Capítulo Trinta e Dois - Quando mergulhamos

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Heloyse

Eram quase três da tarde quando Thom ligou perguntando se tudo ia bem. Disse que só voltariam no dia seguinte. A família de Jeremy estava encantada com eles e não queriam deixá-los voltar.

Depois, me sentei na varanda da casa, acompanhada de alguns biscoitos e uma xícara de chá. O sol daquela tarde de sábado estava bem quente e eu me sentia fresca, graças ao banho demorado e relaxante que tomei.

Minha distração foi interrompida quando me assustei com o toque do meu celular. O número era restrito e como eu não acostumava atender telefonemas onde o número não era identificado, eu desliguei. Minutos depois, ligaram novamente, então, atendi.

- Alô!

Ninguém respondeu. Eu ouvi apenas uma leve respiração e depois, desligaram. Certamente era engano embora eu tivesse a sensação de que não era.

Passei as horas seguintes deitada e assistindo TV. Em alguns minutos, eu cochilava, em outros, eu tentava prestar atenção no programa que estava passando.

Lá fora, se ouvia trovões ao longe. O calor tinha sido tão forte que era de se esperar que caísse uma tremenda chuva. Pouco tempo depois, começaram a cair os primeiros pingos. Já passavam das oito da noite quando eu ouvi o som de uma caminhonete chegando. A surpresa foi tão forte, que eu me levantei rapidamente da cama. Calcei meus chinelos e fui até a porta. Segundos depois, ele estava parado, olhando pra mim, através da tela.

Os pingos agora, não passavam de um leve chuvisco e o cheiro de terra molhada invadia toda a casa.

Will vestia uma calça jeans clara e uma camisa xadrez azul. Os cabelos colocados atrás das orelhas e as mãos dentro dos bolsos.

- O que você quer?

- Eu posso entrar?

- Não, não pode.

Will respirou fundo e depois de alguns segundos, aproximou-se mais.

- Por favor, Heloyse, me deixa entrar. Já foi difícil eu vir aqui.

- Difícil? Estar na minha companhia é tão horrível assim?

- Não coloca palavras na minha boca. Só me deixa entrar... Por favor!

Eu sabia que poderia me arrepender, sabia que poderia me machucar. Mesmo assim, eu abri a porta e o deixei entrar.

Às vezes, parecia que me faltava dignidade.

Will entrou sem olhar para o meu rosto e em seguida, se virou, esperando que eu dissesse algo. Apenas apontei para o pequeno sofá, indicando que se sentasse. E assim, ele fez. Me sentei na poltrona e ficamos assim, calados por um tempo, enquanto eu observava seus cabelos brilhando sob as pequenas gotas do chuvisco.

- Ontem você parecia ser outra pessoa.

- Eu sou a mesma, todos os dias.

- Você parecia estar gostando. Não sabia que gostava de dançar, beber...

- Eu não bebo. Quer dizer... Só bebi exageradamente por duas vezes na minha vida. Mas, eu não costumo beber... Muito...

Eu não queria ter me explicado.

- Acredite, você não ganha nada se embebedando.

- Agradeço o conselho - falei com ironia. - Você não disse por que veio.

- Não... Não disse.

- E então?

Will colocou as duas mãos no rosto. O cansaço era tão evidente. Eu também me sentia cansada, em todas as maneiras.

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