouvido do outro. O barulho da música estava um pouco alto e mal podíamos nos ouvir.
Johnson sorriu, pegou minha mão e me levou até o balcão do bar.
— Dois cosmopilitan , por favor! — pediu ao barman e depois, voltou sua atenção a mim. — Você está muito bonita.
— Não seja mentiroso. Eu peguei a primeira roupa que vi.
— Então, digamos que você acertou no chute.
— Talvez! — eu disse sorrindo.
— Thom e Cielo, não aprovariam sua vinda aqui.
— Bom, eles foram à casa de Jeremy, almoçar. Mas, eu já sabia que talvez eles dormissem por lá. Thom não deu certeza, mas, era bem provável.
— Por que veio? Quer dizer... Por que uma mulher pegaria a primeira roupa do armário, viria a um bar, sozinha, sem conhecer ninguém, pediria uísque e daiquiri?
— Como você sabe?
— Eu vi tudo, Lisy. Eu estava sentado há alguns metros depois de você. Eu não vim fazer companhia a você, porque pensei que você estava com alguém. Depois, alguns amigos me barraram e fiquei conversando por um tempo. Você estava em uma conversa animada com o Ralf e eu não quis interromper. Mas você não disse por que veio. Veio para esquecer alguém ou alguma coisa?
— Como se um bar nos fizesse esquecer algo.
— Quando se está bêbado, tudo é possível.
— Pelo jeito todo mundo é perito em decifrar minha vida, quando eu resolvo beber.
— Eu não quero que pense que estou dando palpite na sua vida, Lisy, mas, eu me pergunto se tudo isso não é para esquecer o O'Connor.
— Bem, acabou de dar palpite na minha vida — dei um gole no meu cosmopolitan e desviei meu olhar de Johnson.
Ele estava certo. Merda!
— Eu só quero seu bem. Aquele cara não presta e você é tão... Meu Deus, como você é linda. Tão simpática, meiga, e eu não quero que ele a machuque.
— Não entendo o porquê de tudo isso.
— Você sabe o que sinto.
— Não, não sei! — eu preferia fingir que não sabia.
Johnson segurou minha mão. Eu a puxei e dei um último gole na minha bebida.
— Eu estou apaixonado por você, Lisy. E eu, jamais faria você ficar triste.
— Pare, Johnson...
— Eu me apaixonei desde o momento em que eu a vi.
— Chega! — eu disse com a voz alterada.
"Podia ser você", eu pensava.
— Vamos dançar?
Ele me olhou por alguns segundos com o semblante triste e depois, deu o sorriso mais sem graça que alguém poderia dar. Segurou na minha mão e me conduziu até onde o som era mais forte, onde as batidas eram altas.
As luzes em movimentos não deixavam ninguém ver meu rosto triste. E devido à bebida, eu já não sentia mais o meu corpo.
Johnson dançava comigo e em alguns momentos, ele me abraçava, mas, eu sempre dava um jeito de sair do seu abraço.
Logo, eu já havia me juntado a um grupo que dançava loucamente com seus copos de bebidas. Eu lançava sorrisos falsos e ninguém percebia, porque estavam todos envolvidos em própria bebedeira. O único que ainda estava firmemente sóbrio era Johnson.
Eu estava bêbada e ainda consciente do que fazia.
Não era bem isso que eu queria. Quando pensei em reagir, não era isso que eu tinha em mente. Ficar bêbada, não estava em meus planos.
Eu olhava para Johnson e me perguntava por que eu não me interessei por ele. Ele era tão gentil. Por que depois de Michael, eu tive que querer Will? Por que não foi o Johnson?
Eu o puxei pelo braço e o levei perto do bar. Fui tomada por um impulso e me lancei sobre ele. Coloquei meus lábios nos dele e o beijei.
Johnson envolveu seus braços em mim e correspondeu ao beijo. Em algum momento ele disse "você está bêbada, Lisy", mas, eu não dei ouvidos. Colei novamente meus lábios nos dele e o beijei de novo. Era algo bom, como experimentar um bolo e você gostar. Diferente do beijo de Will, que era como uma substância viciante.
Nossos lábios se separaram.
Johnson olhou pra mim de forma tão apaixonada, que me incomodou um pouco. Ficamos alguns segundos abraçados e foi aí que eu o vi.
Will estava de pé a poucos metros de nós, encostado no balcão. Patsy estava ao seu lado, falando algo em seu ouvido. Eu continuei abraçada ao Johnson, mas, com o olhar fixo em Will. Nossos olhos conversavam silenciosamente. Um enfrentando o outro.
Então, Johnson segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou novamente. Eu retribuí.
— Ainda não acredito — falou após finalizar o beijo. — Tenho medo que isto esteja acontecendo, pelo fato de você ter bebido. Mas, eu queria acreditar que amanhã, você ainda vai me querer.
— Johnson...
Will se levantou, pegou na mão de Patsy e disse algo perto do seu ouvido. Ela riu e ele também.
Ele usava uma calça jeans preta, uma camisa preta desabotoada no pescoço e os sapatos, da mesma cor. O mais interessante, é que ele tinha os cabelos em um coque e igualmente das outras vezes, usava um cordão preto no pescoço.
"Malditamente sexy", eu pensei.
Ele passou por nós e nem sequer me olhou.
Johnson estava de costas e não o viu passar.
Patsy sorriu diabolicamente para mim e juntos, foram dançar.
Se aquele imbecil achava que eu iria sofrer por ele, estava errado. Puxei Johnson para a pista de dança. Eu queria mostrar a ele, que a sua presença não me afetava.
"Que comecem os jogos ."
Nossos parceiros estavam um de costas para o outro, mas, eu e ele podíamos nos ver.
Era tão sensual vê-lo dançar. A forma como mexia o corpo, parecia ser algo beirando a perfeição. Ele dominava todo o espaço. Qualquer ambiente ficava pequeno quando ele estava presente.
Duas mulheres se aproximaram e com as mãos em seu abdome, rebolavam sensualmente. Ah, como eu queria matá-las... Como eu queria matá-lo.
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UM PONTO DE PARTIDA
RomanceApós a morte de sua família, Heloyse se apegou a quem esteve do seu lado durante este momento difícil. De repente, encontrou-se abandonada, sem um rumo ou uma motivação para seguir em frente. Até que em um determinado momento da sua vida, resolve sa...