Armin não podia pedir melhor. Desde de abrir a porta sempre que ele ia entrar no carro, até à caixa de chocolates que Jean comprou sem qualquer razão em especial, sentia-se afortunado por ter alguém que o tratasse assim. Mais do que nunca, precisava daquele tipo de carinho e atenção, pois a qualquer instante, podia ver-se invadido pela vontade de enrolar-se debaixo dos lençóis e chorar por ter perdido a única família de sangue que ainda lhe restava.
Nem sempre era fácil ser forte. Seguir em frente quando chegava a casa e esperava ver o avô para contar como foi o dia ou então, escutar a quantidade infinita de histórias que o Sr. Arlert contava. A memória dele sempre tinha sido uma característica invejável, pois sabia imensos contos na ponta da língua.
Agora, não teria mais esses contos antes de dormir, as conversas ao jantar ou simplesmente as discussões sobre algum tema que fosse apaixonante para ambos.
Os momentos na sala com Eren, Mikasa e o seu avô a jogar cartas ou algum jogo de tabuleiro também não iriam voltar. Tal como aquelas noites em que o melhor amigo cantava acompanhado por uma velha guitarra, oferecida pelo seu avô. Por vezes, cantavam todos juntos, outras apenas se deliciavam por algumas horas escutando os acordes, a voz afinada e dedicada a fazer todos os presentes esquecerem o mundo lá fora.
Esses momentos faziam parte do passado e lá permaneceriam.
Vendo dessa perspetiva, passar aqueles dias na casa do professor Levi tinha sido uma situação inesperada, mas preferível. Assim escapava à nostalgia que cada divisão daquela casa guardava. Por enquanto, essa era a melhor terapia do momento, ainda que soubesse que teria que regressar na próxima semana e ser forte não só por ele, mas também pela Mikasa e acima de tudo, pelo Eren a quem não queria ver tão perdido e culpado pelo que tinha acontecido.
Olhou para o seu lado e encontrou mais um sorriso de Jean que falava com entusiasmo do lugar, onde o ia levar. Tratava-se de um restaurante bastante cobiçado pelos seus pratos exóticos e ambiente à base de uma iluminação fraca, incensos e velas que se espalhavam pelo local.
– Não será um pouco caro? – Indagou Armin, curioso ao sair do carro e ver que as pessoas que acabavam de chegar, ostentavam roupas quase de gala.
– Mereces isto e muito mais. – Foi a resposta que obteve.
Se mesmo antes de entrar, estava demasiado consciente acerca da roupa que levava, no interior tornou-se tudo mais evidente. As calças pretas eram as melhores que tinha, mas escapavam ao estilo clássico e de novo. Armin só tinha mesmo a camisa oferecida por Catherine, a qual ele combinou com um pequeno colete preto com botões cinza.
– Menos mal que tenho esta roupa que a mãe do professor Levi comprou porque senão acho que estariam todos a olhar para mim.
– Já disse que podemos ir comprar qualquer coisa para ti, sempre que quiseres.
– Não devias gastar o teu dinheiro assim. – Falou o rapaz loiro. – Sobretudo quando tens trabalhos cansativos para manter conseguir o que queres.
– É... tens razão. – Deixou escapar um sorriso amarelo.
Somente o trabalho como segurança à noite não explicaria tudo, portanto acabou por cair na tentação de mais uma mentira. Contou que trabalhava também num call center e recebia comissões pelas vendas que conseguia fazer. Essas e outras pequenas mentiras para não se poderem encontrar algumas vezes, eram coisas cada vez mais habituais e ainda assim, cada vez mais difíceis de contar sempre que recebia um sorriso sincero do outro lado. Esse quando se fazia acompanhar de palavras de ânimo e conforto pelo esforço que fazia, só acentuava os sentimentos de culpa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Destinos Entrelaçados
FanfictionUniverso alternativo (Reencarnação) - Onde Levi é um professor que acaba de chegar a uma nova escola, atormentado por sonhos/lembranças de uma vida que o próprio não acredita ter vivido. Contudo, começa a questionar-se sobre a sua sanidade quando en...