Memórias e Sentimentos (3º Parte)

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Como ainda estava fragilizado, Levi não conseguiu regressar ao quarto pelo próprio pé. O seu último esforço tinha sido sair da cama ao escutar o moreno falar na despedida que tinha lido na carta e portanto, soube que se não falasse e não fosse ao seu encontro naquele momento, podia não ter outra oportunidade.

Em resposta, não esperava que ouvisse o rapaz desculpar-se tantas vezes, mas ouvi-lo dizer que prometia que não ia deixá-lo sozinho, permitiu que se acalmasse. Aliás, não era capaz de compreender como aquelas palavras trouxeram muito mais do que um alívio.

Eren percebeu que o professor ainda estava bastante debilitado, quando notou que ele apoiava quase completamente o corpo nele e por isso, sugeriu levá-lo de volta ao quarto. Não houve qualquer reclamação de Levi que só nesse momento, recordou que não estavam apenas os dois, mas que havia bastantes rostos conhecidos a observá-los. Para evitar o desconforto de ser o centro das atenções, fez um gesto que foi classificado por várias vozes femininas como "fofo"; encostou o rosto ao peito de Eren, ocultando-o.

Assim que foi colocado na cama, ouviu também os pais entrarem enquanto trocavam algumas palavras com uma enfermeira, mas o professor não conseguia desviar a atenção do moreno que lhe sorria e puxava os lençóis para acomodá-lo.

– Amanhã, eu...

– Vais embora? – Interrompeu, agarrando a mão do rapaz que ajeitava os lençóis e ao aperceber-se desse gesto, desviou o olhar, mas não retirou a mão. – Desculpa, mas...é que... eu... se tiveres mesmo que ir, eu...

Sem afastar a mão, Eren usou a outra mão livre para puxar o cadeirão e sorrindo disse:

– Vou passar a noite aqui. Eu só ia deixar-te descansar, mas se queres que fique, eu fico.

– Obrigado... – Murmurou.

O rapaz manteve o sorriso no rosto e acariciou a mão que ainda segurava a dele, usando o polegar num toque suave, mas viu como arrepiava a pele do outro. O professor manteve o rosto virado para o lado oposto por um bom tempo provavelmente tentando ocultar o rubor que sentia no rosto.

Porém, o tempo acabou por mostrar que não resistia à tentação de olhar para Eren que entretanto tinha adormecido, mas nem por isso tinha deixado de segurar na mão dele.

Isso recordou-o da primeira vez que acordou.

Ele tinha sido a primeira pessoa que viu. A primeira também que ouviu no meio de toda aquela escuridão e silêncio e no entanto, assim que teve a oportunidade de falar com ele, mandou-o embora. Se pudesse dizer o quanto se arrependia disso, pois desde que acordou, nem mesmo com os amigos ou família por perto, se sentiu como se sentia naquele momento. Não estava sozinho. Nunca esteve. Ele nunca o deixou e só não esteve por perto antes porque não quis, não permitiu que estivesse.

O toque dele era tão familiar e entendia um pouco melhor o porquê de notar um cheiro peculiar nos presentes que recebia. Como se houvesse algum perfume que pertencia a outra pessoa que não a sua família ou amigos. Questionou-se várias vezes como podia notar uma coisa dessas, mas agora sabia a quem pertencia.

Quando esteve perto dele, nos braços dele, também procurou encostar o rosto a ele para poder confirmar que de facto, reconhecia bem mais do que a voz.

Essas coisas fizeram-no recordar uma conversa que teve com a Hanji nesse dia em que insistiu para que visse o concerto ao fim do dia. Ela disse que tinha lido um livro que falava em diversos tipos de memória e uma das conceções sempre pareceu muito romântica e quem sabe, fosse real no dele caso. Existiam dois tipos de memória, a da mente e a do corpo. As duas estavam ligadas de um modo tão profundo que nunca poderiam ser separadas por completo. Consequentemente, se as memórias da mente se perdessem, o corpo ajudaria a recordar através do toque, de gestos instintivos, etc.

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