Cíclico (parte 3)

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Mikasa agarrava o irmão pelo braço, chamando-o à razão. Tentava impedir que saísse, pois pressentia que ele queria resolver as coisas da pior maneira. Trocavam palavras ríspidas entre eles quando ao entrar na sala Nanaba viu como o rapaz se libertava da mão da irmã e corria pela porta fora. Tentou segurá-lo, mas Eren foi mais rápido. Empurrou vários agentes da polícia, ignorou as vozes dos amigos e até de Sarah que tentava alertá-lo para o facto de não poder abandonar o local sem prestar declarações à polícia.

Contudo, nada disso lhe interessava.

A única coisa que conseguia pensar era na situação que todos os seus amigos estariam envolvidos se nada fizesse. Se os problemas apenas o atingissem a ele, a reação não teria sequer metade da intensidade. Só que a ideia de que o banqueiro contratasse um assassino não para o matar, mas para possivelmente eliminar pessoas à sua volta para o enlouquecer, deixava-o fora de si. Da mesma forma como tinha acabado com a vida de Hitch, o jovem de cabelos castanhos e rebeldes sabia que com a mesma frieza, tiraria a vida dos seus amigos. E não que Hitch lhe fosse totalmente indiferente, pois apesar de todos os rumores que o cercavam, não lidava com a morte de sempre com frequência.

Aliás, se refletisse acerca do assunto diria que nunca tinha visto ninguém morrer à sua frente. Quando muito teria encontrado alguém sem vida, mas presenciar o ato de tirar a vida a alguém deixou-o mais perturbado do que imaginava. Mesmo ele que se julgava capaz de matar alguém, principalmente aquele que tinha arruinado parte da sua infância.

Depois de sair do café Kitten, sabendo que a qualquer momento Levi poderia segui-lo, aventurou-se pelas ruas que conhecia como a palma das suas mãos: os becos, as saídas e entradas invisíveis aos olhos menos atentos. Mergulhou no labirinto daquelas ruas, onde pouco ou nada de bom acontecia habitualmente.

Quando queria desaparecer, ficar sozinho, enfiava-se naquelas ruelas e caminhos estreitos e cruzava-se com rostos desconhecidos e de aparência duvidosa até encontrar um local onde pudesse ficar e acalmar os seus pensamentos.

No entanto, naquela ocasião não procurava uma coisa dessas. Queria somente despistar qualquer pessoa que viesse à sua procura, inclusive e acima de tudo, Levi.

A ideia de que o pudesse perder criava no seu interior a certeza de que jamais ultrapassaria uma coisa dessas. Seria o último empurrão em direção ao precipício. Todo o resto perderia o sentido.

A sensação de que estavam prestes a arrancar dele uma parte que não o permitiria respirar, afligia-o de uma forma tão assustadora que se sentia a poucos passos da insanidade. Essa que lhe sussurrava gradualmente num tom cada vez mais alto que existia somente uma maneira de impedir aquela perda irremediável.

Tinha que os eliminar.

Matar ou ser morto.

No caso nem era ser morto que o preocupava e sim, o facto de ver outra pessoa morrer por sua culpa. Sobretudo se essa pessoa fosse Levi.

Mataria qualquer um que atentasse contra a vida dele. Morrer por ele não lhe surgia como uma hipótese sombria ou injusta. Por alguma razão, aparentava ser nostálgica e a coisa certa a fazer. Questionava se isso teria algo a ver com o passado que ambos partilhavam. Aquele distante e perdido na memória da Humanidade.

Levi nunca tinha entrado em muitos detalhes sobre o que lhe teria acontecido, mas deduziu que tivesse morrido primeiro do que ele, pois sempre falava com culpa e remorso da lembrança de o ter perdido.

Se assim fosse, quem sabe fosse algo cíclico. Algo predestinado.

Se tivesse renascido nesta vida diferente e distante, apenas com o intuito de responder à pergunta:

Destinos EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora