Cíclico? (Parte 1)

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Novamente fechada no quarto. Nada de novo vendo dessa perspetiva.

O sol brilhava no exterior e em outras ocasiões, ter-se-ia deprimido. Pensaria como queria aproveitar aquele bom tempo fora daquela casa. Numa praia ou numa esplanada. Mesmo que tivesse que levar uma peruca diferente, os óculos de sol e umas roupas o mais discretas possíveis. Pequenos momentos de liberdade eram preciosos.

No entanto, deitada numa rede numa das varandas, não encontrava a mesma atmosfera deprimente de outros tempos. Isso talvez fosse porque ao contrário do que acontecia habitualmente, desta vez estava fechada em casa porque desobedeceu e não porque seguia tudo a risca. Não tentou sequer desculpar-se, como antes o fazia.

Usualmente, isso faria com que se preocupasse.

Durante anos, temeu a reação da mãe face a qualquer desobediência, pois de facto a mulher possuía poder suficiente para acabar com a sua carreira. Porém, esse medo começou a perder força quando desafiou pela primeira vez e viu que não era a única com algo a perder. Ambas perderiam e se a mãe estava hesitante, então aproveitaria até onde pudesse. A ideia de perder a carreira não a assustava tanto como antes, sobretudo se significasse que podia ter certas liberdades de volta.

– Muito relaxada para quem está mais uma vez de castigo.

Afastou os óculos de sol e viu na varanda do lado da sua, o colega da banda que costumava acompanhá-la. Jonathan apoiava-se com os cotovelos no parapeito, observando-a. Cabelos ruivos, olhos castanhos e segundo ela, com o péssimo costume de andar sempre em tronco nu à mínima oportunidade.

– Se vou ficar de castigo que seja porque quero.

– A tua mãe exagera um pouco. Só trocaste o repertório outra vez. – Lembrou. – Aquela do vestido da estilista foi pior... – Sorriu de lado. – Ou melhor, depende da perspetiva.

Os dois riram.

– Se a minha mãe sabe que estás do meu lado, passas a ser uma ovelha negra também.

O baterista encolheu os ombros.

– Não me importo. Sempre tive uma tendência para ser uma ovelha negra. – Brincou. – O que me surpreendeu foi a tua mudança. Sabes que ainda continuo curioso por conhecer esse tal Eren.

– Também queria visitá-lo, mas não tenho qualquer tour para aqueles lados por algum tempo. – Suspirou.

– Tens dinheiro e estás tecnicamente de "férias" nas próximas semanas.

– És uma péssima influência. – Disse, abanando a cabeça.

– Espero bem que sim. – Sorriu. – O que dizes um saltinho a Portugal?

– Queres vir? Vais ficar definitivamente marcado como uma ovelha negra pela minha mãe.

– Estou curioso. Tens mantido a tua mãe ocupada com os teus "escândalos". – Fez o gesto das aspas com as mãos. – Disseste-me que quanto mais tempo estiver preocupada contigo, menos tempo terá para se lembrar dele. Pelo que percebi, ela queria trazê-lo para a Utopia e tens andado a empatá-la este tempo todo com o teu novo comportamento.

– Tens sido um bom cúmplice, se é que te estás a esquecer desse pormenor.

– Não e é por isso que gostava de conhecer. O que me dizes? Fazemos a tua mãe arrancar mais alguns cabelos?

Lya riu.

– Vou pensar, mas entretanto, veste uma camisa, por favor.

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