Cada peça no seu lugar

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De braços cruzados e uma expressão nada impressionada acabava de escutar algumas desculpas esfarrapadas sobre o porquê de um confronto em plena sala durante uma aula de Química. De vozes exaltadas e respostas ríspidas dirigidas aos funcionários que conduziram os dois adolescentes à sala onde se encontravam, passaram a gaguejar e ter pouca ou nenhuma coragem de sequer olhar para os olhos cinzentos que tinham à sua frente.

Ao fim de um silêncio que os dois rapazes consideravam cada vez mais assustador, o homem de cabelos negros descruzou os braços e bateu com o dedo indicador sobre a mesa, utilizando a mão onde reluzia pelo reflexo do sol, uma aliança de ouro.

– Mais uma cena destas e eu penduro os dois pelas bolas numa destas janelas, entendido?

– Sim, senhor! – Responderam em uníssono.

– Vão pedir desculpas à professora de Química pela atitude desrespeitosa, também aos vossos colegas pela triste interrupção e evidentemente à funcionária que vos trouxe, dado que também é do meu conhecimento que lhe faltaram ao respeito. – Falou, mantendo o olhar fixo nos dois jovens. – Além disso, durante duas semanas vão ficar aqui depois das aulas a ajudar nas limpezas. É isso ou eu vou pessoalmente torturá-los no ginásio e fazer com que transpirem tanto até que seja possível limpar o chão do pavilhão com o vosso suor. Entendido?

– Sim, senhor!

Ouviram-se duas batidas na porta.

– Professor Jaeger?

– Entre. – Respondeu e uma mulher de baixa estatura, cabelos castanhos presos numa trança sorriu ao entrar, escondendo uma mão atrás das costas.

– Com licença. – Falou. – Estou a ver que acalmou os dois. – Comentou ao ver que os dois adolescentes nem se atreviam a dizer uma só palavra. – Vim informar que o diretor Irvin quer falar consigo.

– Estão dispensados os dois. – Disse, fazendo um gesto para que os alunos saíssem da sala. – Vou dar indicações à Sra. Lurdes para vos acompanhar nas limpezas depois.

– Sim, senhor. – Murmuraram.

A funcionária observou divertida como os dois alunos pareciam transformados completamente em pessoas diferentes.

– Vou ter companhia nas limpezas?

– Sim, acho que preferem isso do que limpar o chão do pavilhão com o suor deles. – Comentou, levantando-se da cadeira e ouviu a senhora rir.

– Sempre bem-humorado.

– Os pirralhos têm o dom de chamar pelo melhor que há em mim. – Olhou curioso para a mulher. – Há mais algum recado ou algo que tenha aí atrás das costas?

O sorriso aumentou e mostrou uma rosa vermelha com mais um bilhete.

Tch, ele continua a fazer estas coisas...

– Oh professor Jaeger, isto é tão romântico. – Disse, aproximando-se da mesa para entregar a rosa e o respetivo bilhete.

– É embaraçoso. – Disse, desviando o olhar. – Mas enfim, de nada me serve argumentar e mais uma coisa. Diga Levi. Sempre que me chamam pelo apelido, fico a sensação que estão a falar de alguém diferente. – Ouviu a funcionária rir. – Tch, e pensar que concordei com isto...

Flashback

– Quando disse que ia ter uns dias de férias, não foi exatamente desta forma que pensei aproveitar o tempo. – Comentou o rapaz vendado e de braços cruzados, sentado no carro ao lado de Levi.

– Paciência é uma virtude.

– Estou há quantas horas aqui dentro com esta venda nos olhos?

Destinos EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora