Fragmentos do passado

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As aulas nesse dia centravam-se sobretudo no período da manhã e por isso, Levi tinha a tarde livre para se dedicar ao castigo de Eren que seria dispensado da única aula que não gostava de faltar: educação física. O rapaz sabia que o diretor devia ter feito isso de propósito para assim obrigá-lo a passar horas debaixo das ordens de alguém que dificilmente conseguia suportar. Embora tivesse que admitir que tendo em conta o que tinha acontecido horas antes no bar, poderia sentir-se um pouco mais confiante.

Se o professor aparecesse à sua frente tão perplexo e paralisado como o tinha visto horas antes, a tarde até poderia ser divertida. O sorriso que Eren tinha no rosto preocupou tanto Mikasa como Armin que sabiam que dali não poderia vir nada de bom. Por que razão estaria o irmão e amigo tão satisfeito por ir passar uma tarde nas limpezas? Os dois continuavam sem saber que o professor Levi tinha encontrado Eren num bar à noite. Desconfiavam que se passava alguma coisa quando viram um ar apreensivo de Connie durante o almoço que nem se conseguia concentrar na comida à sua frente. Isto deixou a namorada feliz já que pôde devorar grande parte do almoço dele sem que este dissesse grande coisa.

Isto fez com que Christa quisesse oferecer parte da sua comida para compensar o apetite voraz da Sasha, mas Ymir disse que a estupidez não devia ser motivo para ela ter pena.

– É uma pena não poder ir ajudá-los. – Disse Christa ao ver Eren levantar-se da mesa para ir ao encontro do professor Levi. – Gostava de ajudar nas limpezas das salas.

– Esquece, Christa... o castigo é do Eren, ele que limpe sozinho. – Comentou Ymir enquanto dava uma dentada numa maçã vermelha.

– Eren, por favor, não abuses da paciência do professor Levi. – Pediu Armin pouco convencido com a resposta do amigo que acenou e parecia demasiado satisfeito para quem ia ter uma longa sessão de limpezas.

Eren fechou casaco de malha cinzento ao sair do refeitório. Não chovia, mas corria uma brisa gélida que o fez andar um pouco mais rápido para entrar no edifício onde se encontravam as salas de aula. Dirigiu-se até ao piso inferior, onde antigamente vários clubes se encontravam. A meio do corredor e de costas estava o professor Levi. À frente dele, um arsenal de produtos de limpeza, mas não era exatamente isso que chamava a atenção do adolescente que teve vontade de rir ao ver o lenço no cabelo e na boca do professor. Começou a imaginar que só faltava aquele homem encomendar um daqueles fatos para evitar as radiações e estaria perfeito. Aclarou a garganta para se fazer notar e recebeu de imediato um comentário ríspido:

– Já te tinha visto aí antes. Estás à espera do quê para te mexeres? Um convite?

– Tão agressivo, professor. – Ironizou, dando alguns passos lentos na direção de Levi que o encarou com o olhar indiferente a que habituava todos os seus alunos. – E pensar que há poucas horas até o deix...

Rápido e inesperado. Seriam os adjetivos ideais para classificar o que se seguiu àquela interrupção. Num gesto imprevisível, Levi agarrou o rapaz pelo casaco e encostou com alguma violência contra a parede fria. A força foi tal que Eren sentiu uma forte dor de cabeça que por momentos parecia ter-se irradiado pelo corpo todo. Teve inclusive de fechar os olhos por alguns segundos, pois a sua visão escureceu por breves instantes.

Ao ter a sua visão de volta, os olhos gélidos e com tonalidades acinzentadas fizeram-no tremer dos pés à cabeça. Eren nem entendia de onde vinha tanto pânico. Em condições normais, já teria no mínimo tentado dar-lhe algum soco. Só que aquela expressão era intimidante, a forma como o tinha dominado era aterradora e sentiu-se tremer. Ele que não se rendia perante nada nem ninguém estava com medo. O corpo não respondia. A voz sumira. Não tinha coragem de fazer coisa alguma.

Destinos EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora