Conversa inadiável

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*Eren*

Passava um pouco das três da manhã quando abri vagarosamente a porta de casa. Não queria que a Mikasa ou o Armin me vissem a chegar àquela hora. Não pelas perguntas sobre onde estava porque ambos sabiam que era noite de espetáculo.

Porém, sabia bem que me iam perguntar porque tinha passado o resto do dia fora de casa e na companhia do Levi. Sinceramente, ainda não tinha pensado muito bem em como explicar toda aquela situação e nem como iria ser discreto com as pessoas mais próximas que eram como irmãos para mim.

Fechei a porta com cuidado e foi então que quase o primeiro ataque cardíaco da minha vida. A luz de um pequeno candeeiro acendeu e vi o Armin sentado no sofá com um ar que quase nem reconhecia. Faltava apenas estar a acariciar um gato branco sobre as pernas e seria o vilão perfeito. Forcei um sorriso.

– Estavas à minha espera? – Arrisquei perguntar.

– Há horas.

– A Mikasa? – Perguntou com a garganta seca.

– Pedi um Xanax à nossa vizinha do lado e desfiz num sumo. Ela bebeu e está a dormir há horas.

– Drogaste a minha irmã? – Indaguei incrédulo.

– Não podemos adiar esta conversa, Eren. – Disse e apontou para o sofá. – Senta-te e vamos pôr tudo em pratos limpos.

Não era uma hipótese ou sequer uma sugestão por isso, sentei no sofá ao seu lado. Era estranho vê-lo tão sério e tão decidido ao ponto de ir ao extremo de dar um calmante à minha irmã para podermos conversar. Perguntava-me o que poderia ser assim tão sério ou grave para chegar a esses extremos.

Além disso, o semblante carregado também indiciava que o que quer que fosse, não iria gostar da conversa, ou seja, não seria uma boa conversa para nenhum dos dois.

– Passaste a tarde na casa do professor Levi? – Perguntou após um silêncio incómodo.

– Sim. – Confirmei.

– Posso saber porquê? Eren diz-me a verdade, o que se passa entre ti e ele? – Perguntou sem rodeios. – Pelo amor de Deus, diz-me que é coisa da minha cabeça.

Mentir? Devia mentir? Sei o quanto ele não ia gostar da verdade, mas era o meu melhor amigo e não havia forma de esconder o que se passava, vivendo debaixo do mesmo teto. Aliás, ele lia a minha cara e a minha postura muitas vezes com uma perspicácia que chegava a ser perturbadora. Portanto, mesmo que tentasse mentir ou até fugir à pergunta, acabaria por cair em alguma armadilha criada por um raciocínio que o colocava como o aluno com as melhores notas na escola Maria. O que para mim não era uma surpresa porque desde que o conheço, sempre soube que ele era alguém que merecia muito mais crédito do que aquele que lhe davam.

Os meus pensamentos regressaram à realidade à minha frente e perante isso, decidi que não ia mentir.

– Ele... é importante para mim, Armin. – Disse, corando ligeiramente.

A expressão dele passou de surpresa para o nível de incredulidade, desapontamento e por fim, raiva. Tudo numa pequena fração de segundos.

– Perdeste a cabeça?! – Perguntou num tom pouco habitual que raramente ouvia dele, sobretudo dirigido a mim.

– Armin, podia ter mentido e ao menos podia dar-me crédito por isso. – Falei, recostando-me com uma postura desinteressada no sofá.

– Ele é mais velho, é professor e é teu professor na nossa escola! – Enumerou. – Será que não entendes que se as pessoas erradas ficam a saber disto, a carreira dele está arruinada?! Não haverá quem lhe dê emprego e com tantos processos disciplinares, ainda vai acabar na cadeia! Pensaste bem sobre isso, Eren?

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