Capítulo Sessenta e Três - Encontrei meu abrigo

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Heloyse

Megan sugeriu uma longa festa, Cielo sugeriu bastante comida e Eva queria que convidasse um monte de pessoas. Ashley sugeriu musica folk ao vivo, Alice achava que o casamento deveria ser à noite. Margot queria flores brancas e eu... Eu só queria me casar com o homem que não só me completava, mas fazia com que eu me sentisse inteira.
E depois de me deixarem louca com ideias e mais ideias, decidi misturar tudo e fazer um casamento.
Eva, Cielo e todas as outras mulheres da fazenda, ficaram encarregadas das comidas. Eu planejei fazer nosso bolo.
A fazenda estava uma bagunça e tinha empregados correndo como loucos pela casa.
Enquanto isso, Will surpreendia a todos com um humor incrível. Sempre sorridente, contando alguma piada ou fazendo alguma gracinha. Eva dizia que em toda a sua vida, nunca o tinha visto tão feliz. Eu estava orgulhosa dele.
Ficava observando como as mulheres se desesperavam com os preparativos. E eram pequenos gestos, aquele sorriso que só ele tinha, que fazia meu amor aumentar cada dia mais.
Passava mais tempo com Calvin, como pai e filho. Consertavam a caminhonete que usavam para carregar a ração, jogavam bilhar depois da hora do almoço e algumas vezes, um tocava violão, enquanto o outro cantava. Ele se tornava cada dia mais, um homem calmo, paciente e mais próximo de quem o rodeava.
Eu me instalei na pequena casa de madeira que um dia, me abrigou. Não queria dividir as noites antes do casamento, com ele.
Will era teimoso. Aparecia à porta, sempre tentando me convencer a mudar de ideia ou pedindo para deixá-lo dormir comigo. E quando eu via o desgosto no rosto dele depois da minha negativa, eu simplesmente ria.
Nos casamos na fazenda.
Havia inúmeras garrafas com flores penduradas nas árvores e lindas lanternas. Levamos para fora, sofás, moveis antigos, cadeiras, peças de madeiras e um grande tapete. Assim, depois do casamento, as pessoas poderiam conversar no conforto de uma sala, ao lado de fora. Nas árvores próximas a esse espaço, havia um varal de lâmpadas. As cadeiras onde sentariam os convidados eram todas brancas, assim como o tapete por onde eu passaria.
Da entrada da fazenda até onde seria a cerimônia, colocamos caixotes de madeira, com lindos arranjos de flores brancas e vermelhas e entre um caixote e outro, colocamos placas com nossas fotos. O portão havia sido decorado com flores e a frente, uma placa de madeira escrita "Bem-vindos ao casamento de Heloyse Emily Sanders e William Davies O'Connor".
Algumas peças de madeira foram feitas por Will e Calvin.
Juntamos várias mesas. Foram usadas toalhas brancas, arranjos de flores pequenos e velas completaram a decoração. E mais luminárias artesanais pendiam nas árvores próximas. Também tinha um palco com uma grande roda de carroça enfeitada com fita branca e flores. Uns instrumentos e alguns bancos onde se sentariam a banda de música folk.
Megan, Ashley, Alice, Patsy, Selena e Victoria, seriam as madrinhas e vestiam lindos vestidos azuis bem claros de tecido leve que iam até os joelhos e rasteiras de tiras peroladas.
Tudo tão magnifico.
Meu vestido era off white em um tecido fluído, porém, ganhava um pouco de peso por carregar inúmeras pedras que formavam um bordado de flores por todo o vestido.
Havia um decote em "v", tanto nas costas, quanto na frente. As mangas do vestido, tinham lindas correntes com mini pérolas, formando colares. A saia do vestido era estreita, mas solta nas pernas, estilo sereia. No braço havia uma pulseira feita com o mesmo tecido e o bordado do vestido.
Meus cabelos iam clareando de um castanho para um castanho mel até chegar a um leve loiro nas pontas. Estavam escovados e enfeitados com um headband  detalhado como o vestido. Usei uma rasteirinha com uma tira presa em um dos dedos indo até o tornozelo, cobrindo o dorso dos pés.
Eu me olhei no espelho e respirei fundo. Meu estômago parecia um vidro de shampoo, quando é virado de cabeça para baixo, movimentando uma grande bolha. Fora o meu coração que batia tão rápido.
Minhas mãos geladas seguravam um buquê cascata com uma variedade na folhagem. Tinha uma mistura de flores vinho, roxas e vermelhas misturadas com a delicadeza de flores "chuvisco" brancas e algumas suculentas.
Continuei me olhando no espelho.
"Você fez um bom trabalho e você está linda. Vai casar com o homem que a ama e você também o ama. Nada de nervosismo", eu repetia em minha cabeça.
— Você está linda, querida. Thom teria gostado de vê-la assim.
Cielo enxugou as lágrimas e me abraçou um pouco demorado.
— Eu teria adorado.
— Eu sei. Mas, vamos parar. Sua maquiagem está tão linda. Não quero ser acusada de ter feito a noiva chorar.
Eu sorri e me esforcei para que as lágrimas não se formassem.
Quando Calvin entrou no quarto para me buscar, eu tive que me esforçar mais uma vez.
— Então aí está o raio de sol que clareou aquele menino nublado. Nunca vi Will tão radiante. Wallace teria amado você por tudo o que você é para Will.
— Obrigada pelo carinho Calvin. Vocês são tão bons comigo que... que... Oh, eu amo todos vocês.
Eu peguei nas mãos de Calvin e em seguida o puxei para o abraço. Já não tinha como controlar as lágrimas.
Minutos depois, Megan tinha retocado minha maquiagem e então, entrelacei meus braços ao de Calvin e seguimos para cerimônia.
Era o momento em que o sol estava se pondo e Will queria que nosso casamento fosse naquele horário. Ele disse que gostava da cor que se formava em volta do sol.
Eu não perguntei, porém, sabia que era algo importante para ele, pois ele se perdeu em seus pensamentos.
Na cerimonia, estavam os donos das fazendas vizinhas, os amigos de Wallace O'Connor, convidados por Will, os homens que trabalhavam para ele junto com suas famílias e muitos outros rostos que eu nunca tinha visto. Eu nem sabia ao certo quantos convidados eram.
A pequena sobrinha de Victoria, entrou, carregando um porta-alianças em forma de ninho com uma almofada de veludo, no interior.
O juiz estava atrás de uma mesa, embaixo de um arco feito de galhos e enfeitados com flores brancas e vermelhas. As madrinhas e os padrinhos estavam todos enfileirados.
Também estavam Michael, Jeremy, o senhor Marz, Corey, o noivo de Selena, Johnson e o senhor Zachary, marido de Victória.
Os homens vestiam calça azul no mesmo tom do vestido das madrinhas, camisa branca com gravata, colete e sapatos marrons. Porém, o mais lindo de todos era ele: Will!
Eu tinha escolhido Heavenly Day  como música de entrada e a música agora, ficava um pouco mais alta.
Quando ouvi a letra da música, eu senti as lágrimas transbordarem. Sim, aquele era um dia sagrado. E quando as tristezas viessem, as enfrentaríamos juntos.
Eu estava mais do que feliz.
Conforme íamos nos aproximando, eu podia ver com detalhes o homem que seria meu para o resto da minha vida. Ele vestia calça e colete azul um pouco mais escuro do que os dos padrinhos. Entre o colete e a camisa branca, uma gravata azul tradicional. Os cabelos molhados, penteados de forma impecável.
Ele me olhou com emoção nos olhos, sorrindo e eu sorri de volta.
Calvin me entregou a Will e ele me levou próximo à mesa onde estava o juiz. Na mesa, estava o livro de união civil e uma caneta dourada.
Hiddleston, o juiz, sorriu e começou a falar:
— Apesar de ser um casamento civil, não deixa de ser um casamento. Deus se agrada dessa união, independente de quem a celebra. Independente de ser um juiz ou um líder religioso. A ação em si é o que agrada a Deus. E neste momento, não falo como juiz, falo como o grande amigo que fui de Wallace O'Connor. Gostaria de dizer, William, que seu avô estaria orgulhoso de você. Houve vezes em que ele dizia que você foi um presente que ele recebeu em seu momento de solidão. Havia alegria quando ele falava sobre isso. Então, como amigo do seu avô, quero me considerar seu amigo também e dizer que me alegro com este casamento. Você certamente fará esta linda moça, feliz. Uma moça que demonstra no olhar, que você é especial para ela. Uma moça que mudou algo em você e nos alegramos com isso. Essa moça viu em você a bondade que eu sempre soube que você tinha. Você é como seu avô. Então, falo por todos que, você merece toda a felicidade do mundo, ao lado dessa mulher que certamente, é sua metade. Desejo tudo que os façam felizes e creia que chegou o momento de colher tudo de bom que vocês plantaram até aqui. Desejo toda a felicidade do mundo a você dois. E agora, façam seus votos.
Will sorriu e o abraçou. Pegou o microfone e segurou em minha mão, ficando de frente para os convidados.
— Eu, primeiramente, quero o agradecer, Hiddleton, pelas palavras e pedir perdão por não ter o procurado quando meu avô se foi. Eu me afastei de tudo e de todos e muitos que estão aqui, que também eram amigos do Wallace, sabem do eu estou falando. Peço perdão a todos vocês. Vocês, muitas vezes ligaram preocupados comigo, às vezes, para dar uma palavra de consolo e eu nem os atendia. Ainda assim, estão aqui hoje, neste momento tão especial para mim — ele deu uma pausa. — Eu gostaria que soubessem que me sinto grato. E se hoje eu estou aqui, reconhecendo que agi errado com vocês, é porque algo diferente aconteceu comigo. Algo inexplicável. Eu me apaixonei! — todos gritaram e bateram palmas. — E foi esta mulher linda que está aqui ao meu lado que me fez enxergar quem eu era. Fez-me ver que em meio a tantas coisas ruins, ainda assim, vale a pena viver. Lisy, você sabe que não sou bom com palavras, mas... eu poderia passar a vida inteira falando que a amo e ainda assim, não seria suficiente. Todos deveriam ter alguém que nos faz feliz. Que alegra tudo em nós. Não só a carne, mas também a alma. Alguém que nos ama, mesmo quando achamos que não merecemos.  E com você, encontrei a felicidade. Mas, o eternamente é pequeno perto do que quero viver com você. Então, prometo amá-la, todos os dias, agora e sempre. E não importa quantos obstáculos irão aparecer, eu os enfrentarei ao seu lado. Eu prometo estar do seu lado quando você acordar de mau humor e quiser descontar sua raiva em mim. Prometo estar ao seu lado quando seu corpo mudar totalmente e uma vida se formar dentro dele. Quando você chorar em frente ao espelho e achar que está feia, eu vou dizer que a coisa mais linda que eu vi, foi você, carregando um pedaço de mim. Na doença, mesmo eu não podendo aliviar sua dor, eu estarei lá, por você. Eu serei seu abrigo nos dias tempestuosos. Eu serei seu esposo, seu namorado, seu amigo, seu confidente e tudo o que você quiser. Mas, acima de tudo, quero ser o único homem a habitar no seu coração. Até que a morte nos separe.
As lágrimas desciam pelo meu rosto e por alguns instantes, eu não conseguia falar. Eu peguei o microfone com as mãos trêmulas e respirei fundo. Patsy me deu um lenço e limpei suavemente as lágrimas para não borrar mais ainda a maquiagem.
— Nossa... Me desculpa... Eu estou emocionada... — eu limpei um pouco mais as lágrimas e soltei uma respiração longa. — Eu agradeço a Deus por ter encontrado você. Quanto a mim, prometo te amar pelo resto da vida. Respeitar e cuidar de você. Prometo não deixar faltar amor e prometo te amar de todas as formas. Eu prometo te ouvir, mesmo quando as palavras faltarem. Respirar fundo e com paciência, não brigar... Esse eu vou tentar... — Will e os convidaram riram e então continuei. — Não julgar e tentar compreender. Confiar sem duvidar. E prometo cumprir minhas promessas. Uma vez, eu disse que meu coração estava em pedaços, mas, você os juntou. Então, eu lhe dou meu coração inteiro. É seu, Will, para todo o sempre. E eu vou te amar até o fim da minha vida.
As lágrimas não paravam de cair e quando ele colocou a aliança no meu dedo, não consegui evitar minhas mãos trêmulas. E quando dissemos "sim" um para o outro, eu fechei meus olhos e me derramei.
— Felicidades William e Heloyse O'Connor. E de acordo com a vontade de ambos, que pronunciaram perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados. E por favor, Will, beije sua linda noiva.
Will me puxou. Nos olhamos com lágrimas e então, nos beijamos.
Todos aplaudiam e gritavam, mas, o único som que eu ouvia, era o do meu coração.
Nossos lábios pareciam imãs que não queriam desgrudar. Assim eram nossas almas.
— E então, senhora O'Connor, vamos dançar?
— Só se for agora, cowboy.
Will me beijou novamente e fomos para onde estava montado o palco.
Minutos depois, enquanto alguns comiam e riam, outros, incluindo Will e eu, dançávamos alegremente. Ríamos e gritávamos. Tínhamos formado uma roda que às vezes, girava pra esquerda, outras vezes, para a direita. Batíamos palmas e trocávamos de par. Sempre rindo.
Dancei com o doutor Malerman, depois ele pediu licença, me entregando a Will, enquanto se afastava para fumar seu cigarro.
Este dia, foi um dos dias mais felizes da minha. O primeiro de muitos que viriam.
Eu agradeci mentalmente por Thom ter insistido para eu fosse à Clearwater.
Eu seria grata pelo resto da minha vida.

Headband: Enfeite usado na cabeça, pelas noivas.

Heavely Day: Cantada  por Patty Griffin

UM PONTO DE PARTIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora