Primeira aproximação

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Para noventa e nove por cento da turma foi com surpresa que viram o professor Levi escrever um e-mail no quadro. Um que usariam para tirar dúvidas, receber alguns apontamentos adicionais ou até para tentar justificar alguma falta ou atraso. O único que não se mostrava totalmente surpreendido e até satisfeito era Armin. Sabia que aquele professor era diferente e queria melhorar a sua postura. Isso significava mudar alguma coisa. Aquilo que Levi durante muito tempo acreditou não ser necessário: estabelecer algum elo de ligação com os alunos.

Contudo, teve que dar o braço a torcer quando recebeu os dois primeiros e-mails de alunos que nas suas aulas mal o olhavam nos olhos. Respondeu tão rápido como possível, tentando ser claro, conciso e dar-lhes outros locais para procurar mais informações. Normalmente interessavam-se mais se houvesse algo que não se centrasse apenas na leitura, mas também em ficheiros audiovisuais. Seguiram-se outros alunos que depois de ver a atitude desses dois colegas, também decidiram expor dúvidas. Levi tinha que admitir que a aula tinha outra fluidez e embora, continuassem demasiado rígidos nas aulas e a tremer cada vez que eram chamados a responder, já havia quem no final da aula se aproximasse para trocar algumas palavras. Nem que a palavra fosse "obrigado" e era uma referência quase silenciosa a coisas que o professor teria escrito na noite anterior em resposta a algum contacto.

– Está aqui o livro que me pediste, Armin. – Levi entregou ao rapaz loiro que sorriu abertamente.

– Muito obrigado! Devolvo-o, mal acabe de ler! – Respondeu quase emocionado.

– Não precisas de ter pressa. – Arrumou as coisas na pasta e ao virar-se, viu Eren que passou mesmo à sua frente, lançando-lhe o mesmo olhar de desdém dos últimos dias.

"Alguém precisa de dar a este miúdo um pingo de educação", pensava Levi ao vê-lo sair, desta vez mais relaxado na companhia de Armin e Mikasa.

Preocupar-se com a organização das aulas de História e Português, assim como responder aos e-mails dos alunos, retirava tempo livre ao professor. Porém, este achava que esse era o método mais efetivo para não ser atacado pelas insónias. Trabalhava até à exaustão para poder escapar aos pesadelos que lhe traziam dia após dia, aquele mesmo par de olhos verdes que brilhavam intensamente na sua direção. Algumas vezes com aquele mesmo ar enfurecido que via todos os dias na escola. Outras vezes aqueles olhos decididos, mas sobretudo aqueles últimos momentos que o despedaçavam. Aqueles que sabiam que a sua vida estava por um fio e ornamentavam-se com sangue.

– Quem diria em poucos dias de Hitler estás a passar a ser admirado pelos alunos pela tua dedicação e adesão à comunicação virtual. – Comentou Hanji, pousando os seus braços sobre os ombros de Levi que acabava de ler uma composição de Português.

– Tira as patas, Hanji. – Grunhiu o professor, esperando que isso fosse o suficiente para que a sua colega parasse de se apoiar nele.

– A única coisa que parece mal resolvida é a tua relação tempestuosa com o Eren.

Bastava tocar nesse nome e a concentração do professor ia pelo cano abaixo. Ele odiava-se por permitir que algo assim acontecesse.

– Por favor, vamos falar de outra coisa. – Pediu Petra, a professora de Inglês que tinha a cabeça deitada sobre a mesa, onde estavam alguns testes.

– A tua saia não teve salvação? – Quis saber Hanji.

– Era tinta permanente. – Disse com um tom desanimado. – Era uma das minhas saias favoritas, mas penso que pior do que isso é só a vergonha de ter que estar com uma saia branca com uma enorme mancha negra durante uma aula inteira!

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