Destinos Entrelaçados

Fica comigo

O funeral realizou-se dois dias antes do início das aulas. Mais do que amigos dos três adolescentes, vários conhecidos e pessoas que tinham sido conquistados pela amabilidade do Sr. Arlert vieram prestar as suas condolências. Entre essas pessoas também estavam os pais de Levi que tiraram alguns dias para passar não só com o filho, mas com os três jovens por quem tinham um carinho especial.

No entanto, somente Mikasa e Armin pareciam mais recetivos às palavras de consolo. Já Eren permanecia extremamente silencioso e ausente, recusando-se responder a quem quer que fosse. As poucas palavras que escutaram dele eram apenas dirigidas à irmã e ao melhor amigo, ainda que não passassem de monossílabos perdidos. Isso não tranquilizava ninguém, até porque à exceção de outros amigos ou conhecidos, só Mikasa e Armin já o tinham visto assim e sabiam que tipo de pensamentos devia estar a passar na cabeça dele. Portanto, tentavam mantê-lo sempre debaixo de olho, não fosse ele procurar o suposto culpado ou optar por descarregar a culpa em si mesmo. Não que eles alguma vez tivessem presenciado alguma tentativa dele em terminar com a própria vida, mas nunca se esqueceriam da primeira vez que o Sr. Arlert numa madrugada de inverno chegou a casa ao lado de Eren. Mal entraram, o senhor com uma expressão triste, abraçou o rapaz e chorou.

Mesmo sem nunca terem sabido ao certo o que aconteceu, a dor presente naquelas lágrimas e no olhar perdido e vazio de Eren que não se desculpou logo naquela noite, eram coisas evidentes. Este deixou que passassem alguns dias até reconhecer que o quer que tivesse feito, tinha passado dos limites a ponto de transtornar a pessoa que tinha escolhido acolhê-lo.

No fim da cerimónia fúnebre, Eren foi o primeiro a sair e logo atrás dele, foi a irmã que trocou um olhar desassossegado com Armin que somente assentiu como se num gesto silencioso, pedisse que não o deixasse sozinho. Com passos apressados alcançou o rapaz de olhos verdes que não disse uma só palavra quando Mikasa simplesmente caminhou ao seu lado. Ela deduziu que seria melhor não dizer nada e que manter-se ao seu lado seria suficiente.

Os dois regressaram a pé a casa. Já Levi decidiu dar boleia a Armin que recusou o convite de Jean em levá-lo, pois este último pretendia levá-lo para o seu apartamento. Porém, o loiro sabia que naquele momento, o seu lugar era ao lado da família que lhe restava e não em casa do namorado. Sobretudo quando pensava no estado depressivo e angustiantemente silencioso em que Eren se encontrava.

Sabia que ainda se devia culpar pelo que tinha acontecido, mas em instante algum, pensou que aquilo tivesse alguma razão. Jamais seria capaz de ter algum sentimento negativo por aquele que naquele orfanato cinzento repleto de razões para ser infeliz, sempre lhe sorriu e protegeu. Eren e Mikasa sempre disseram que não se valorizava o suficiente e quando se tornou mais consciente disso, sentiu que tinha mais uma dívida impagável com os dois.

"Se o Eren conseguisse ver quem é e valorizar-se por isso, em vez de encontrar as mais diversas razões para se odiar... Além disso, preocupa-me o que aquele homem lhe possa fazer. Ele não me contou o que aconteceu, mas o que a Annie me disse é no mínimo preocupante".

– Achas que foram para casa? – Perguntou Levi ao ver Armin com a cabeça encostada no vidro com um ar bastante distraído. A questão e início de conversa inesperado fizeram-no olhar para o professor.

– Sim, a Mikasa já teria dito qualquer coisa senão tivessem ido. – Confirmou o jovem de olhos azuis. – Está preocupado com o Eren, não é?

– Não deveria? – Indagou Levi, parando em mais um sinal vermelho. – É no mínimo perturbador vê-lo tão apagado e depois... das coisas que o ouvi dizer no hospital...

– O Eren sempre se faz de forte e também faz de tudo pelos amigos, mas esquece-se dele. Esquece-se que também deveria deixar alguém ajudá-lo. – Suspirou. – Sempre foi assim uma cabeça dura. O professor já deve saber disso e também deve imaginar que a razão para que não só o senhor, mas também eu e a Mikasa estejamos preocupados é porque também já o vimos assim antes.