Penumbra

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– O teu telemóvel está a tocar, Levi. – Avisou Hanji enquanto o professor acabava de limpar a cozinha.

– É o Eren? – Perguntou, retirando as luvas das mãos.

A amiga espreitou para ver o ecrã e disse:

– Mikasa.

– Mikasa? – Repetiu o homem de cabelos negros, saindo da cozinha e veio até à sala, onde a amiga lhe entregou o aparelho para que pudesse atender a chamada. – Mikasa, aconteceu alguma coisa?

– O Eren está contigo?

– Não. – Respondeu, não gostando nem um pouco do problema que aquela pergunta deixava no ar. – Não está em casa? – Olhou para o relógio. – A esta hora não devia estar a caminho de casa com os amigos?

– O Reiner e o Bertholdt iam buscá-lo como sempre, mas a Christa avisou que ele saiu mais cedo. Pensei que entretanto estivesse em casa... eu estava com a Annie e tentámos ligar pra ele, mas nada. Viemos para casa e só estava o Armin e nem sinal dele. Eu sei que às vezes, ele gosta de ficar sozinho e ir a pé para casa, mas pensei que depois do que aconteceu com o Jean... eu pensei que estivesse contigo, que o tivesses ido buscar.

– Não, eu... vou tentar ligar-lhe e assim que souber alguma coisa aviso.

– Se entretanto eu também souber de alguma coisa, aviso. Obrigado.

Os dois terminaram a chamada.

– Aconteceu alguma coisa com o Eren?

– Ainda não chegou a casa e nem sabem onde está. – Respondeu, encontrando o número do rapaz e pedindo em silêncio que atendesse.

Tocou uma. Duas, três vezes. Muitas vezes até chegar à caixa de correio. Repetiu o gesto mais duas vezes, antes de avisar Hanji que precisava sair para procurar o jovem de olhos verdes. A amiga quis acompanhá-lo, mas conseguiu convencê-la do contrário.

"Que esteja tudo bem. Que só tenha tido mais um momento de irresponsabilidade e tenha ido caminhar para algum sítio, mas que nada tenha acontecido...", pedia enquanto ia no elevador e tentava pensar por onde devia começar a procurar.

*_*_*_*_*_*_*

– Tenho direito a uma chamada! – Repetia Eren mais uma vez com as mãos nas barras de uma cela que partilhava com mais um preso que ignorava por completo todo o ruído e mantinha-se deitado na cama de costas para Eren.

Depois de chegar à esquadra, levaram-no diretamente para a cela sem querer escutar nada do que tinha para dizer. Retiraram as algemas e empurraram-no para o interior daquele espaço pequeno, mal iluminado e com um cheiro nauseante de quem fazia as necessidades e não puxava o autoclismo.

Chamou várias vezes pelos guardas, exigindo a chamada a que tinha direito. Por vezes ouvia um dos guardas rir e um deles chegou a avisá-lo que não devia aborrecer o companheiro com quem dividia aquele espaço.

A certa altura, cansou-se de chamar pelos guardas. Eles claramente não tinham qualquer intenção de ajudá-lo e por isso, restava-lhe esperar que alguém desse pela sua falta. Sabia que Mikasa seria a primeira a reparar, assim que descobrisse que não tinha ido para casa com a boleia de Reiner e Bertholdt. Mas será que até ela imaginaria que algo assim podia ter acontecido? Algo lhe dizia que era um pensamento muito rebuscado a que tão cedo nenhum dos amigos descobriria o que tinha acontecido...a menos que optassem por ir denunciar o seu desaparecimento na esquadra e nesse caso saberiam da verdade.

Aguardou que a qualquer momento, alguém aparecesse e o despertasse daquele pesadelo. Ouvia as vozes dos polícias. Queriam acusá-lo de coisas terríveis, coisas que não tinha feito, coisas que se não conseguisse desmentir o deixariam atrás daquelas grades.

Destinos EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora