Capítulo Cinquenta e Quatro - Foi a melhor coisa que eu fiz

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William

Eu guardei o medalhão com a inicial do nome da minha mãe, no bolso. Fazia um tempo que eu o havia perdido.
"Eu a teria chamado de Angelini."
Heloyse caminhou um pouco com dificuldade até sumir dentro do estábulo. Eu fiquei lá, parado, acreditando na mentira que criei para mim mesmo. Para nós.
Eu sentiria sua falta todos os dias e todos os dias eu me lamentaria da decisão que tomei. Ainda assim, ela nunca mais precisaria chorar por mim. Uma hora, ela iria me esquecer e seguiria sua vida.
Eu a esqueceria?
Heloyse foi a primeira mulher que amei. A única que conseguiu arrancar algum carinho de mim e a única que conseguiu arrancar lágrimas.
Quando eu a tinha aquecida em meus braços, eu me sentia o homem mais feliz do mundo. E por esses momentos de felicidades que eu tive, eu devia isso a ela. Eu precisava deixá-la ir.
Talvez nos encontrássemos na estrada, na cidade, ou até mesmo na fazenda Ferrel e de qualquer forma, eu manteria a distância. Ela merecia recomeçar sua vida. Poderíamos ter feito isso, juntos, porém, quem garantia que mais coisas ruins não aconteceriam a ela, por minha culpa?
"Foi a ultima vez que a feri", pensei comigo.
Horas depois, eu não consegui almoçar. Fiquei olhando para o prato de comida na minha frente e a única coisa que pensei, foi em como minha casa era vazia. Mesmo ouvindo o movimento dos empregados, era vazia.
Calvin e Eva se aproximaram da mesa para almoçar comigo, como sempre faziam. Eu não conseguia olhá-los nos olhos.
Senti a mão da Eva tocar a minha e então, com o polegar, eu a acariciei.
— Estamos aqui por você, Will. Sempre estivemos aqui, por você.
Ela sorriu pra mim e eu balancei a cabeça. Então fiz algo que nunca tinha feito antes.
— Me perdoem! Me perdoem por todas as vezes que eu nunca disse o quanto sou grato por tudo o que fizeram. E por todas as vezes que eu os magoei, me afastando. Eu só tinha medo... Medo de dizer que eu os amava, porque eu nunca soube lidar com esse sentimento. Mas, eu amo vocês, muito!
— Oh, Will, meu filho... — falou Eva, enquanto enxugava os olhos com a palma da mão.
— Também te amamos. Você é o bem mais precioso que temos. Eva e eu, somos gratos por você ter entrado em nossas vidas. Saiba disso.
Eu assenti e escutei todas as coisas que eles queriam me falar.
Comi, mesmo não sentindo o gosto da minha refeição. Eu simplesmente fingi que iria ficar tudo bem.
À noite, eu deixei algumas lágrimas caírem.
Ouvi dizer que homens não choravam. Mas, à noite, longe de todos, escondido na escuridão do quarto, homens poderiam chorar e no outro dia, ninguém saberia.
"Foi a melhor coisa que você fez, Will."
Eu repeti essa mentira, inúmeras vezes.
Dias depois, logo de manhã, eu estava no pasto, em cima do meu cavalo, quando a vi passando próximo à cerca, na caminhonete vermelha.
Eu sabia o que estava acontecendo. Cielo havia ligado minutos antes. Eu não a impedi e eu sabia que me arrependeria.
Voltei para casa e bebi tudo o que podia aguentar. Tirei todos da minha casa e quebrei quantas garrafas eu achasse que deveria quebrar. Eram minhas e eu faria o quisesse.
"Não era liberdade o que queria? Então faça o que quiser."
Quebrei tantas coisas. Deixei-as como eu era: Quebrado! E dane-se se eu tropeçasse e batesse a cabeça. Morrer não me assustava. A vida vinha me assustando todos esses anos.

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