Saltos no tempo

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*_Eren_*

Depois do pedido de casamento, além do rubor quase sempre presente no rosto dele, reparei que as respostas deixaram de ser muito elaboradas, deixando que eu ocupasse os espaços vazios da conversa. Mesmo assim, eu ainda estava emocionado com a paisagem à nossa volta que as poucas palavras que me dirigiu, não diminuíram em nada a felicidade que sentia naquele momento.

Uma promessa cumprida e ao lado daquele com quem sabia que queria passar o resto da minha vida.

Nada podia ser mais perfeito.

Quando voltámos para o apartamento, esperava passar as horas seguintes nos braços dele, mas surpreendi-me quando após cortar de imediato um beijo que lhe dei, pediu que me sentasse na cama e ao contrário da confiança que sempre demonstrava, mantinha uma postura algo acanhada e silenciosa.

Questionava-me o porquê do comportamento dele até que foi a uma das gavetas e retirou o caderno que ainda costumava usar por vezes e encostou-o ao peito por alguns momentos, como se pensasse em algo.

– Levi? – Chamei curioso.

Ele olhou para mim e deu alguns passos até parar à minha frente. Vi que estava ruborizado e deixou de ter o caderno encostado a ele, estendendo-o na minha direção.

– Pediste para casar comigo, mesmo que não tenhas a noção de tudo o que alguma vez pensei ou senti sobre nós. Nem sempre é fácil verbalizar estas coisas e durante este tempo em que... em que tudo esteve tão confuso na minha cabeça, deixei de pôr tantos entraves a tudo. Eu queria que visses. Queria que soubesses o que não me atrevi a dizer, o que mais ninguém sabe.

Peguei no caderno e antes que pudesse dizer alguma coisa, ele saiu do quarto.

Pelos vistos, queria dar-me espaço e provavelmente recompor-se, visto que se notava como estava embaraçado com aquela situação. Ainda assim, teria que confessar que tinha curiosidade acerca do conteúdo do caderno. Nunca espreitei e respeitei sempre a privacidade dele, mas no fundo esperava que algum dia se abrisse comigo sobre esse assunto, embora nunca tenha esperado que me entregasse o objeto em mãos.

Recostei-me contra uma das almofadas da cama e abri para encontrar uma primeira página com uma data e poucas linhas escritas. Basicamente, falava que tinha sido Irvin a sugerir que utilizasse o caderno para manter um registo das memórias que fosse recuperando.

A meio da página havia mais algumas linhas com uma data do dia seguinte e frases curtas sobre o que tinha feito e que não havia nada de novo que tivesse recordado.

Fui folheando e lendo os dias que se seguiram e não tardou muito até que encontrasse uma referência minha, nomeadamente acerca do primeiro dia que nos vimos depois de ele ter acordado.

"Devia pedir desculpa aquele rapaz, Eren Jaeger, mas tenho medo de sentir o mesmo. Ele não merecia que tivesse falado daquela forma ou que o tivesse expulsado do quarto, mas realmente podem culpar-me por não querer sentir dor?

Mesmo assim, sinto-me culpado.

É das coisas que me tira o sono durante a noite. A expressão que recordo no rosto dele, assim como também de outras pessoas para quem parece que significo bastante... e infelizmente, eu não encontro sentido"

As palavras dos dias seguintes vagueavam entre descrições vagas das atividades que tinha realizado e as palavras que tentavam transmitir como se sentia, estando tão confuso e vazio. Chegou mesmo a escrever que doía pensar, tanto quanto doía respirar. Falava várias vezes que tinha medo. Repetia incessantemente que não entendia a razão para ter despertado para encontrar uma realidade que não lhe dizia coisa alguma e só fazia os outros sofrerem à sua volta.

Destinos EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora