Capítulo Cinquenta e três - A última vez

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Heloyse




Felicidade? Onde ela morava?


Will tinha viajado por quatro dias e nos outros, ele me visitou. Fazia tudo para permanecer no quarto quando Cielo estava também. Quando ela se retirava, ele ficava calado com o olhar perdido em algum ponto fora da janela. Quando eu perguntava sobre a fazenda ou sobre qualquer outra coisa, dava respostas curtas.


Às vezes, eu fingia estar dormindo e com os olhos entreabertos, eu o via esfregar os olhos e dar longas respirações. Outras vezes, acreditando que eu dormia, Will acariciava meu rosto ou tocava a minha mão.


Quando eu seria feliz e quando ele curaria todas as suas feridas?


Éramos feridas abertas, que doíam ao serem tocadas. Eram palavras, gestos, lembranças... Tudo a nossa volta parecia nos fazer cair em queda livre.


Era uma queda atrás da outra.


Um golpe atrás do outro.


Um corte após o outro.


Dez dias depois, o médico havia me dado alta.


Will insistiu algumas vezes, mas, eu não quis ir para sua casa. Fiquei com Cielo.


Todos os dias eu chorava e ela me consolava.


- Cielo...


- De novo chorando, querida?


- Por que ele não vem?


Ela colocou uma cadeira perto da minha e sentou-se ao meu lado.


- O que eu fiz pra ele se afastar de mim?


- Você não fez nada. Mas, ele acha que ele fez. Só o fato de ter machucado você e você ter tido problemas com a gravidez, foi o suficiente para ele se culpar.


- Mas não foi culpa dele. Eu não deveria ter ficado atrás. Onde eu estava com cabeça quando resolvi fazer aquilo? A culpa foi toda minha.


- Nenhum dos dois teve culpa. O único culpado de tudo, foi Johnson. E ontem ele esteve aqui para vê-la e eu não deixei. Também não o deixei vê-la quando esteve no hospital. Ele não é um rapaz ruim, só que quando está com raiva, não mede as palavras. E foi isso que acabou causando seu acidente.


Eu deitei minha cabeça no ombro dela e chorei. Como doía sentir a falta dele.


Will algumas vezes não atendia minhas ligações e nas outras, sempre dizia que estava ocupado e que quando tivesse tempo, viria me ver.


E assim, seguiram as semanas.


Neste tempo, apareceu por três vezes. Não me beijou, não tocou em mim. Me deu remédios e disse a Cielo que se precisasse de algo, não hesitasse em falar com ele.


Ele deu um "até mais" e quando eu disse que o amava, ele parou com a mão na maçaneta, abriu os lábios e disse "fique bem", fechando a porta atrás dele.



***



Um mês se passou até que Cielo me deixasse ir a algum lugar, sozinha.


Eu andava um pouco mancando, pois embora eu não tivesse quebrado as pernas com o impacto do carro, eu tinha alguns hematomas e os músculos doloridos.


Coloquei um chapéu na cabeça e calcei minhas botas.


Eu tinha parado com tudo na cafeteria. Depois do acidente, precisei ficar em repouso absoluto. Eu voltei para a outra casa da fazenda, onde estavam todas as minhas coisas.

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