Ligações

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A sala estava mergulhada em silêncio, apenas entrecortado com o som das folhas ou dos lápis ou canetas que riscavam as folhas de rascunho. O professor tinha insistindo que deviam usar a folha de teste, somente quando fossem passar a versão final dos cálculos e assim riscar à vontade e sem preocupações a folha de rascunho. Avisou que não só as contas, como os respetivos resultados deveriam ser legíveis e ter um mínimo de apresentação que não incluísse ele ter que tentar descodificar o que estava lá escrito. Tal como em outras ocasiões, advertiu que não aceitaria qualquer "troca de impressões" entre alunos e que qualquer suspeita de partilha de informações acabaria com uma nota negativa para os envolvidos.

Essas dicas acabaram por originar uma sala bem silenciosa e viu com satisfação que todos estavam concentrados nas folhas à sua frente. Ao fim dos primeiros quarenta minutos, viu o primeiro sinal de que havia alguém mais nervoso do que o esperado. Uma aluna que à medida que escrevia na folha, deixava cair uma ou outra lágrima.

O professor levantou-se da secretária e caminhou entre as mesas. Nenhum dos alunos sequer desviava os olhos das folhas, pois ele já tinha feito isso pelo menos duas vezes, apenas para confirmar que todos estavam a resolver os exercícios.

Parou ao lado da adolescente de cabelos curtos e castanhos, abaixando-se ligeiramente para murmurar e não atrapalhar os outros colegas.

– Qual é o problema, Daniela?

– Juro que estudei... juro que estou a fazer o meu melhor, mas... – A voz quebrou e seguiram-se mais lágrimas.

Alguns dos colegas aperceberam-se da situação e tentaram perceber o que se passava, mas o olhar que receberam do professor foi o suficiente para se encolherem e voltarem a sua atenção para o teste.

Observou a folha de rascunho, onde estavam as contas e viu que o problema não era a falta de estudo e sim, a falta de confiança naquilo que estava a fazer. Não era a primeira vez que encontrava algum dos seus alunos a fazer a coisa certa, mas sem qualquer certeza disso, pois estavam habituados a errar e a ser apontados pelos professores por causa disso. Pelo que tinha percebido, o professor de matemática que se encontrava de baixa, tinha algum gosto em dizer que os casos perdidos seriam para sempre isso mesmo: casos perdidos. Retirou a muito dos alunos não só o gosto por uma disciplina complicada, como também os fez acreditar que não eram capazes de aprender.

Pegou na caneta e pôs um visto em seis dos exercícios e num sublinhou uma parte da equação.

– Sugiro que dês mais atenção a esta parte da equação, mas o resto está correto.

A surpresa espelhou-se nos olhos da aluna.

– Estão certas?

– Claro que estão. Esforçaste-te bastante, assim como o resto dos teus colegas. O esforço está a dar resultado por isso, limpa as lágrimas e continua o bom trabalho. Não há razão nenhuma para ficares assim.

– Obrigada, professor.

– Concentra-te e... – Ao afastar-se da mesa, falou mais alto para todos. – Não há nada, absolutamente nada neste teste que não tenhamos feito durante as aulas e como mostraram um bom desempenho nas aulas, não vejo porque neste teste seria diferente.

Nessa sexta, esteve ocupado sobretudo com os testes de matemática e por isso, teve que dividir algumas aulas com outros colegas que assumiram o seu lugar nas aulas de Português ou História, onde se surpreenderam como os próprios alunos já sabiam o que teriam que fazer naquela aula. Tudo era planeado atempadamente e os alunos já pareciam habituados a um ritmo de aula que apanhou desprevenidos alguns dos colegas que acabaram por encontrar respostas a algumas dúvidas nos apontamentos meticulosos deixados por Levi. Este que à hora do almoço, saiu da escola e foi almoçar fora com Nanaba que o esperava num restaurante próximo.

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