Heloyse
De manhã, os raios de sol entraram pela janela aquecendo meu rosto. Uma sensação boa percorreu todo meu corpo e o cheiro de ar puro, entrou pelas minhas narinas. Nunca me senti tão bem assim.L
Olhei para o relógio de parede que já marcava oito e trinta e dois. Escovei meus dentes, escovei meus cabelos e fui para cozinha tomar café.
- Bom dia, Lisy. Sente-se e tome seu café. Espero que goste de bolo. Tem café nesta garrafa, leite ali e chá nesta outra. Fiz pães e panquecas. Se quiser mais alguma coisa, é só me falar.
- Está tudo perfeito. Obrigada! Onde está Thom e Megan?
- Thom foi até a casa de Will, acertar um pagamento e Megan foi à fazenda dos White, visitar uma amiga. Ela queria que você fosse, só que eu não deixei. Preferi que você ficasse descansando.
- Eu realmente estava muito cansada.
- Percebo isso. Agora coma tudo e se quiser mais alguma coisa, é só me falar.
Eu lhe dei um sorriso iluminado e agradeci.
- Queria dar uma volta pela fazenda. Eu posso?
- Oh, isso seria ótimo. Aproveite o dia.
Depois do café da manhã, lavei a louça. Cielo foi lavar roupa e saí para poder conhecer o lugar.
A construção era antiga, aparentemente reformada. Entrei no celeiro onde havia a caminhonete cinza de Thom e uma caminhonete vermelha. Era conservada, apesar dos anos. Ferramentas e rações eram guardadas ali. Havia outros celeiros no local. No pasto, vacas com seus novilhos tomavam sol. Debaixo de uma árvore, dois cavalos descansavam. Um velho moinho de vento fornecia uma longa sombra, onde algumas galinhas e seus pintinhos ciscavam a procura de vermes. Ao longe, as montanhas completavam aquela paisagem, como um grande quadro. Era uma obra de arte.
Fui em direção aos fundos da casa e observei Cielo estender as roupas no varal. Me sentei em uma cadeira da varanda. Eu estava levemente feliz por estar ali. O lugar era úmido e quente, mesmo assim, não deixei de notar a beleza.
- Temos um rio aqui perto, querida. Você iria adorar. Fica na propriedade dos O'Connor.
- Thom me disse que a cidade foi fundada por eles.
- Isso mesmo. E William O'Connor tem uma fazenda que acho que é um milhão de vezes maior que a nossa.
- Vocês gostam muito desse senhor.
- Sim, gostamos muito. Ele nos ajudou em nossos negócios e somos muito gratos a ele. Além do mais, ele é um homem sozinho e tem um gênio difícil. Não gosta muito de se relacionar com o restante das pessoas. É muito reservado. Mas, nossas famílias sempre foram amigas.
- Então é podre de rico?
- Muito! Além do gado que os O'Connor criaram através do cruzamento de duas raças, Will os vende para grandes empresas daqui e de outros países. Ele tem uma criação de cavalos selvagens. Em outra parte do rancho, ele cria cavalos quarto de milha. Depois tem mais duas raças de cavalos que ficam no lado oeste da fazenda.
- Corrigindo - eu sorri -, milionário.
- Oh, sim. No entanto, ele trabalha como qualquer um dos seus funcionários e estes, moram em uma parte da fazenda. São mais de cento e poucos funcionários e cada um, mora com sua família. Lá, eles têm suas casas, como se fosse um bairro. Durante o dia, Will se junta a eles para cuidar do gado, dos cavalos e dos afazeres da fazenda. Ele também tem plantação de algodão, lavanda, fora os poços de petróleo. Já em Houston, ele tem uma empresa responsável pela produção de grão de milho, mas, ele deixa tudo nas mãos dos funcionários. Só vai lá quando é realmente necessário.
- E ele é do tipo simpático ou mal humorado?
- Como eu disse, ele tem um gênio difícil. Extremamente difícil. Apesar de que, com Martin era diferente. Eram muito amigos.
Eu vi tristeza no rosto de Cielo e então retornei ao foco do assunto.
- Eu queria ir a este rio, mas, não sei se o senhor O'Connor iria gostar.
- Imagina! Você está conosco. Ele não se importará. Se você não estiver à vontade, pode ir para o lado onde o rio sai da sua propriedade.
- Uma hora dessas, irei.
À tarde, minhas coisas estavam na pequena e aconchegante casa de madeira, onde um dia, foi moradia de algum funcionário de Thom. Ela ficava um pouco afastada da casa dele, porém, dentro da sua fazenda. De frente da casa, um pouco distante, havia um portão de madeira, que dava para a estrada.
Thom realmente não gostou da mudança e eu o tranquilizei dizendo que se algo acontecesse, eu ligaria na casa dele. Ele deixou sua caminhonete vermelha comigo.
A pequena casinha tinha telefone, um quarto, uma sala integrada com a cozinha e um banheiro. Era aconchegante e apesar de ter estado fechada, não tinha um cheiro forte de poeira.
Não precisei comprar nada, porque Thom insistiu para que eu levasse alimentos de sua casa. Ele trouxe uma televisão que não usavam e algumas peças de roupa que Megan não usava mais. Ela havia perdido peso depois que começou a frequentar a faculdade. Eu tentei explicar que não ia passar muitos dias ali e eles, pareciam não me ouvir.
Depois de tudo em seu lugar, Megan e Cielo apareceram com alguns biscoitos, pães e uma garrafa de café quente, forro de cama e duas mantas.
-Tem certeza que quer ficar aqui? Lá em casa você poderá desfrutar minha companhia. Tem coisa melhor?
- Eu não posso negar.
Megan piscou olhos e sorriu.
Na manhã seguinte, eu fiz meu café da manhã, arrumei a casa e saí em direção à casa de Thom. O dia estava quente.
Observei a estrada do outro lado da cerca e avistei dois senhores em cima de seus cavalos numa conversa calma. Quando me viram, ambos tiraram o chapéu como um cumprimento. Eu sorri e joguei um "bom dia" para eles.
Do outro lado da cerca, um gado, que não era o de Thom, pastava tranquilamente. Eu nunca tinha vistos bovinos tão grandes e bem cuidados como aqueles.
Ao longe, alguém observava o pasto de cima de um cavalo. Não dava pra ver quem era, mas, com certeza, seria algum empregado da fazenda vizinha. Essa fazenda era enorme. A visão da cerca acabava sendo ocultada por fileiras de arvores.
Cheguei à casa dos Ferrel. Era esse o nome que estampava a entrada da casa de Thom. Cielo estava indo em direção ao galinheiro e sorriu quando me viu usando as botas e uma camisa xadrez que faziam parte das roupas da Megan. Eu avaliei meu jeans rasgado e sorri também.
- Vejo que está entrando na moda.
- Acho que sim. Você aprova?
- É claro! Está linda. Agora venha, vou pegar alguns ovos.
Ajudei Cielo a fazer duas formas de torta. Ela ficou encantada quando eu disse que aquela era uma das minhas especialidades.
Eu tinha feito planos de sair e cabei desistindo. Preferi ter aulas básicas com Thom, de como montar em um cavalo. Encantei-me com Trovoada, uma égua marrom e um pouco teimosa. Três dias depois, consegui montar tranquilamente na égua.
Sim! Três dias depois e a vontade de ir embora, não vinha.
- Ganhei Trovoada de Will. Marinheiro, meu cavalo, morreu de velhice e Will me presenteou com esta égua, em seguida.
- Marinheiro?
- Si. Ele era todo branco. Foi o único nome que me veio na cabeça.
- Boa escolha.
- Martin o adorava. Montou nele por várias vezes.
- Thom - eu parei meus passos e coloquei a mão no braço dele -, eu sinto muito por sua perda. Eu queria que você não tivesse passado por isso. Vocês não mereciam. São pessoas tão boas, e eu entendo sua dor. Deveria ser proibido, pessoas boas passarem por algo assim.
- Deveria si. Mas, sabe? Um dia todo mundo tem que ir. E todo mundo está ciente disso, mas, ninguém aceita quando chega a hora. Infelizmente, ela vem.
Enquanto Thom escovava os pelos de Trovoada, eu observava como ele era paciente. Era um homem calmo e que escondia a dor que sentia quando falava do filho falecido. Martin havia morrido há alguns anos e, eu sabia que os anos podiam passar, a lembrança da dor estaria ali.
Ainda assim, ele mantinha-se calmo quando falava sobre o assunto, embora, eu soubesse bem o que ele sentia.
- Venha, Lisy! Vamos ver o que Cielo preparou.***
Já havia passado uma semana.
"Para onde foi a vontade de sair sem rumo"? Eu me perguntava mentalmente.
- Espero não estar incomodando.
- Não é incomodo nenhum, Cielo. Eu acho que estou começando a não querer ficar sozinha. A companhia de vocês me faz muito bem.
- Isso me alegra, querida - disse, seguindo de um amplo sorriso.
- Vamos tomar chá?
- Vim por este motivo. Você sabe que eu adoro um chá. Apesar de que, eu não tinha costume de tomar todos os dias e depois que você chegou aqui, eu até que estou gostando.
- Boston tem sua história com chás. Eu gosto de café, porém, chá me encanta.
Ela sorriu, contudo, não deixei de notar o semblante abatido.
- Você não está muito bem, não é?
- É que desde que Megan foi pra faculdade, estou desse jeito. Ela vem pra cá uma vez no mês. Desta vez ela veio passar alguns dias e amanhã ela retorna. Próximo ano será o seu último na faculdade. Estou sofrendo em todos esses anos. Quando ela está lá, eu fico tão preocupada. Tem esse noivo dela, o Jeremy. Parece ser um rapaz bom. Ele é muito educado. É que eu tenho medo de que as coisas não deem certo. A família dele tem muito dinheiro e nós, nem chegamos aos pés deles. Meu medo é que a tratem como se ela fosse inferior a eles.
- O que Thom acha disso?
- Ele gostou muito do Jeremy. O rapaz veio até nossa casa e confesso que aparenta ser humilde. Porque você sabe, humildade não tem nada a ver com seu status financeiro. Então, Thom disse a Megan que ela já é adulta, faz suas próprias escolhas e que nós sempre estaremos aqui quando as coisas não derem certo, que se ela quiser conversar, lembre-se de nós primeiro, porque ela sabe que sempre queremos seu bem. Megan nos conta tudo. Bom, nem tudo, não é? Mas, o importante, ela nos conta, que é sobre estar sim ou não, feliz.
- Vocês são bem ligados, não é?
- Quando Martin se foi, a família ficou abalada, é claro, mas, o que nos manteve de pé, é a união que temos. Ensinamos aos nossos filhos que a família é tudo e na hora do sofrimento, a ajuda, a companhia do outro, são necessários.
- Fizeram um bom trabalho.
- Acho que sim, graças a Deus.
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UM PONTO DE PARTIDA
RomanceApós a morte de sua família, Heloyse se apegou a quem esteve do seu lado durante este momento difícil. De repente, encontrou-se abandonada, sem um rumo ou uma motivação para seguir em frente. Até que em um determinado momento da sua vida, resolve sa...