Limite

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Contra os conselhos dos amigos, Eren saiu da cama bem cedo. Desta vez, sair de casa não se relacionava com trabalho e sim com o primeiro dia de aulas. Embora soubesse que ia ouvir algum sermão do professor, queria vê-lo e também estava curioso quanto ao resultado das obras na Escola Maria. Christa e outros amigos já tinham passado pelo recinto escolar e diziam que palavras não eram suficientes para explicar a transformação da escola e por isso, insistiram que teriam que ver com os próprios olhos.

Consequentemente, esquecendo as tremendas dores de cabeça que se espalhavam desde do dia anterior por todo o corpo, os arrepios, as tonturas e todo o mal-estar que o acompanhava há horas ininterruptas, Eren saiu de casa com a irmã e o melhor amigo a vigiá-lo de perto. Os dois estavam resignados. Não tinham conseguido convencê-lo a ficar em casa, apesar de toda a preocupação que demonstraram ao ver o estado de saúde do adolescente deteriorar-se a olhos vistos.

Somente quando estavam dentro do metro, Armin recordou-o que Levi não iria aparecer ali. O professor tinha avisado que precisava levar algumas coisas para o seu gabinete e por isso, seria mais cómodo carregar as coisas no carro. Ainda assim, isso não demoveu a vontade de Eren em ir para a escola. Pese embora que a certa altura do caminho, deixou a cabeça cair contra o ombro de Mikasa, uma vez que já mal suportava o peso do próprio corpo. Escondia não só da irmã, como do melhor amigo as náuseas e a dor no peito cada vez que tossia. Esperava que a medicação que Annie lhe tinha dado, acabasse por surtir efeito. Não queria acabar no hospital. Não com tantas despesas iminentes e muito menos, depois dos acontecimentos recentes. Queria evitar um local que só lhe trazia más recordações.

O tempo também não ajudava na recuperação. A chuva estava de volta e vinha acompanhada de um vento que cortava a pele. Pelo menos, era essa a sensação que tinha cada vez que se encontrava ao ar livre. Habitualmente, não era muito friorento e o fato de ter arrepios constantes de frio e ter que conter a vontade de bater os dentes, deixava bem óbvio, o seu estado adoentado.

Quando encontraram Christa, Ymir, Sasha e Connie pelo caminho, as atenções desviaram-se um pouco do adolescente de olhos verdes que se manteve pouco participativo na conversa. A cabeça latejava com tal intensidade que parecia utilizar um mecanismo de defesa para distanciar-se da realidade e assim, evitar tudo o que pudesse piorar a situação. Para isso, bastava algum riso ou tom mais elevado.

Desconfiou também que os seus ouvidos estivessem excessivamente sensíveis, mas não podia ter a certeza, de onde provinham todos os focos de dor, pois o mal-estar encontrava-se bem disperso por todo o corpo.

Desde que tinham começado as férias de Natal, os três adolescentes nunca mais tinham passado perto da escola e por isso, foi com surpresa que ao virar a rua viram a quantidade de alunos e outros curiosos que olhavam estupefactos para os edifícios que se erguiam. Não só aquele que era o edifício único estava renovado, como havia outro mais atrás, acompanhado de um pavilhão e alguns campos ao ar livre. Os espaços degradados e até com entulhos acumulados tinham dado lugar a um aproveitamento sustentável e inteligente do local onde a escola se localizava. Graças a isso, em tão pouco tempo, um edifício cinzento dava lugar àquilo que muitos finalmente poderiam chamar de escola.

Alguns trabalhadores ainda terminavam alguns acertos e não escapou à atenção de ninguém que os grafites feitos pelos alunos por sugestão do professor Levi, continuavam a adornar os muros da escola. Como se tivessem pedido que não destruíssem o trabalho dos alunos que entravam com curiosidade e entusiasmados na escola. Uma atitude bem diferente da rotina e que chamou a atenção dos residentes próximos que elogiavam as obras e agora, podiam dizer que se orgulhavam do local onde os filhos estudavam.

– Parece que estudamos num colégio de riquinhos. – Comentou Connie que caminhava no corredor à frente dos amigos de mãos dadas com Sasha que também admirava cada recanto da escola.

Destinos EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora