Passado manchado

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– Surpreendido? – Indagou o professor ao ver o olhar perplexo de Eren que acabava de provar a refeição preparada pelo primeiro.

– Há alguma coisa que não consigas fazer, além da falta de socialização? – Perguntou, continuando a comer.

– Não sei fazer tudo, mas viver sozinho obriga-nos a aprender determinadas coisas.

– À frente do fogão só me safo em meia dúzia de coisas. – Confessou. – Tudo simples para uma sobrevivência básica. – Levou mais uma vez o garfo à boca. – Isto está mesmo muito bom. – Sorriu. – Não me importava que cozinhasses assim todos os dias para mim.

Tch, vai sonhando, Jaeger. – Comentou e Eren riu.

Sabia que Levi estava irritado com alguma coisa quando resolvia tratá-lo pelo apelido. Fora isso, agora procurava chamá-lo sempre pelo primeiro nome. Isso era algo que deixava o jovem de olhos verdes com um sorriso estampado no rosto, sempre que ouvia o nome dele sair dos mesmos lábios que o tinham marcado no pescoço.

Ele ainda mal queria acreditar que estava na casa do professor, a almoçar com ele à mesa sem ninguém para os atrapalhar. Eren queria saborear cada momento. Dentro dele, algo lhe dizia que momentos como aquele eram ansiados há muito tempo. Como se um desejo longínquo e intenso finalmente, se tornasse realidade.

Depois da refeição, o rapaz quis ajudar a lavar a loiça, mas depressa concluiu que os padrões de limpeza por ali eram demasiado elevados. Descobriu que existia uma técnica para limpar perfeitamente a loiça e como não queria discutir sobre isso, ajudou somente a tirar a mesa e depois manteve-se encostado à mesa.

Não obstante a atmosfera leve e agradável, Levi sabia que precisava de falar sobre duas coisas em concreto. Optou por começar pela mais relevante no momento e assim que terminou de secar as mãos, voltou-se para o rapaz que lhe sorria.

– Eren precisamos falar sobre como vão ser as coisas daqui para a frente.

– Como assim?

Levi cruzou os braços, mantendo um ar sério sem deixar de olhar para Eren que agora estava um pouco ansioso.

– Ainda és menor de idade.

– Por poucos meses. – Lembrou-o o rapaz, não gostando do rumo da conversa.

– Sou teu professor, Eren. – Frisou. – Essas duas coisas podem causar-nos problemas se não tivermos cuidado. Não estou a dizer para te afastares de mim e muito menos que vou ignorar-te. Só que temos que ser discretos pelo menos, até estares fora da escola. – Começou por dizer. – Isso significa que na escola ou em locais públicos onde possamos encontrar conhecidos, é melhor que mantenhamos apenas o papel de aluno e professor. Quando estivermos sozinhos como é este o caso, não me importo que me trates por Levi e sem formalidades.

– Queres basicamente que escondamos tudo. Já disse e repito que a opinião alheia não me interessa. – Retrucou o rapaz.

– Por muito compreensivo que o Irvin seja, ele destacou perfeitamente as regras que existem naquela escola. O relacionamento com alunos é estritamente proibido. Posso ser expulso e acabar na cadeia. Não é dramatismo, Eren. É a lei. É a regra que existe e que também te pode transferir para outro lugar qualquer. – Explicou e ao ver que o jovem de olhos verdes ia replicar, prosseguiu. – Não tenho gosto algum em cumprir algo assim, até porque é como já me disseste, não estás assim tão longe de atingir os dezoito anos. Mas são as regras e é com elas que teremos que lidar durante os próximos meses.

"Queria rebater aquilo tudo e dizer que continuo a não ver razão para escondermos as coisas. Só que infelizmente, ele tinha razão. Se eram as regras e além de prejudicar-nos, iria até afastar-nos... não podia correr esse risco. Teria que mentalizar-me que seriam só mais alguns meses", pensava o rapaz quando notou que o professor avançara na sua direção.

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