Pedido

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– Professor Levi?

A voz do rapaz de olhos azuis chamou a atenção do professor, sobretudo quando ao longe viu os seus amigos com um ar insatisfeito continuarem o seu caminho. Depois do que tinha acontecido, não deviam entender o que Armin poderia querer falar com aquele homem que deixara bem claro que não ia mudar nada do seu comportamento.

– Será que posso trocar algumas palavras consigo? É importante. – Pediu o aluno um pouco nervoso, mas mesmo assim decidido a levar para a frente aquela conversa.

Levi honestamente só queria sair daquela escola e ir para casa, beber qualquer coisa para acalmar as dores de cabeça que provinham daquela manhã detestável e claro da insónia provocada por aqueles sonhos estranhos.

Contudo, sentia alguma curiosidade sobre o que teria aquele aluno para lhe dizer por isso, disse que o acompanhasse até ao seu gabinete. Sim, ele era dos poucos professores que tinha tido direito ao seu próprio espaço. Não tinha que partilhar com nenhum colega. Essa fora uma das suas condições antes de assinar o contrato.

Desse modo, a arrumação e limpeza do espaço eram impecáveis porque estavam a seu cargo. Isso fez com que Armin quase tivesse medo de sentar-se naquele local que parecia quase sagrado e ao mesmo tempo fascinante, pois estava repleto de livros.

– Do que queres falar? – Levi não gostava de rodeios. Ia direto ao ponto e sinceramente esperava que não fosse sobre a matéria dada nas aulas.

O rapaz respirou fundo e apertando o tecido dos calções nas suas mãos, encarando o professor, disse:

– É sobre o Eren.

– Por favor, não venhas defender o teu amigo. Se essa é...

– Não se trata de defender, senhor. Só gostava que... – Hesitou um pouco, mas decidiu que não podia parar por ali. – Por favor, não seja apenas mais um professor nesta escola que vai tratá-lo como marginal. Não seja apenas mais um desses que não tentam sequer entendê-lo.

Aquilo era um tanto inesperado e Levi de braços cruzados, sentado atrás da secretária, esperou que o rapaz terminasse o que tinha que dizer.

– Não quero de forma nenhuma colocar em causa o seu profissionalismo, mas há muitos professores que chegam às aulas, entregam-nos fichas e fazem-nos preenchê-las até ao fim da aula. Debitam matéria sem nunca se preocupar se estamos ou não a aprender alguma coisa. Passam a aula a ler Powerpoints e mal olham a nossa cara. A maioria chega ao fim do ano sem sequer saber os nossos nomes, as nossas dificuldades ou por que razão alguém faltou. É como se não quisessem saber, sentimo-nos como se ninguém quisesse saber de nós. – Armin nem queria acreditar que estava a ter coragem de dizer aquilo em voz alta e sobretudo à frente do temido professor Levi que com aquela expressão indiferente, era difícil de dizer se ia saltar por cima da mesa e castigá-lo a qualquer momento ou se estava a ponderar sobre as suas palavras. – Acho que cada vez menos há uma ligação entre os professores e os alunos. Acho que isso prejudica muito a qualidade do nosso ensino e...gostava que o senhor, a quem tanto admiro, fizesse algo diferente. A maioria castiga, dá sermões e raramente se questiona do porquê que o Eren age daquela forma. Ninguém se senta com ele para conversar. Todos os dias só lhe atribuem acusações ou rumores. – Coçou um pouco a cabeça. – A professora Hanji pode ser... especial, mas foi a primeira que em tantos anos se sentou connosco e perguntou o porquê. Ela quis tentar entender e mesmo que a Mikasa ou eu não tenhamos conseguido explicar-lhe bem... ela ouviu, ela quis saber. Acho que é por isso que o Eren mesmo não tendo dito uma só palavra, começou a ter respeito por ela... porque ela não entrou na sala e começou a acusá-lo, a gritar com ele, a dar-lhe sermões de como devia ou não fazer as coisas. Ela sentou-se à sua frente e quis saber o porquê.

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