Altos e baixos

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Após anos sem qualquer viagem escolar, na última semana de aulas de dezembro, foi feita a prometida viagem. Os professores tiveram que corrigir testes e decidir as notas do primeiro período em menos tempo, não só por causa da data da viagem, mas também devido às obras que iriam começar durante as férias.

A viagem não teve qualquer custo para os alunos que apenas tiveram que levar um papel para casa para que os pais autorizassem a ida dos filhos a uma estância na neve por cinco dias. O local tinha escolhido por Levi, alegando deviam aproveitar a montanha que ficava a alguns quilómetros da cidade e muitos não visitavam o local por ser sobretudo turístico e caro. Porém, o professor conseguiu persuadir os responsáveis a fazer um desconto especial para estudantes.

O diretor Irvin já tinha começado a referir-se ao professor de História e Português como seu braço direito que agora ajudava na gestão do dinheiro que tinham recebido como recompensa. Entre contas que duraram alguns dias, conseguiram dividir várias parcelas para as bolsas escolares dos alunos mais carenciados, renegociaram também o preço dos alimentos no refeitório, escolheram entre várias empresas de construção: a que oferecia o melhor preço e perspetivas de um trabalho bem feito no tempo estipulado. Em suma, começaram por gastar dinheiro no mais essencial, acabando por chegar aos gastos em viagens. Não restaria assim tanto e por isso, Levi até chegou a sugerir que não se importava de desta vez, preparar algo com mais tempo e com o Colégio Sina.

Contudo, o diretor concluiu que de momento conseguiriam equilibrar as contas e que depois poderiam pensar nessa hipótese. Ao ver a sua cabeça tão ocupada com o trabalho relacionado com as aulas e a gestão do gastos na escola, Levi teve pouco tempo para pensar na última conversa que teve com Eren que se recusava a aparecer na maioria das suas aulas. Quando aparecia, demonstrava que estava ali contra a vontade e apenas para não exceder o número de faltas e não perder trabalhos ou testes.

O professor também cumpria o seu papel, não falando mais do que aquilo que era estritamente necessário. A maioria dos estudantes não ligava muito a essa súbita mudança de comportamento por parte dos dois que estiveram bem mais próximos antes e durante a competição do Colégio Rose. Somente os amigos mais atentos ou curiosos notavam isso e Armin estava cada vez mais preocupado com o amigo que a cada dia que passava, tinha um comportamento que o fazia recordar um dos piores momentos do seu passado no orfanato. Aquele em que viu durante meses o olhar perdido e a expressão apática que acompanhou Eren antes que pudesse novamente falar e voltar a sorrir ao seu lado. De alguma forma, o que quer que tivesse acontecido, estava a fazê-lo trancar novamente as emoções e quando as demonstrava, apenas a raiva parecia sobressair. À conta disso, sabia que o amigo andava a meter-se novamente em confusões por perder a paciência à mínima provocação que lhe dirigiam.

Além disso, Eren passava várias noites sem dormir em casa. Num primeiro instante, Armin pensou que o amigo tivesse arranjado alguma namorada nova, mas Jean esclareceu que o amigo andava a ajudar no bar do Pixis a servir mesas. Isto tudo porque queria fugir às perguntas dele e também às noites mal dormidas.

Claro que isso deixava Mikasa cada vez mais ansiosa e angustiada por ver o irmão entrar naquela espiral depressiva. Nem mesmo Annie com quem, às vezes Eren se abria, sabia ao certo o que se passava.

– Posso saber porque não queres ir, Mikasa?

– Eren... vais ficar sozinho? – Perguntou a irmã num tom triste.

– Ficávamos mais contentes se viesses connosco. Sempre disseste que querias ver algum sítio com neve. Então, porque não vens? – Tentou argumentar Armin.

– Já disse que não vou, mas não quero que percam a viagem por minha causa. – Essa foi a última resposta que deu aos amigos antes de sair de casa.

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